Diasmartins 26-04-2024, 01:43
Parte I - De Vendas Novas à estreia na Serie A aos 17 anos: «Parece que tudo à minha volta parou»
Parte II - Pedro Pereira: «Não tive a força necessária para lidar com tudo no Benfica»
Após um ano e meio de empréstimo no Génova, onde construiu uma bonita amizade com Miguel Veloso, Pedro Pereira deu um novo rumo à carreira, em novo empréstimo do Benfica, desta feita aos ingleses do Bristol City.
O «projeto ambicioso» do emblema que atua no Championship convenceu o jovem lateral-direito português, que está encantado com a competitividade e ambiente vividos no segundo escalão do futebol inglês.As diferenças do Pedro que saiu de Portugal aos 17 anos para o Pedro de 22 hoje em Inglaterra, passando pela luta pela subida à Premier League, até aos desafios que espera no futuro. Tudo nesta terceira parte da entrevista concedidae ao zerozero.
ZZ: Regressas a Itália para o Génova depois daquele período difícil no Benfica. Foi uma boa oportunidade para ganhar novamente confiança em ti e nas tuas capacidades?
PP: Bastante! Acho que foi muito importante o tempo em que estive no Génova. Lembro-me que comecei praticamente logo a jogar, depois tive lesão e estive de fora algum tempo. No ano a seguir foi uma época importante para mim. Foi uma época difícil para o grupo, pois não conseguimos os resultados possíveis, mas foi um ano de aprendizagem muito grande. Tive jogos bastante bons, outros nem tanto, que me ajudaram a melhorar. Até porque, por mais que treinemos, jogar é completamente diferente.
ZZ: O Miguel Veloso [companheiro de Pedro Pereira no Génova] foi importante nessa fase?
PP: Muito importante e ainda continua a ser. Considero um dos amigos mais importantes, é como se fosse família. É um jogador com uma experiência muito grande. Já viveu grandes momentos no futebol, já esteve nos grandes palcos do mundo e realmente poder olhar para ele e ele ter interesse em ajudar-me depois da carreira que teve e tem é muito bom. Tenho muita sorte em tê-lo como amigo.
ZZ: Depois de um ano e meio em Génova, seguiu-se o Bristol, num campeonato muito competitivo. Como encaraste essa mudança para Inglaterra?
PP: Foi uma possibilidade que apareceu no verão. Sabia que havia alguns clubes de Championship interessados, mas, para ser sincero, eu estava à espera que o Génova comprasse o meu passe. O feedback que eu tinha, que o meu agente tinha, era de que as coisas estavam bem encaminhadas, mas no fim da época não compraram ninguém que esteve emprestado e tive de olhar para as outras opções.
ZZ: …
PP: A minha ideia passou sempre por ir para uma equipa onde pudesse jogar, continuar a evoluir, pois sinto que preciso de jogar e fazer o máximo de jogos possíveis. O projeto do Bristol é ambicioso. Um clube que se está a preparar não só para subir como para manter-se na Premier League. Portanto, olhei para este projeto como uma oportunidade de evoluir e jogar bastante.
ZZ: Acredito que já estás completamente habituado a esta vida de emigrante, mas como tem sido em Inglaterra?
PP: Mudei-me com a minha namorada. Ela já tinha estado também comigo em Itália. A vida é bastante pacata. Gostamos de estar em casa. Somos pessoas muito caseiras. De preparar a nossa alimentação e ela cozinha super bem. Em termos de diferenças, não senti muitas. Talvez o clima. Em Génova o clima era bom e tínhamos a praia e aqui é mais cinzento e mais triste. Tentamos fazer a nossa rotina, ir ao cinema, mas passamos muito tempo em casa com a nossa cadelita que está aqui e alegra muito a casa. Gostamos de estar assim.
ZZ: E o campeonato? Muito exigente?
PP: Surpreendeu-me bastante. Sabia que era muito competitivo, já me tinham dito, mas nunca pensei que fosse tanto. É um campeonato com uma competitividade inacreditável, todos os jogos são super complicados. Penso que o mais difícil é existem muitas equipas e quase todas jogam de maneira diferente. Numa semana podemos estar a jogar contra uma equipa que tem o processo de posse de bola e na semana a seguir estamos a jogar contra uma equipa com jogadores super altos, super fortes fisicamente e que apostam muito no jogo direto e de combate. Parece uma guerra [risos]. Acho que isso é uma das coisas boas do Championship. É um campeonato espetacular para jogadores jovens.
ZZ: E em termos de ambiente nos estádios?
PP: Os estádios estão sempre cheios e os adeptos são muito calorosos. As pessoas gostam muito de futebol e vêm o futebol como um espetáculo.
ZZ: É verdade, já te estreaste a marcar…
PP: Marquei o primeiro golo contra o Wigan, agora quando regressei fiz o meu segundo golo e na semana a seguir assisti contra o Fulham. As coisas têm corrido bem.
ZZ: Foram os teus primeiros golos a nível sénior. Qual o sentimento?
PP: Ainda não tinha vivido, é verdade, mas é muito bom. É a recompensa pelo trabalho que temos feito. Os dois golos foram em lances de bola parada. O Bristol trabalha bastante essas questões e passaram-me a ideia de que era bom nisso e tenho tido as minhas recompensas.
ZZ: Ainda faltam algumas jornadas e vocês estão na luta pelos lugares de ‘play-off’. Como perspetivas esses duelos até ao final?
PP: O objetivo no início da época era ficar nos dois primeiros lugares, mas agora está um pouco mais complicado. O mais importante é entrar no play-off e depois disputar a subida à Premier League.
ZZ: Quais são as principais diferenças do Pedro que saiu de Portugal aos 17 anos e este Pedro que está agora aqui a falar connosco?
PP: Acho que a principal diferença, em termos de futebol… A passagem por Itália ajudou-me bastante em termos defensivos. Tive de lidar com dificuldades que não tive durante a formação em Portugal. Hoje sinto-me um jogador mais completo, mais experiente e sinto que a principal diferença é a parte mental. É uma parte muitas vezes esquecida pelos jogadores, mais focamos em trabalhar aspetos técnicos, táticos e físicos e esquecemo-nos da parte emocional que controla a máquina toda.
ZZ: A parte mental é muito importante em todas as áreas…
PP: É mesmo. Hoje em dia é preciso sermos bastante consistentes, estarmos predispostos a estar ao mais alto nível e conseguirmos fazer tudo isso todas as semanas. E é aqui que entra a parte mental. Temos de estar sempre focados, preparados para essas exigências que temos e preparados para corresponder da melhor maneira. Tenha pressão ou não tenha. Esteja o estádio com 60 ou 20 mil adeptos. Temos de estar prontos para tudo.
ZZ: O que esperas que este desafio no Bristol te traga para o futuro? Sabemos que o clube tem opção de 6 milhões…
PP: O Bristol ajudou-me a ter a confiança em mim que precisava. Em Itália é um estilo de jogo mais defensivo e aqui pude aventurar-me mais ofensivamente e sentia a falta disso. De ter a confiança de ajudar a equipa a atacar. Acho que foi muito importante para mim. Fez-me ter confiança nessa parte que já não tinha há algum tempo. Sinto-me um jogador melhor e pronto para o que tiver de acontecer no futuro.
ZZ: O que gostarias de nos contar daqui a um ano?
PP: Gostava de dizer que continuo feliz, que estou a jogar e mais perto dos meus sonhos. Seja o sonho da seleção, o sonho de atingir os objetivos que tenho pessoais e de clubes. Gostaria de dizer que estou feliz e no caminho certo.