Ispeaksempolemicas 26-04-2024, 14:07
A descentralização também passa por aqui. O Guarda Desportiva é uma das principais novidades na edição 2022/23 do Campeonato de Portugal, com esta participação do clube a permitir à cidade do Interior português terminar com uma longa ´seca` de ausência das divisões nacionais.
Durante duas décadas, nem o estatuto de capital de distrito valeu à cidade para conseguir esta representação, enquanto municípios vizinhos se aventuram fora do distrital. A necessidade de um projeto forte era grande e foi nesse sentido que o Guarda Desportiva tem trabalhado nos últimos anos.
Com capital estrangeiro, mas a intenção clara de unir o clube à população e entidades locais, o entusiasmo é grande a semanas do início da época oficial. Alexandre Chaves, coordenador geral dos guardenses, explicou ao zerozero a base do projeto e as dificuldades ainda sentidas para uma afirmação mais forte dentro da região.
Zerozero - O foco desta conversa é o Guarda Desportiva, mas, por curiosidade, como foi o teu percurso até assumires estas funções no clube?
Alexandre Chaves - Tenho um mestrado em gestão desportiva e vários anos como dirigente na zona Oeste do país. O Guarda Desportiva tinha feito primeiro o convite ao mister Pedro Duarte e, em diálogo com o presidente que procurava também um gestor desportivo, recomendou o meu nome. Analisaram um pouco o meu passado na AF Lisboa e apresentaram a proposta (...) A logística é difícil até porque não vivo na Guarda, mas tento estar o máximo presente.
ZZ - A cidade esteve ´adormecida` em relação ao futebol durante bastante tempo. É neste sentido que o projeto do Guarda Desportiva ganhou força?
AC - O clube completa 20 anos em 2023. Durante alguns esteve inativo, sem atividade desportiva. Há cerca de três/quatro anos a atividade foi retomada. Desde aí o trajeto tem sido sempre de subida nos distritais e recentemente a presidência mudou, com a chegada do Thiago Laurindo, que tem nacionalidade brasileira. Ele sentiu a necessidade de modernizar o clube com pessoas mais válidas e competentes. Acrescentar também elementos da cidade e procurar essa aproximação. Neste momento quase toda a estrutura está ligada à região.
ZZ - A aposta em jovens, até pela condicionante da localização da Guarda, é uma das grandes bases do projeto?
AC - Recentemente estabelecemos o objetivo de sermos um clube formador e apostar em jovens. Procuramos fixar estes atletas na cidade, que tem pouca densidade populacional. A nível financeiro e logístico é mais fácil convencer um jovem à mudança e a vir para esta cidade. Temos uma parceria com um clube local, o Guarda Unida, em que a nossa formação passa por este acordo. Os jovens não abundam e tivemos necessidade de fazer esta parceria. Os nossos departamentos de análise vão acompanhar esses atletas e alguns vão ter oportunidade de fazer parte dos nossos plantéis seniores.
ZZ - Ainda sentem alguma desconfiança da cidade em relação ao vosso projeto?
AC - Precisamos do apoio da autarquia, das pessoas e das empresas locais. Até agora temos utilizado fundos próprios. A Guarda estava algo adormecida em relação ao desporto. Tem sido um caminho difícil, mas parece que a cidade acordou e percebeu que vai ter uma equipa nos nacionais passados 20 anos [época 2002/03]. Já é mais fácil dialogar com uma empresa e podermos explicar o nosso projeto. A recetividade tem sido fantástica, mas ainda não temos resposta da autarquia. Estamos convictos que vão ser um parceiro forte nos nossos projetos.
ZZ - O nome do clube também ficou ligado a uma investigação do SEF no início do ano. Este caso impacto na reputação que estava a ser construída?
AC - Foi um caso relativo à anterior direção. O clube rapidamente enviou a documentação necessária e as acusações foram refutadas. Houve um grande mediatismo e aproveitamento de algo que resultou num processo arquivado. Infelizmente acabou por ter impacto na nossa reputação é importante explicar que tudo ficou resolvido, principalmente à comunidade. Neste momento estamos ilibados e o processo está encerrado.
ZZ - Na época passada existia grande presença de atletas estrangeiros no plantel. O cenário vai ser idêntico em 2022/23?
AC - Neste momento temos um número de estrangeiros mais baixo que o permitido pelo regulamento. Recentemente realizamos um estágio com atletas do distrito e fizemos promoção nas redes sociais. Dois jovens da Guarda mostraram valor e vão ficar connosco. Queremos dar oportunidade a todos e o nosso objetivo é mover aqui o desporto na região. A exigência aumenta com a subida de divisões e isso também tem que passar pela formação de atletas.
ZZ - Sentiram apoio das entidades organizativas neste processo de inscrição? Acredito que não tenha sido fácil.
AC - Temos que dar um grande elogio público à AF Guarda e ao presidente Amadeu Poço. O clube não tinha estrutura para cumprir com os requisitos e foi um mês bastante intenso para a nossa direção. Acabamos por conseguir fazer a inscrição em comunhão com a associação. Sobre a Federação Portuguesa de Futebol não há nada a dizer. Resposta sempre rápida a todas as nossas dúvidas e uma cooperação fabulosa. Todos perceberam a importância desta descentralização.
ZZ - Acabam por estar inseridos, talvez, na série mais forte da prova. Qual é o sentimento pela oportunidade de defrontar históricos como Leça, Salgueiros ou Beira-Mar?
AC - Estamos satisfeitos por estar numa série forte. Não temos a força de outros clubes, mas a ambição é grande. Agora que estamos cá vamos jogar contra estas fortes equipas. Se a cidade e a autarquia acordarem vamos ter uma competência diferente. Estamos a trabalhar forte e os jogadores estão empolgados, pois é um projeto novo e de futuro. O clube já é tema aqui nos cafés e as tardes de domingo vão voltar a ter agitação na cidade.