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    Entrevista a Miguel Cardoso

    Relançou-se cá, está lá, mas...: «Estou na idade certa para um bom campeonato, um bom clube»

    Miguel Cardoso
    Belenenses SAD
    2020/2021
    34 Jogos  2863 Minutos
    9   8   0   02x

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    Chama-se Miguel Cardoso, tem 27 anos e, no fim dos jogos do Belenenses SAD, foi um dos que habitualmente recebeu distinção de melhor em campo. A começar, como a acabar, encontrou no Jamor o espaço para voltar a ser feliz, com um Petit que tão bem conhece, e voltou agora para a Rússia, onde há mais um ano de contrato com o Dynamo para cumprir... se bem que tal não seja um dado adquirido.

    O jogador ligou-se ao zerozero para conversar sobre a época que acabou, a evolução nos azuis, o panorama do futebol português e sobretudo as perspetivas de carreira do avançado, que se mostrou confiante em voos altos.

    Disponibilizamos a conversa em vídeo (acima) e em texto (abaixo).

    ©Vítor Parente / Kapta+

    «O Petit tinha esse rótulo [de resultadista] e era injusto»

    zerozero: Depois de uma época muito boa no Belenenses SAD, é para ficar pela Rússia ou há portas abertas noutro lado?
    Miguel Cardoso:
    Estamos abertos a ver o que o futuro vai dar. Tenho contrato por mais uma época, apresentei-me e estou aqui na Rússia a treinar, pois é importante estar bem fisicamente. É importante explorar todas as opções para a próxima época, ver o que é melhor para mim e para o meu futuro.

    ZZ: Pelo que dizes, ficar aí ainda é uma opção. Sentes que tens algo a provar na Rússia?
    MC:
    Pelo contrário, acho que até tive uma primeira época muito produtiva no Dynamo. A segunda é que já não foi. Depois, no Belenenses SAD, consegui relançar a carreira, que era o grande objetivo. Não sinto que tenha de provar que mereço cá ficar, pois todos aqui sabem do meu valor, conhecem-me bem.

    ZZ: No Belenenses SAD, foste sempre opção e sempre referência. Em termos coletivos, foi uma equipa que superou as expectativas?
    MC:
    Para quem via de fora, sim. O Belenenses SAD não era visto como uma equipa que pudesse ficar nos 10 primeiros. É certo que tínhamos um plantel muito curto, com muitos jovens, mas tínhamos um balneário muito forte e que acreditava nas nossas capacidades. Claro que é mais fácil trabalhar sobre vitórias, conseguimos sempre manter alguma distância para a linha de água. O segredo foi o espírito que tínhamos dentro do balneário.

    ZZ: Muitas vezes, eram apelidados de uma equipa cínica e resultadista. No final, viu-se um Belenenses SAD cada vez mais vistoso e atrativo. Sentiram isso? Porque é que aconteceu?
    MC:
    Acho que tem tudo a ver com as diferentes fases da época. Quanto mais nos aproximamos do final, e com a manutenção praticamente garantida, a equipa conseguiu soltar-se um pouco mais. As coisas acabaram por fluir.

    ZZ: De forma mais concreta, o treinador Petit teve durante muitos anos o rótulo de resultadista e de treinador da salvação. Sentiram também nele a evolução?
    MC:
    Eu já o conhecia de Tondela, aliás, essa foi uma das razões para eu ter ido para o Belenenses SAD. Ele tinha esse rótulo e era injusto, pois os projetos que ele tinha tido eram sempre no decorrer da época, quase no fim. E, quando o objetivo é apenas conseguir pontos, somos obrigados a isso e talvez sem jogar tão bem, pois o ponto vale ouro. Este ano, começando a época de início, ele mostrou aquilo que ele é e o valor que ele tem. Com continuidade, é um treinador com muita margem para dar mais saltos na carreira, pois tem muita capacidade para ir por aí acima. Não é o treinador defensivo que as pessoas falavam. Claro que as equipas dele são muito trabalhadas defensivamente, mas a parte ofensiva também era muito trabalhada. Prova disso, foi a parte final desta época, em que fizemos tantos golos como em toda a primeira volta.

    ZZ: Até houve uma altura em que ele meteu o Afonso Sousa no duplo-pivô do meio-campo. Com os laterais projetados, já eram seis elementos ofensivos na equipa.
    MC:
    Sim, nós projetávamos muito os laterais. Com três centrais, obriga a isso. E, quando o Afonso foi para o meio, é óbvio que ganhámos criatividade com bola, qualidade no último passe. Com isso, libertamo-nos mais na frente, eu, o Cassierra, o Varela, o Chico...

    ZZ: Fizeste nove golos, jogaste sempre. Olhando para trás, sentes que foi uma época de dever cumprido ou ficou algo por fazer?
    MC:
    O dever foi cumprido. Acima de tudo, os objetivos para mim esta época eram estar com a minha família e jogar, jogar, jogar, que era o que eu precisava nesta fase da carreira. Juntando isso aos objetivos da equipa, acho que tudo se cumpriu: estive com a família, joguei e fiz golos e, acima de tudo, ajudei a fazermos uma grande época a nível coletivo.

    ZZ: Falaste em família. Estás sozinho aí agora?
    MC:
    Não, neste momento estou sozinho. Ainda não tenho casa e não sei bem como vai ser o meu futuro, não fazia grande sentido eles virem. Depois, ficando ou saindo, eles estarão comigo.

    ZZ: Assim, o cenário ideal era a porta de Portugal abrir-se novamente?
    MC:
    A porta de Portugal está aberta, felizmente. Tenho alguns convites de Portugal, mas não é fácil, tenho contrato com o Dynamo. Tudo depende deles e estou focado em trabalhar, dia a dia.

    ZZ: Para eventuais interessados, o Dynamo tem abertura para não te dificultar a vida?
    MC:
    Essa pergunta é um pouco relativa. Neste momento, estou cá e não há valores que eu saiba que eles querem. Só estou cá há três dias e para já quero é pôr-me em forma.

    ©Bruno de Carvalho / Kapta+

    «Apesar de pequeno, Portugal tem muita qualidade no futebol»

    ZZ: Na tua carreira, tens tido extremos... Foste do Real para o Deportivo, depois do União e do Tondela para o Dynamo. Sentes que está a ser uma carreira de extremos?
    MC:
    Acho que tem sido de altos e baixos. Tanto me estreei pelo Deportivo, e jogar em Camp Nou e fazer uma assistência, como na mesma época fui emprestado ao União da Madeira e desci de divisão. Só aqui já estão dois extremos. Depois, fiz duas boas épocas em Tondela, consegui dar o salto para o Dynamo, onde primeiro correu bem, depois não foi como eu queria. Fui ao Belenenses SAD, onde consegui jogar sempre. Tem sido uma carreira um pouco irregular, não tanto como eu queria.

    ZZ: Porque é que achas que isso acontece?
    MC:
    Às vezes, como se diz, devemos estar no sítio certo à hora certa. Aqui no Dynamo, apanhei um clube em transição. Na primeira época, estava uma direção, agora está outra, é tudo completamente diferente, só o nome é igual. Às vezes, essa estabilidade é importante para que as coisas corram bem.

    ZZ: Com 27 anos, e com muito pela frente, para onde queres que a tua carreira te leve?
    MC:
    Estou na idade certa para jogar num bom campeonato, num bom clube. Claro que ambiciono jogar em Espanha, Inglaterra, França, Itália. Sempre tive o sonho de jogar num clube grande português, mas isso é o que todos os jogadores querem. Acima de tudo, quero sentir-me bem, jogar e sentir-me útil numa equipa, que é o mais importante. O jogador tem é de jogar, seja onde for.

    ZZ: Como vês a tua vida de jogador? É o que sempre sonhaste, é melhor ou pior do que imaginavas?
    MC:
    Sempre sonhei ser jogador e, apesar de o ser, o sonho continua cá. Não penso noutra coisa. É a melhor profissão do mundo. Mas não é só rosas, envolve muitos sacrifícios, estar longe da família, em estágios constantes, jogos e treinos diários com pressão para nos superarmos. Mas isso faz parte, voltava a tomar as mesmas decisões que tomei até hoje. Sou muito grato por ser jogador e estar neste patamar, que considero muito bom.

    ZZ: Tens coisas que te aborrecem?
    MC:
    [pausa] Aborrece-me quando não jogo. [risos]

    ZZ: Falou-se de jogar em grandes campeonatos, em grandes clubes, mas não falaste de seleção. Mora aí alguma coisa?
    MC:
    Acho que a seleção não é preciso enumerar, é o sonho de qualquer jogador.

    ZZ: Pela época que fizeste, sentes que é legítimo pensar que não está assim tão distante?
    MC:
    Tenho noção que tenho de dar um passo em frente para que possa sonhar que isso aconteça.

    ZZ: E tens receio que o tempo te esteja a fugir para dares esse passo?
    MC:
    Não penso nisso, sinceramente. Estou totalmente tranquilo, não penso se tenho 27 ou 24 ou quando vou ter 30...

    ZZ: Fazes parte de uma das boas gerações do futebol português. Como avalias estas consecutivas boas fornadas de jogadores portugueses?
    MC:
    Tem-se vindo a trabalhar cada vez melhor na formação, prova disso é a nossa seleção e os jogadores que andam espalhados pelo mundo. E até mesmo o nosso campeonato, cuja qualidade nem sempre é falada. Apesar de pequeno, Portugal tem muita qualidade no futebol e devemos orgulhar-nos disso. Está à vista, temos jogadores no topo do futebol mundial, temos o melhor jogador de todos os tempos...

    ZZ: Alguns jogadores estrangeiros falaram recentemente da liga portuguesa como sendo um campeonato com mais qualidade do que a que lhe reconhecem lá fora. Também sentes isso?
    MC:
    Sem dúvida. Não sendo um país que dê tantas condições aos jogadores, a nível económico, como o francês, o inglês, etc, acho que isso ainda nos deve orgulhar mais. Não tendo essa capacidade económica, termos esta qualidade e competitividade... Na época que passou, tirando os três clubes que se destacam, mais o SC Braga e o Vitória SC, é tudo do mesmo nível. Esta época, vimos uma luta para não descer que ia do último até ao sétimo classificado. A diferença pontual foi muito pouca. Isso deve ser visto com outros olhos, que nem nós próprios valorizamos, muitas vezes.

    ZZ: Quão importante ou irrelevante é esta mudança para 3x4x3, que está a tornar-se predominante?
    MC:
    Também pelas características dos jogadores, começa-se a jogar cada vez mais com três centrais. Isso obriga a que mais jogadores participem no processo ofensivo, mas, se virmos o reverso da medalha, também podemos falar de cinco defesas. Ainda assim, acredito que pode ser um sistema que dê mais espetáculo.

    ZZ: Para terminar, imaginemos que daqui a cinco anos nos voltamos a juntar para conversar. O que nos queres dizer nessa altura que não disseste nesta entrevista?
    MC:
    Ora, daqui a cinco anos terei 32... Já é uma fase diferente. Espero, acima de tudo, não me arrepender de nada na minha carreira, estar de consciência tranquila e ainda ter uns aninhos pela frente [risos].

    Portugal
    Miguel Cardoso
    NomeMiguel Filipe Nunes Cardoso
    Nascimento/Idade1994-06-19(29 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Avançado (Extremo Esquerdo)

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