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    Rubrica 'O meu futebol em quarentena': Sérvia

    Tomané: «O país passou por uma guerra há poucos anos e está mais preparado para estas medidas de contenção»

    2020/04/02 22:00
    E0

    O futebol parou por tudo mundo devido ao surto de coronavírus e por todo o mundo há portugueses à espera de ultrapassar esta situação para voltarem a fazer o que mais gostam: jogar futebol.

    Tomané
    2019/2020
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    Neste tempo em que o exigido é «ficar em casa», o zerozero foi conversar com vários portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo para perceber como tem sido este período sem futebol e como têm acompanhado toda esta situação, lá fora e em Portugal. Sempre à distância, claro.

    Da vizinha Espanha à longíqua Indonésia, o mote passa por ficar em casa e ler os relatos da rubrica: «O meu futebol em quarentena». 

    • Tomané, jogador do Estrela Vermelha, da Sérvia

    zerozero (ZZ): Como tens ocupado o teu dia durante a quarentena?

    Tomané (T): O último jogo foi dia 14 de março e dois dias a seguir entrei em quarentena obrigatória porque aqui também entrou em estado de emergência e deixámos de treinar em equipa. Nos últimos dias atrás treinava em casa, no meu apartamento e não saia, o clube disponibilizou material para fazermos um ginásio, bicicleta, para tentar minimizar ao máximo esta paragem e perda de ritmo, até hoje [terça-feira]. Já fomos para o campo, dois a dois. O clube tem dois campos de treino, por isso um treina num campo e o outro treina no outro. Colocam os exercícios, nós vamos com os exercícios já preparados, chegamos lá e fazemos o nosso trabalho. 40 minutos e vamos para casa, tomamos banho em casa e não temos contacto com ninguém. Para nós é melhor mentalmente. Estamos habituados a estar com os colegas todos os dias, ir ao campo, sentir o cheiro da relva, correr, é muito bom. Tem sido passado assim. Tenho aqui a minha namorada que me faz companhia, vejo filmes, tento não perder muito a noção das horas [risos] porque neste momento deitamo-nos mais tarde, acordamos mais tarde e tento não perder essas rotinas. Falo todos os dias com a família também.

    ZZ: Que indicações te deu o clube?

    T: Vejo as notícias todos os dias, Portugal começou mais cedo nesta situação do coronavírus e aqui ainda não tinham muita noção do que estava para chegar. O nosso treinador tem família em Itália e estava preocupado, alguns treinadores são italianos e sabem da gravidade do que se estava a passar, tiveram o máximo de cuidado, pediram-nos para ficar em casa, o clube pediu para sermos responsáveis porque somos figuras públicas. Na Sérvia o Estrela Vermelha é o maior clube e se dermos o exemplo e não andarmos a passear é melhor, é um sentido de responsabilidade de todos. Também deram ordens para não saírmos do país. Todos os dias vão falando, dando plano de treinos, vêm acompanhando diariamente.

    ZZ: Como é ficar tanto tempo em casa?

    T: É difícil. Em Portugal vivo numa aldeia, fui criado numa aldeia, em espaço livre, com muito espaço para fazer o que quero, vivo numa casa. Aqui, vivo num apartamento, por si só é difícil. Estando 24 horas sobre 24 horas num apartamento é complicado. Sei que muita gente está em situações piores, não estou a comparar, mas para quem é jogador de futebol e está habituado a essas rotinas é complicado. Há que gerir e saber passar o tempo, porque só assim é que vamos passar esta situação.

    ZZ: Que conselhos deixas para passar o tempo?

    T: Há Game of Thrones, Walking Dead, Narcos. Há muitas séries que dão para passar algum tempo e distrair. Não sou muito de ler, gosto de ler alguns livros sobre futebol, sobre treinadores ou empresários, livros mais desportivos. Leio o meu jornal todos os dias, acompanho as notícias em Portugal. Passo o tempo assim e penso que as pessoas têm de pensar assim, têm de se distrair, ver filmes, acompanhar um pouco as notícias, não tanto as notícias que falam sobre o coronavírus mas sim outras notícias, como o desporto, para tirar o foco à situação, só se fala do coronavírus e penso que nos temos de abstrair. Eu não tenho filhos, mas quem tem pode aproveitar o tempo com eles. Nós que somos jogadores de futebol pouco tempo estamos em casa e acho que isso é importante. Para todas as famílias que têm filhos é importante criar atividades para se divirtirem. Acho que temos de tirar o positivo desta situação, que é passar mais tempo com a família e ter a oportunidade de estar com os nossos, porque há quem não possa neste momento e isso é difícil.

    ZZ: Tens mantido contacto com os teus colegas?

    T: Sim, tenho sempre contacto com eles, mais com o pessoal estrangeiro - argentino, espanhol, brasileiro -, mais aproximado à nossa língua. Falo mais com eles sobre esta situação, sobre futebol, sobre o que está para vir. Tento sempre acompanhar e falar o máximo possível com eles para também tentar ver como está a situação deles porque há quem esteja aqui sozinho e isso é mais preocupante.

    ZZ: Como tens acompanhado a situação em Portugal?

    T: Com muita preocupação. Tenho a minha família aí, tenho os meus avós da parte da minha mãe, os meus pais, os meus tios. Os meus avós já passam os 80 anos e isso preocupa-me. Isto afeta toda a gente e aquilo que peço é que fiquem casa, que se resguardem ao máximo. Na minha família também há pessoas que têm de trabalhar. A minha mãe trabalha num lar e a dificuldade nos lares é grande, por isso também tenho preocupação de que as coisas não aconteçam na minha família. Sei que isto pode acontecer a qualquer um e espero que as coisas melhorem o mais rápido possível, mas claro que há sempre preocupação com as nossas famílias e com o povo português, porque é o nosso povo e espero que passe rápido.

    ZZ: Como está a situação na Sérvia?

    T: Não acompanho muito, não percebo nada de sérvio [risos], mas tento acompanhar de vez em quando, ver como estão as estatísticas dos infetados. Sei que há mais de 700 pessoas, mortes não sei ao certo, mas não está tão grave como em Portugal porque aqui foram tomadas medidas mais rápido. Tiveram essa possibilidade e fizeram isso mais rápido, também é um país que passou por uma guerra há poucos anos e está mais preparado para estas medidas de contenção e mais urgentes. Nós, portugueses, nunca passamos por uma situação destas e não é fácil tirar-nos um pouco da nossa liberdade, é complicado. Aqui penso que a situação é melhor neste momento.

    ZZ: Como contas regressar à competição? Tem sido fácil manter a forma?

    T: É difícil estar parado, não é a mesma coisa. Hoje fui ao campo e sentes a diferença, não é o mesmo que estar na bicicleta, não é igual. Fisicamente vamos sentir. Não sei como vão organizar as coisas, nós jogadores, penso eu, somos marionetes e o que nos mandarem fazer vamos fazer, apesar de sermos nós que movimentamos esta indústria e este desporto, mas é o que temos. Vamos tentando minimizar ao máximo as perdas de ritmo, mas claro que não vai ser fácil voltar, seja daqui a um mês ou dois. Penso que vamos ter de acabar os campeonatos, seja de uma maneira ou de outra, porque há muitos interesses em jogo e eu penso que vamos ter ordens para começar a treinar e depois jogar. Não vejo a cancelarem campeonatos, em certo países é difícil, a mentalidade não é essa.

    ZZ: Quando isto acabar, qual é a primeira coisa que queres fazer?

    T: A primeira coisa que gostava de fazer era abraçar a minha família. Quem está fora do país, só vê a família por videochamada, é difícil. Era o que mais gostava. Sentar-me com a minha família, estarmos todos bem. O futebol é secundário, toda a gente tem famílias, seja rico, seja pobre, seja o que for, toda a gente é afetado e penso que isso era o que mais queria. Queria que me estivesses a ligar e eu estivesse no aeroporto a caminho de Portugal para poder estar com a minha família.

    • A mensagem de Tomané:

    Portugal
    Tomané
    NomeAntónio Manuel Fernandes Mendes
    Nascimento/Idade1992-10-23(31 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoAvançado (Ponta de Lança)

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