Nuno Reis: «Aquela Netflix já trabalhou mais em 15 dias do que num ano inteiro»

O futebol parou por tudo mundo devido ao surto de coronavírus e por todo o mundo há portugueses à espera de ultrapassar esta situação para voltarem a fazer o que mais gostam: jogar futebol.

Neste tempo em que o exigido é «ficar em casa», o zerozero foi conversar com vários portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo para perceber como tem sido este período sem futebol e como têm acompanhado toda esta situação, lá fora e em Portugal. Sempre à distância, claro.

Da vizinha Espanha à longíqua Indonésia, o mote passa por ficar em casa e ler os relatos da rubrica: «O meu futebol em quarentena». 

• Nuno Reis, defesa do Levski Sofia, da Bulgária

zerozero (ZZ): Como tens ocupado o teu dia durante a quarentena?

Nuno Reis (NR): Estou a aproveitar o tempo que antes não tinha para estar com as minhas filhas e a minha mulher. Ocupo as minhas manhãs a ajudá-las com os trabalhos, pois as minhas filhas (dois e cinco anos) recebem videochamadas da professora da escola para continuarem por dentro dos temas que davam na escola. Depois ao final da tarde faço um treininho da praxe para manter a forma. Ela é personal trainer.

ZZ: Que indicações te deu o clube?

NR: Disse para respeitar o tempo de quarentena, sabendo que o estádio e o ginásio iam estar abertos para quem quisesse frequentar, mas para não estarmos muito pertos uns dos outros. Se posso fazer o treino individual em casa escuso de sair. Ainda por cima tenho a minha mulher e filhas aqui comigo. Temos o período de quarentena até 30 de março, mas uma vez que continua a subir os casos aqui na Bulgária, não tanto como Portugal, estenderam o período até dia 12 de abril. Portanto, vamos ficar sem treinar com a equipa até 12 de abril. Inicialmente deram-nos um plano mais virado para o físico, mas agora vamos receber um complementar.

ZZ: Como é ficar tanto tempo em casa?

NR: Até não está a ser mau. Não sou de sair muito. Vou almoçar de vez em quando com a minha mulher e amigos que tenho aqui, mas a minha rotina era basicamente ir para o treino, voltar para casa e depois ir buscar as minhas filhas à escola. Antes podíamos ir beber um café, apanhar um sol na esplanada, agora temos de evitar. Mas não me farto de estar em casa.

ZZ: Que conselhos deixas (livros, filmes, séries...)?

NR: Estou a ver Blacklist na Netflix. Já vi Elite, há imensas… estou a acompanhar também Vikings. Aquela Netflix já trabalhou mais em 15 dias do que num ano inteiro. [risos]

ZZ: Tens mantido contacto com os teus colegas?

NR: Contacto pessoal não, mas temos o grupo do whatsapp e vamos trocando algumas mensagens. Troco mais mensagens com o Filipe Nascimento, que é outro português que está aqui comigo. Vamos tentando manter-nos informados sobre como vai evoluindo a situação aqui e outras novas medidas. Temos um técnico da equipa que também fala português e ele consegue traduzir e informar-nos de como estão as coisas aqui. 

ZZ: Como tens acompanhado a situação em Portugal?

NR: Evitamos ver notícias. Em 24 horas, 23 horas é a falar do vírus. Torna-se chato e quando as pessoas estão fechadas em casa começam a dar em malucas. Como temos agora mais tempo, tiramos 1-2 horinhas à noite em que falamos com a família e eles contam-nos como está a situação em Portugal. Também estão preocupados connosco. É normal, é família…

ZZ: Como está a situação na Bulgária?

NR: Não está tão agreste como em Portugal. Sinceramente, até à data, tínhamos até ontem [dia 27] 200 e poucos casos confirmados. Portanto, não está assim tão mal como em Portugal. Mas aqui, mal souberam que tinham alguns casos, foram muito agressivos nas medidas e começaram logo por fechar fronteiras, espaços públicos. Se calhar foi devido a essas medidas mais drásticas e rápidas que isto não se alastrou tanto até ao momento. Das poucas coisas que podemos fazer sem ter autorização é ir aos supermercados e farmácias. Mas evitamos sair ao máximo. Também já restringiram a entrada e saída de Sofia. Se quisermos sair de Sofia, neste momento precisamos de uma declaração a dizer o motivo. Se for em lazer nem deixam sair.

ZZ: Como contas regressar à competição? Tem sido fácil manter a forma?

NR: Sinceramente, a nível de intensidade tenho feito o máximo para simular ou igualar de alguma forma a intensidade que precisamos no futebol e no treino diário. O que sinto mais falta é ter aquela alegria do balneário. De estarmos com os colegas, fazer as brincadeiras, porque de resto, tendo uma imaginação fértil, conseguimos improvisar os treinos.

ZZ: Quando isto acabar, qual é a primeira coisa que queres fazer?

NR: Uma das primeiras coisas que vamos fazer é juntarmo-nos todos em Fátima e agradecer a Deus. Sou uma pessoa de fé, por isso espero ir agradecer por tudo ter passado pelo melhor e fazer uma grande almoçarada. 

• A mensagem de Nuno Reis: