Já eram 20 jogos em Terras de Sua Majestade, agora são 21 e o FC Porto continua sem conseguir por lá vencer. Foi também noite de 18ª derrota neste país, embora desta vez de uma forma diferente daquela com que outras, bem mais pesadas, aconteceram. Desta vez, foi por 3x1 e ficou um sabor amargo.
Contra uma equipa super-favorita em pleno Etihad, Sérgio Conceição montou uma equipa sólida no momento defensivo, deixou o City ter bola mas conseguiu tapar os espaços durante muito tempo e até marcou primeiro, numa iniciativa extraordinária de Luis Díaz.
O plano de jogo funcionou durante muito tempo, talvez mais tempo do que o esperado, mas um penálti muito forçado no primeiro tempo (o mais grave de vários erros que prejudicaram o FC Porto), convertido por Agüero, e dois momentos de virtuosismo de Gündogan e Ferrán Torres consumaram a derrota portista em jogo de estreia no regresso à Liga dos Campeões. Deu, ainda assim, para estrear Sarr (a titular) e Evanílson e trazer Nakajima de volta aos relvados.
Seria o plano geral de Sérgio Conceição para este muito difícil encontro. O técnico surpreendeu desde logo no onze inicial, juntando Sarr a Pepe e Mbemba, estreando assim o francês e montando uma equipa que seria de cinco defesas no momento defensivo e de três no processo ofensivo (que foi, na sua maioria, de rápidas transições ofensivas). Também entre as surpresas surgia um muito jovem Fábio Vieira, colocado à frente de Uribe e Sérgio Oliveira e com Marega e Díaz a assumirem a missão de atacar o espaço nas costas da defesa do City.
Por largos períodos, o FC Porto conseguiu condicionar o estilo de jogo do Manchester City, ou pelo menos evitar que esse estilo de jogo tivesse consequência. Com João Cancelo à esquerda da defesa, Rúben Dias no centro e Bernardo Silva como elemento mais móvel do meio-campo, o City de pendor ofensivo de Guardiola tinha bola, muita bola, mas não conseguia descobrir espaços para ultrapassar duas muralhas portistas, o meio-campo e a defesa.
Nesses momentos em que a bola era dos ingleses - na verdade, ingleses eram só dois -, o FC Porto organizava-se numa espécie de 5x4x1, mantendo Marega sozinho na frente e com todos os restantes jogadores a procurarem travar a organização coletiva adversária. Conseguindo suster ataques, o FC Porto tinha ocasionais oportunidades para os seis, em particular a partir dos flancos, onde estavam Zaidu e Corona como laterais muito projetados.
Ainda com 14 minutos de jogo, os portistas conseguiram surpreender a equipa de Guardiola. Aliás, Luis Díaz conseguiu-o. Numa iniciativa individual notável, o colombiano partiu da esquerda e contornou toda a defesa dos citizens antes de rematar cruzado a partir da direita. Dava para acreditar na surpresa, mas ainda havia muito jogo por jogar...
...e esse restante jogo não quis nada com o FC Porto. Seis minutos depois desse golo de Díaz, a equipa de arbitragem assinalou um penálti por falta de Pepe, aparentemente ignorando o pisão de Gündogan a Marchesín mesmo antes. Agüero agradeceu, Marchesín ainda adivinhou o lado mas não evitou o golo do compatriota.
Com a igualdade, a tendência do restante jogo manteve-se, com o FC Porto a ter muito menos bola e a tentar segurar o adversário para depois explorar fragilidades defensivas adversárias. Quase o conseguia perto do intervalo, quando Marega apareceu nas costas da defesa - a zona preferida do maliano - mas não conseguiu oferecer o golo por pouco. Tudo isto pela mesma altura de um lance em que ficam dúvidas sobre um possível penálti a favor do FC Porto, devido a contacto entre Cancelo e Pepe.
O segundo tempo começou com uma séria ameaça de Gündogan a Marchesín (sem pisões desta vez, foi mesmo com um grande remate) e o médio internacional alemão brilhou mesmo aos 65', aproveitando uma falta de Fábio Vieira e convertendo na perfeição um livre direto para o fundo das redes portistas.
Já estava difícil, estava consumada a reviravolta, e a machadada final veio aos 73', quando um grande momento de Ferrán Torres (tinha entrado pouco antes) valeu o terceiro golo da equipa de Guardiola, visivelmente feliz com o resultado e também envolto em bate-bocas com o banco do FC Porto.
Menos feliz ficou Conceição, que ainda lançou para o ataque Taremi e Evanílson, recuperando Nakajima e lançando também Nanú, mas os portistas pouco mais conseguiram fazer. Por esta altura, o nível organizacional já não era o mesmo e faltavam argumentos para contrariar o poderio adversário. A equipa portista despede-se com uma derrota da estreia na prova milionária. O lado bom: ficaram boas indicações em alguns aspetos e há mais cinco jogos para lutar pelo objetivo.
Nota negativa para a equipa de arbitragem, por uma série de razões, a maioria das quais prejudiciais aos portistas. Não nos parece haver razão para penálti tendo em conta o pisão a Marchesín logo antes e o critério disciplinar nem sempre fez sentido, como quando uma falta propositada a travar uma transição portista não deu em cartão.
Sérgio Conceição surpreendeu no esquema montado e durante muito tempo correu bem. A equipa esteve muito sólida, tapando os caminhos ao City, e acabaria por sofrer um muito cruel castigo.
Não pode ser desculpa exclusiva. O Manchester City tem melhores jogadores e isso influenciou também o jogo, como seria sempre óbvio. Ainda assim, a forma como surgiu o primeiro golo dos citizens é demasiado penalizadora para um FC Porto que fez uma primeira parte tão positiva.