Foi o Académico de Viseu quem fez história no Fontelo, num encontro com o Canelas 2010 em que se chegou a avistar o prolongamento. As duas equipas sabiam que fosse qual fosse o desfecho haveria a primeira presença em meias-finais da Taça de Portugal para uma das formações e foi o Académico que venceu, marcando dois encontros com o FC Porto na penúltima fase da prova-rainha.
Já muito perto do fim do tempo regulamentar, o australiano Anthony Carter foi herói em Viseu, com um desvio de cabeça que deitou por terra as aspirações de um Canelas que, ainda assim, também fez história nesta competição.
O Académico de Viseu é de LigaPro, está a fazer uma época tranquila no segundo escalão e sentia o conforto de casa. Embora muito longe de encher - até por ter um tamanho considerável -, o Estádio do Fontelo jogava também a favor dos anfitriões. Já o Canelas 2010 é de outra realidade: na época passada estava nas distritais, está agora no Campeonato de Portugal. Se para os viseenses estar nesta fase já era um sonho, para os gaienses ainda mais inusitada era a situação.
As diferenças existiam e viam-se desde cedo, ainda que alguns atributos do Canelas 2010 as conseguissem esconder em alguns momentos. O Académico de Viseu de Rui Borges queria ter mais iniciativa, apoiando-se numa melhor qualidade técnica do que o adversário para procurar João Mário e Jean Patric lá na frente. Com momentos de definição pouco eficaz, porém, surgiam oportunidades para o Canelas ter bola e procurar os ataques para o espaço vazio. Na teoria, o médio Bruno Costa seria elemento desequilibrador da equipa de Vila Nova de Gaia, atrás da referência Baba Zakari.
Na prática, o jogo do tal Bruno Costa nem dez minutos durou, porque o médio lesionou-se e foi substituído por Leonardo Rodrigues (Léo). É o Canelas que tem fama de equipa agressiva, mas até era a equipa gaiense que começava por sofrer com entradas dos visitantes. Logo depois dessa lesão, e na sequência de um mau atraso do central Nando, João Mário tentou ganhar a bola sobre o guarda-redes Raphael Melo numa possível ocasião de golo e o guardião canelense saiu mal-tratado, em novo momento de preocupação para o treinador Tiago Margarido.
O jogo era de luta, sem momentos claros de golo, ainda que se destacasse nos primeiros 20 mintuos um livre direto de imenso perigo batido por Francisco Sousa, do Canelas, a obrigar Ricardo Fernandes a uma grande intervenção. O Académico de Viseu respondia no futebol mais apoiado, com João Mario e Jean Patric a criarem algum perigo à passagem da meia hora, antes de o mesmo Francisco Sousa (outra vez a obrigar Ricardo Fernandes a aplicar-se) e o médio Vítor Borges (num livre) criarem problemas perto da baliza viseense com o intervalo a aproximar-se e o marcador a manter-se nos zeros.
Era o que tínhamos visto numa tarja exposta por uma muito entusiasmada claque viseense, ciente do caráter histórico do momento e de que com uma boa noite em casa o Estádio Nacional ficaria a dois (muito difíceis) passos. A equipa de Rui Borges queria recompensar a dedicação dos adeptos e entrava em jogo na segunda parte com uma atitude ainda mais dominadora, desta vez sem dar grandes espaços ao Canelas, que não conseguia também ter bola.
Jean Patric subiu o nível exibicional a partir do flanco esquerdo, mas foi do lado oposto que chegaram avisos sérios nessa segunda metade, com Bruninho a rematar a rasar o poste em dois momentos quase consecutivos, antes de Jorge Miguel obrigar Raphael Mello a mais uma boa intervenção na baliza do Canelas.
Com o passar do tempo e o empate a zero a manter-se, aumentava o nervosismo nas bancadas viseenses, mas já dentro dos descontos e num cruzamento de Fernando Ferreira apareceu o australiano Anthony Carter, que tinha entrado aos 81', a cabecear para o fundo das redes e a reduzir o Canelas a um último fulgor de tudo-por-tudo que foi insuficiente.
O Canelas 2010 caiu de pé em Viseu, conseguindo pelo menos temporariamente deixar de lado a fama negativa. E o Académico de Viseu continua a sonhar com o Jamor.
O Canelas foi competitivo, de luta, por vezes com momentos de agressividade, mas sem ultrapassar os limites do razoável em Viseu.
Foi até o Académico que começou por causar problemas físicos aos visitantes, obrigando a uma mudança nos primeiros minutos. O guardião da equipa gaiense teve também dificuldades, mas resistiu.