Chegou a hora das decisões na Liga Placard. Se a fase regular aqueceu os ânimos com uma louca última jornada, os play-offs prometem grande competitividade e muita emoção desde os quartos de final, marcados pelo inesperado duelo entre Benfica e UD Oliveirense.
Para a antevisão a este sempre esperado momento da época, o zerozero conversou com o técnico Nuno Manarte, treinador que encerrou no passado mês de dezembro um ciclo de quatros anos e meio no comando da Ovarense e que também faz parte do grupo de adjuntos da seleção nacional portuguesa.
Zerozero: Como figura ativa ainda durante esta época, que balanço faz da fase regular? Sente que a competitividade aumentou em relação a épocas anteriores?
Nuno Manarte: «Ao contrário do que era apontado no início da época, acho que o nível subiu, tanto nos lugares cimeiros como mais para baixo na tabela classificativa. O Imortal e o SC Lusitânia apareceram muito bem e outras equipas cresceram bastante ao longo da temporada, passando a equilibrar encontros onde tinham muitos problemas em competir no início da temporada. Agora, nos play-offs, as coisas mudam muito e o cenário pode mudar.»
ZZ: O Sporting tem sido a principal força até ao momento. Aponta os leões como principais candidatos ao título?
NM: «O Sporting foi a equipa mais forte ao longo da fase regular. Apesar conquista recente da Taça de Portugal, acho que não é o momento mais pujante da equipa durante a época, algo normal devido ao desgaste e algumas lesões, mas que não servem de desculpa numa equipa desta dimensão. Todo o plantel vai ser preciso quando as coisas apertarem nos play-off. Pelo que tem feito o Sporting merece ser apontado como principal candidato, no entanto, esta eliminatória com o Vitória SC não vai ser fácil, até olhando para os confrontos entre as equipas durante a temporada.»
ZZ: Sobre o Vitória SC, a equipa não tem correspondido totalmente às expetativas criadas após a excelente prestação em 2019/20, apesar de manter grande parte da estrutura. Na sua opinião, isto deve-se a algum decréscimo de qualidade ou a uma melhoria dos rivais mais diretos?
NM: «Não há dúvidas que continua a ser uma boa equipa. Acho que o crescimento de equipas como o Lusitânia, o Imortal e o CAB também teve impacto na posição que terminaram na tabela classificativa. É sempre difícil, até pelo ano muito atípico, fazer juízos de valor sem conhecer o trabalho diário das equipas, a condição física dos atletas, etc. Não aponto demérito ao Vitória SC e acho que vai incomodar o Sporting nesta eliminatória.»
ZZ: Passando a bola para o FC Porto x CAB Madeira, como tem visto a época destes dois conjuntos até ao momento?
NM: «Depois do Sporting o FC Porto tem sido a equipa mais consistente, até talvez mais a nível de jogo. A equipa manteve sempre um registo alto e conseguiu ganhar a Taça Hugo dos Santos. É um plantel profundo e com um nível regular e sólido. O CAB Madeira transformou-se com a chegada de reforços na segunda metade da fase regular. É uma equipa perigosa, em especial nos derradeiros quartos dos encontros [risos]. Para competirem com o FC Porto têm de ter os principais atletas a um grande nível, pois vão ter um adversário que exige bastante fisicamente.»
ZZ: Sobre a principal revelação da época, o Imortal continua a encantar e chegou ao terceiro posto na última jornada, após atingir a final da Taça de Portugal. Que razões encontra para o sucesso deste projeto? Num formato de play-off os algarvios podem continuar a bater-se com os principais candidatos?
NM: «Estou muito expectante para este série deles com o SC Lusitânia. Ainda não sabemos se vão contar com os dois jogadores interiores [Jalen Jenkins e Tyere Marshall] que têm estado de fora. O projeto do Imortal foi bem construído desde a última temporada, ao juntar na Proliga um bom núcleo de portugueses experientes e este ano completou muito bem o grupo de estrangeiros. Estas são razões que encaminham qualquer equipa para o sucesso.»
ZZ: Falou do SC Lusitânia, que também teve um rendimento muito positivo na fase regular. A equipa perdeu recentemente o Temidayo Yussuf [MVP da Liga Placard], num golpe duro para as aspirações dos açorianos. Acha que o conjunto do Nuno Rodrigues pode contrariar o peso desta ausência?
NM: «A equipa estava rotinada durante a época para jogar com este atleta. É muito difícil teres um jogador deste nível durante quase toda a temporada e acabares sem esta opção. O SC Lusitânia continua com um bom núcleo, mas o Yussuf tinha um potencial, principalmente físico, diferenciado. (...) Estas ausências podem dar um tónico interessante a esta série e quem ultrapassar melhor a adversidade vai sair vencedor. Não apostava em ninguém...»
ZZ: Para o fim, ficou em teoria o prato mais apetitoso destes quartos de final, com o duelo inesperado entre o Benfica e a bicampeã UD Oliveirense. Começando pelas águias, que razões encontra para tanta irregularidade desta equipa ao longo da época, pouco normal para um conjunto desta dimensão?
NM: «Não é normal acontecer uma eliminatória desta dimensão logo a abrir os play-offs. É um grande mistério perceber de que forma o Benfica vai atuar. Basta ver os últimos confrontos entre as equipas em fim de semana seguidos e no mesmo pavilhão, com um domínio claro da UD Oliveirense no jogo do campeonato e um contexto completamente diferente na Taça, onde o Benfica esteve bastante forte no lançamento exterior, a principal característica do conjunto. Vai ser um duelo entre duas filosofias diferentes.»
ZZ: Em relação aos campeões, acredita que a UD Oliveirense aparece nesta fase decisiva na sua melhor fase da época, algo normal nas equipas em constante crescimento do treinador Norberto Alves?
NM: «Concordo com essa análise. As equipa do Norberto muitas vezes vão de menos a mais durante a temporada. Corrigiu o que achava que tinha a corrigir e resolveu vários problemas. Acho que estão na melhor fase, com as entradas solidificadas e a identidade bem vincada. Todas as alterações que fazes precisam de tempo para surgirem resultados. Não têm a aptidão do Benfica no lançamento exterior, mas são uma grande força no capítulo do ressalto. É um emparelhamento super interessante e muito difícil de prever.»