Stephen Eustáquio é um nome que já não é indiferente a nenhum adepto do futebol português. Aos 24 anos, o médio defensivo completou uma temporada em que brilhou intensamente no Paços de Ferreira, um verdadeiro monstro no meio campo de Pepa, mas conseguiu levar (e elevar) as exibições no panorama internacional.
Fê-lo ao serviço da seleção do Canadá, de forma apropriada e talvez poética, não fosse o castor o animal mais simbólico desse país, tal como do clube que representa.
Na sua primeira participação na Gold Cup, onde chegou com a inexperiência de apenas seis internacionalizações, o luso-descendente já leva três golos e uma assistência em três jogos, sempre em grande estilo: um remate colocado à entrada da grande área, um pontapé livre de cobrança exímia e um passe incrível. Falhou a derrota com os EUA por suspensão, mas foi fundamental nas três vitórias e na caminhada que já vai nas meias-finais.
Para marcar a ocasião, o zerozero optou por ir ao encontro das origens de Eustáquio. Não a Leamington, onde nasceu, mas sim a Torres Vedras, onde concluiu a formação e se estreou como profissional ainda em idade de júnior. Não foi o treinador que lhe deu a estreia, mas Rui Narciso foi um nome relevante na carreira do luso-canadiano que potenciou para um enorme salto, e agora partilha um pouco dessa história.
Rui Narciso chegou ao Torreense na reta final da temporada de 2015/16, apenas a tempo dos últimos três jogos da temporada. Eustáquio, então com 19 anos, estava lesionado e só jogou metade do segundo jogo e o último completo, mas esses minutos foram suficiente para contar com o jogador para a época seguinte, que seria o ano de explosão.
Tratava-se de uma equipa de objetivos reduzidos. O Torreense tinha obrigação de potenciar jogadores chineses, e mesmo nos portugueses apostava muito em jovens, mas mesmo assim conseguiu chegar aos oitavos da Taça de Portugal, eliminando algumas equipas de maior gabarito pelo caminho, e terminar em segundo lugar na Série F do CP, qualificando-se para a Fase de Subida. Quem operava no meio-campo? Eustáquio e outro nome que o leitor conhece...
«Era o Stephen como médio defensivo e depois dois oitos: um deles era o Tiago Esgaio, que agora chegou ao SC Braga, e o outro era o Linfeng também com 20 anos. O Stephen e o Esgaio eram quem, dentro da sua juventude, traziam a intensidade à equipa e resultou muito bem», contou.«Neste momento acho que o Eustáquio pode jogar num clube que tenha ambições de lutar por um título ou por uma competição europeia. Seja um SC Braga, um FC Porto, Sporting ou Benfica, acho que ele tem qualidade para isso», atirou. «Nós vemos o rendimento que outros jogadores nessas posições têm demonstrado e ele tem qualidade para se impor e ter o mesmo rendimento ou ainda superior».
Não é fácil apontar uma característica como decisiva num jogador que acaba de descrever como completo, mas o treinador de 43 anos que passou a última temporada no comando do Olímpico Montijo fê-lo sem revelar dificuldades:
A chegada a uma seleção, seja ela qual for, seria sempre uma surpresa para o treinador que o comandou no Campeonato de Portugal, mesmo que lhe reconhecesse todo o potencial do mundo: «Nessa altura era prematuro pensar nesses patamares, não acredito que ele estivesse com o foco de chegar à seleção do Canadá ou Portugal. Sei que ele gosta do Canadá, até porque na altura do Torreense ele até foi lá treinar à experiência com um clube, onde não ficou», revelou Rui Narciso.
No ponto! 🎯👌
𝘿𝙤𝙞𝙨 𝙟𝙤𝙜𝙤𝙨 na #GoldCup21, 𝙙𝙤𝙞𝙨 𝙜𝙤𝙡𝙤𝙨 de Stephen Eustaquio pelo Canadá 🇨🇦! Eis o de ontem, na vitória por 1-4 frente à seleção do Haiti.pic.twitter.com/1SnK5DxFa7
— FC Paços de Ferreira (@fcpf) July 16, 2021
«Nunca falei disso com ele, mas ele se calhar julgou que dificilmente chegaria à seleção A. Apesar dele gostar do Canadá, se calhar um dia ele vê-se a jogar num grande e se calhar até fica com alguma pena».
A verdade é, ainda assim, que Eustáquio optou por representar a seleção do Canadá. Se foi a decisão correta a nível desportivo? Difícil de dizer, mas quem o vê a brilhar tão intensamente como está a fazer na Gold Cup certamente não identifica nenhum tipo de arrependimento. Até de livre direto ele já marca (veja à direita)!
«Na altura do Torreense não era um jogador a quem eu confiasse o momento de bola parada. Na altura não mostrava a qualidade necessária para esse momento do jogo, mas até aí ele tem mostrado uma grande evolução».
Stephen Eustáquio volta a entrar em campo na madrugada de sexta-feira, pelas 3h00, para defrontar o México nas meias-finais da Gold Cup.