«Quando um jogador chega ao FC Porto e beija o símbolo, para mim é tudo tanga»

A ligação ao FC Porto é muito forte e o próprio não a esconde. Formado no Olival, Rui Pedro foi apontado por muitos como a próxima grande estrela a afirmar-se de dragão ao peito, mas tal acabou por (ainda) não acontecer.

Rui Pedro FC Porto Total

13 Jogos  238 Minutos

2

1

0

0

2x

ver mais »

O avançado está agora na Eslovénia, mas não esquece os tempos em que vestiu a camisola do clube azul e branco.

Em entrevista ao zerozero, Rui Pedro deixa críticas à forma como os jogadores encaram a passagem pelo Dragão e faz juras de amor eterno ao clube onde esteve cerca de oito anos. 

• Leia também - Rui Pedro emigrou: «Os portugueses prejudicam-se a si próprios»

Rui Pedro depois de marcar frente ao SC Braga, no Estádio do Dragão ©Global Imagens / F‡bio Po�o

«Se me oferecessem contrato de 15 anos, ficava no FC Porto a minha vida toda»

zerozero (zz): Em 2020 deixaste o FC Porto em definitivo. Dois anos depois, como vês essa decisão?

Rui Pedro (RP): Teve de ser tomada. Foi falado por ambas as partes e chegámos à conclusão que tinha de ser. Se me perguntas se era o que eu queria? Claro que não era. O FC Porto é o meu clube. Quando eu disse que um dia queria voltar, quero mesmo, mas pela porta grande. Agora um jogador chega ao FC Porto, faz um golo e beija um símbolo, para mim é tudo tanga. Se sentissem realmente o clube, os jogadores não saíam e renovavam. Agora saem a custo zero ou não querem renovar e acabam por sair. Para mim isso não é o FC Porto, não é a mística do clube. O FC Porto mudou muito, o futebol mudou muito.

zz: Se te dessem essa oportunidade, ainda estavas no FC Porto?

RP: Se o mister Nuno tivesse ficado, as coisas tinham sido diferentes. Se me oferecessem um contrato de 15 anos, ficava no FC Porto a minha vida toda. Não tenho dúvida alguma. Um jogador agora quando é jovem pensa em triunfar e sair para ganhar muito dinheiro. O dinheiro é muito importante, mas eu acho que a estabilidade de um jogador é mais ainda. Estando no FC Porto, renovava 15 anos, sem dúvida.

zz: Focas muito o aspeto mental.

RP: Sim, acho que foi o clique. As pessoas olhavam para mim como um jogador com uma qualidade fora de série, mas nunca me espremiam ao máximo. Não acreditavam em mim na Primeira Liga, por exemplo. Não quero dizer que os treinadores têm culpa, atenção, mas com a confiança que tenho só penso em coisas altas. É o que quero para mim e para a minha família. Sempre tive uma mentalidade muito forte, mas a minha personalidade fez-me andar para trás. Sei que o meu feitio é difícil. Sou um jogador que gosta de ser acarinhado. Sou muito exigente também com os meus colegas e isso, em vez de beneficiar a equipa, tinha o efeito contrário. Sou novo, mas já ando nisto há muitos anos e agora que estou fora é que vejo como é difícil. Não sou muito saudoso, mas é muito complicado. 

zz: O teu grande objetivo é voltar ao FC Porto?

RP: Se eu fosse treinado pelo Sérgio, hoje em dia não tenho dúvidas que ficava comigo.

zz: Porque é que dizes isso?

RP: Na altura em que fui treinado por ele cometi alguns erros. Tinha 19 anos. Acho que a minha personalidade é muito parecida com a dele. Vivo muito as coisas. Falavam-me mal e eu respondia igual. Agora já não. Mas respondendo à pergunta, a minha cabeça agora está aqui. Se me perguntas se queria voltar... É a minha cidade, o meu clube, claro que voltava sem pensar duas vezes. Mas não quero dizer isto para as pessoas pensarem que quero propagar alguma mensagem e que estou a pedir ao FC Porto para me vir buscar. Não sou esse tipo de pessoa.

zz: Quando estiveste lá, trabalhaste com jogadores que estão a ganhar cada vez mais destaque. Permite-me perguntar-te sobre alguns. Diogo Costa: surpreende-te ser titular da seleção?

RP: É fácil falar sobre ele. Revejo-me muito na vida e no que é o Diogo. É uma pessoa muito humilde, muito simples e este Diogo que eu conheço é o Diogo que, se o FC Porto lhe oferecesse um contrato para renovar a vida toda, ele renovava.

zz: Era mesmo isso que te ia perguntar! Achas que podia ser um desses casos?

RP: É, claramente que é um desses casos. Sou suspeito, mas para mim já é um dos melhores guarda-redes do mundo. A titularidade na seleção só me surpreende por ter sido tão rápido, mas toda a gente sentia que o caminho era esse. Ele estava a ser projetado para isso, tal como eu e o Diogo Dalot. Sempre senti que ele ia ser isto que está a ser agora.

zz: Falaste-me no Dalot. Fez agora uma excelente exibição na seleção, é titular em Manchester. Vai ser a época dele?

RP: Ele já fez bons jogos no Milan, mas mais à esquerda. A posição dele é defesa direito e é diferenciado onde joga. Ele tinha uma grande paixão pelo Ronaldo e acredito que ainda lhe dá mais confiança. Ele sempre falou dele de uma forma muito apaixonante e hoje em dia está a jogar com ele. Deve estar muito orgulhoso de si próprio.

zz: Último nome: Diogo Jota. Faz a assistência para ti naquele golo contra o SC Braga...

RP: Ainda hoje não sei como é que ele me viu [risos].

zz: Grande visão, sem dúvida [risos]. Imaginavas que ele fosse atingir este patamar?

RP: Ele estava no FC Porto. O patamar é o máximo, na minha opinião.

zz: Sim, mas o percurso era diferente do habitual. Não vinha da formação do FC Porto, por exemplo.

RP: É verdade, mas chegou lá e impôs-se muito bem. Marcava, fazia assistências e dava muitas coisas à equipa. É uma força da natureza, fisicamente é muito forte e trabalha muito e bem.