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Kevin Garnett: «The Big Ticket»

Texto por Igor Gonçalves
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Durante 20 anos, a palavra intensidade na NBA teve, imediatamente, o sinónimo Kevin Garnett. Com a alcunha «Big Ticket», Garnett foi uma das figuras mais lutadoras e mais intimidantes da história recente da Liga e, defensivamente, poucos estão ao seu nível.

Nascido a 19 de maio de 1976 em Greenville, na Carolina do Sul, um dos estados americanos mais atrasados nas questões de igualdade raciais (um atraso que viria a desempenhar um papel na vida do jovem KG), a infância de Garnett foi «normal». Apesar de não ter grande contacto com o pai (separou-se da mãe pouco depois do seu nascimento), o jovem viveu uma infância tranquila junto da mãe, das duas irmãs e do padrasto, com quem não tinha uma boa relação.

O amor pelo basquetebol apareceu no liceu e já depois de ter tido o seu «pulo» de altura. Nos dois primeiros anos de secundário, Garnett estudou no liceu de Mauldin e começou a evidenciar-se nos pavilhões. Ainda assim, tudo mudou no verão de 1994. Foi nessa altura que KG foi detido, após uma verdadeira batalha campal entre estudantes negros e brancos, isto apesar de ter negado qualquer envolvimento nas agressões. A maioria dos detidos após essa situação foram negros e, apesar de Garnett ter sido ilibado de qualquer envolvimento, o jogador não quis continuar a estudar em Mauldin por medo de represálias.

Foi nessa altura que foi viver com a irmã mais velha em Chicago, no estado de Illinois. Estudou no liceu de Farragut e foi nesta altura que passou de ser um jovem com talento, para um jovem com impressionante talento. No último ano de secundário, terminou com médias de 25.2 pontos, 17,9 ressaltos, 6,7 assistências, 6,5 blocos e isto tudo lançando a 68% do campo. Estes números impressionaram tanto que o jovem foi eleito o «Senhor basquetebol» do estado e o jogador jovem do ano nos EUA. O domínio que mostrava em campo levou-o a fazer o que ninguém fazia há 30 anos no basquetebol norte americano: saltar do liceu diretamente para a NBA. Garnett assumiu o risco, mas a facilidade com que venceu jogadores profissionais nos treinos pré-draft deixavam-no certo que estava pronto para o desafio.

Saltar do liceu para a NBA

Foi o primeiro em 30 anos a saltar do liceu para a NBA @Getty /
Foi escolhido pelos Minnesota Timberwolves na 5ª posição do draft de 1995. Os Wolves eram uma equipa que estava na NBA apenas há seis anos e nunca tinham vencido mais de 29 jogos.

Na primeira época, a equipa falhou os playoff e o poste não foi particularmente brilhante, mas bastou apenas mais uma temporada para que KG mostrasse que estava pronto para ser uma figura na NBA. NA época 96/97, a segunda na Liga, KG não só foi All-Star, como ainda ajudou os Timberwolves a chegar pela primeira vez ao playoff. Ao lado do base Stephon Marbury e do extremo/poste Tom Gugliotta, e com médias de 17 pontos, mais de 8 ressaltos e dois blocos, Garnett mostrava que tinha tudo para brilhar na NBA.

Renovação milionária

O verão de 1997 foi talvez o mais quente da carreira e da vida de Kevin Garnett. Primeiro, porque o poste e o seu agente rejeitaram uma proposta de 102 milhões de dólares em seis anos para renovar, obrigando a equipa a pagar um total 126 milhões para que a renovação acontecesse. Esse valor, para um jovem 21 anos, foi visto como um tremendo risco e tornou KG num dos jogadores mais bem pagos da história da NBA, recebendo mais nesse contrato que jogadores como Michael Jordan em toda a sua carreira.

O certo é que KG se tornou uma verdadeira superestrela depois dessas críticas. Nas cinco épocas seguintes, Garnett levou praticamente sozinho a equipa aos playoff, subindo gradualmente o seu nível de jogo. Em 02/03, ficou em segundo lugar na corrida para MVP, perdendo para Tim Duncan, dos Spurs. Ainda assim, a falta de apoio de qualidade no plantel fez com que a sua equipa fosse derrotada sempre na 1ª ronda dos playoff, o que mudaria na época 03-04.

MVP e o ponto mais alto nos Wolves

No mesmo ano foi MVP e chegou à final de conferência no Oeste @Getty /
No verão de 2003, os Wolves conseguiram adquirir o base veterano Sam Cassell e ainda o talentoso e irreverente Latrell Sprewell. «Armado» com esses dois companheiro e no pico da sua forma física, KG conseguiu os seus melhores resultados ao serviço da equipa de Minnesota e chegou à final de conferência, perdendo para os Lakers de Kobe e Shaq. Na fase regular, o poste apontou médias de 24.2 pontos, 13.9 ressaltos, 5 assistências, 2.2 blocos e ainda 1.5 roubos, vencendo o prémio de MVP pela única vez na carreira.

Após a presença na final de conferência, tudo começou a correr mal na relação entre Kevin Garnett e os Wolves. A equipa foi perdendo peças, foi tendo lesões e nunca conseguiu voltar a dar ao poste companhia para atacar o título da NBA. Individualmente, KG estava no pico e o seu jogo era tão impressionante que foi mesmo nestes anos que ganhou a sua alcunha «Big Ticket», em alusão ao facto de os adeptos apenas pagarem o bilhete (ticket) para os jogos para verem o grande (big) Kevin Garnett. Por sua vez, a equipa falhou o acesso aos playoff nas três últimas temporadas que o poste lá esteve.

Big-3 em Boston e as batalhas com os Lakers

O verão de 2007 foi o ponto de viragem na carreira de KG e da NBA. O Big Ticket estava farto de épocas medíocres e forçou a saída de Minnesota. Foi nessa altura em que apareceram os Boston Celtics. A equipa com mais títulos na história da NBA não estava a atravessar uma grande fase, mas tinha na equipa Paul Pierce, e Danny Ainge, o general manager, preparava-se para revolucionar o mercado.

Campeão ao lado de Ray Allen e Paul Pierce @Getty /
No início do verão, conseguiu garantir o base atirador Ray Allen, que estava numa situação idêntica à de KG nos Sonics. Passados poucos dias, conseguiu mesmo trocar por Garnett estava assim formado o primeiro Big-3 da era moderna da NBA, sendo que também nessa altura o base Rajon Rondo se ia afirmar como uma estrela da equipa de Boston. O impacto deste tridente foi tão grande que os Celtics passaram a ser de imediato os grandes candidatos ao título e chegaram com naturalidade à final, onde iam defrontar os rivais históricos LA Lakers. A equipa de Los Angeles tinha Kobe Bryant e tinha conseguido já perto do final da temporada trocar por Pau Gasol, mas o big-3 de Boston era demasiado forte e a vitória sorriu à equipa de KG, Ray Allen e Paul Pierce. Garnett não só era pela primeira vez campeão, como ainda juntava o título ao prémio de Defesa do Ano na fase regular.

Percebia-se que esta equipa de Boston seria uma arma séria para mais alguns anos, mas a época seguinte foi de frustração. Favoritos a revalidar o título, os Celtics perderam Kevin Garnett por lesão em fevereiro e caíram na segunda ronda dos playoff, contra os Orlando Magic. Ainda assim, na época seguinte KG voltou em pleno e voltou a levar os Celtics à final da NBA.

Final de 2010 foi uma verdadeira batalha contra os Lakers de Kobe @Getty /
Novamente perante os LA Lakers, a final de 2010 foi uma das mais clássicas da história da NBA. Grandes exibições de jogadores dos dois lados levaram a decisão para um jogo 7, em Los Angeles. Aí, Kobe Bryant e companhia vingaram-se da derrota de 2008 e venceram o campeonato. Seria a última vez que KG estaria presente na final da NBA.

Início do declínio e a saída de Boston

Os anos seguintes foram os do início do declínio de KG e dos Celtics. Apesar de ainda apresentar médias e qualidade muito interessantes, Garnett não conseguiu levar os Celtics a ultrapassarem o novo Big-3 de Miami, composto por Lebron, Wade e Bosh. Em 10/11 perderam na 2ª ronda e em 11/12 na final de conferência, apesar de terem estado a um jogo da vitória. Em 12/13, a equipa não chegou aos playoff, naquela que seria a última temporada de KG em Boston.

Frustração nos Nets @Getty /
O verão de 2013 trouxe uma das mais loucas trocas da história da Liga. Os recém-comprados Brookly Nets trocaram grande parte do futuro e do plantel para conseguirem adquirir Paul Pierce, Jason Terry e Kevin Garnett, que tinha na altura 38 anos. Apesar da idade dos três (Terry e Pierce tinham 36 anos), o primeiro e único ano da «super team» dos Nets não foi mau de todo. A equipa tinha ainda o base Deron Williams e o poste Brook Lopez, tendo chegado à 2ª ronda dos playoff, onde perderam para os Miami Heat.

A época seguinte (14/15) não começou bem para os Nets e para Garnett, que mostrou cedo que não queria continuar na equipa. A meio da época foi trocado para os Timberwolves, voltando à sua equipa inicial para terminar a carreira.

Regresso a casa até à retirada

Esse final de carreira veio na temporada 15/16, com uma função de mentor para os talentosos jovens que os Wolves tinham no plantel. Uma última época marcada por uma lesão que o afastou da reta final e, apesar de ainda ter mostrado interesse em jogar em 16/17, os problemas nos joelhos precipitaram o final de carreira. O último jogo da carreira de Kevin Garnett aconteceu no dia 23 de janeiro de 2016, contra os Memphis Grizzles.

Regressou a casa para se retirar @Getty /

Terminou a carreira com 26071 pontos, 14662 e ainda 2037 blocos. A todos os prémios que venceu na NBA, ainda juntou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2000 pela seleção dos EUA.

Posteriormente, passou a comentador da NBA, tendo o seu próprio programa e participando num filme de sucesso, onde fez de si próprio nos tempos em que jogava em Boston.

Garnett viveu na era de alguns dos melhores postes da Liga e esteve taco a taco com eles durante largos anos. A sua intensidade era mítica e as histórias que se contam de KG vão impressionar durante anos. KG valia sozinho o preço do bilhete…

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