Foi com uma série de sobressaltos, à imagem de toda a prestação nesta fase de grupos, que o FC Porto assegurou em casa, na última jornada, o apuramento para os 16-avos-de-final da Liga Europa, com um triunfo por 3x2 frente ao Feyenoord em que todos os golos surgiram em 20 minutos da primeira parte... e que acabou até por valer o primeiro lugar do grupo G.
Meio jogo de muitas falhas defensivas, uma boa dose de anarquia e o FC Porto a conseguir falhar menos e aproveitar mais do que o adversário... não muito menos, não muito mais, mas o suficiente para sobreviver e continuar a mostrar-se na Europa, tendo ainda beneficiado muito do empate em Glasgow entre Rangers e Young Boys, que permite que os dragões se apurem com direito a estatuto de cabeças-de-série.
Como se explicam cinco golos em 20 minutos, quatro desses golos ao longo de apenas oito? Com um q.b. de eficácia ofensiva, mas acima de tudo com falhas defensivas nos dois extremos do campo. Os primeiros a falhar foram os elementos da defesa do Feyenoord, os portistas também vacilaram lá atrás e permitiram que os holandeses reentrassem na discussão. Uma primeira parte instável, quase sempre em aberto, em vários sentidos da palavra.
A tentar recuperar dos nervos da deslocação ao Jamor, Sérgio Conceição tinha feito regressar a dupla colombiana Uribe-Luis Díaz e o número 7, em particular, dava outra criatividade ao ataque portista desde muito cedo. Foi dele o primeiro aviso, aos 6', com um remate forte em que o guarda-redes Marsman, que está longe de ser primeira opção no plantel dos holandeses, se mostrou bem, para começar.
Com uma falta de Otávio - que andava quase sempre pela zona central - à entrada da grande área nasceu o primeiro aviso dos visitantes, que tiveram muito apoio na zona da bancada que lhes foi destinada. Livre frontal, quase toda a equipa portista na barreira e uma bomba de Berghuis - porventura o mais perigoso dos elementos do Feyenoord - a obrigar Marchesín a uma grande defesa.
Tudo corria às mil maravilhas para o FC Porto, com vantagem de dois golos e com o controlo do jogo, mas o Feyenoord viria a descobrir espaços que não deveriam ter existido para marcar posição. Num pontapé de canto, Pepe acompanhou Marcano na marcação a um adversário e um outro homem apareceu nas costas do luso-brasileiro: Eric Botteghin, central brasileiro com longa carreira na Holanda, reduziu a desvantagem de cabeça.
Tinham passado quatro minutos desde o primeiro golo, já íamos nos 2x1 e o Feyenoord não precisou de muito mais tempo para empatar a partida: Malacia, em busca da redenção, descobriu Larsson e assistiu para um desvio subtil do sueco na direção da baliza de Marchesín, perante uma oposição mansa de Pepe.
Foi o mesmo Pepe que ameaçou nova vantagem portista, com um cabeceamento num livre lateral, mas foi um muito ativo Soares quem a conseguiu, na sequência de um lance rápido portista: cavalgada de Marega pela direita, atraso para o remate de Otávio, defesa em contrapé e insuficiente de Marsman e Soares a arranjar forma de encostar a bola e repôr a vantagem do FC Porto, com um golo na raça a premiar uma exibição na raça dos portistas ao longo de uma primeira parte de loucos.
Por outro lado, o FC Porto não se livrava de ser uma equipa instável, a oscilar a nível exibicional, e por isso parecia até adequado que a vitória se mantivesse em causa. Também a segunda parte foi de nervos, embora desta vez sem golos, para bem dos portistas.
O FC Porto até entrou melhor nessa segunda metade, a trocar bem a bola e a manter o Feyenoord afastado, mas os holandeses não baixaram os braços e a partir dos 70' tiveram dois momentos em que os portistas não sofreram quase por milagre... primeiro com o poste a evitar que Corona borrasse a pintura, depois com Marchesín a ser enorme perante Narsingh.
Os dragões viam-se em dificuldades - apesar dos dois resultados, tendo também em conta que o Rangers ia vencendo o Young Boys... mas não só conseguiriam manter a vantagem até ao fim como teriam a notícia de um golo suíço por terras escocesas que veio a dar o tal estatuto de primeiro classificado ao FC Porto.
Díaz voltou à titularidade e o FC Porto criou desde cedo perigo por aquela zona. Até demonstrar desgaste, o colombiano foi muito interventivo, tal como Alex Telles, num flanco esquerdo com profundidade e qualidade ofensiva. Até foi a partir daquela zona que Soares cruzou para um auto-golo do Feyenoord.
De um lado e do outro, sendo que as falhas do Feyenoord acabariam por ser mais prementes... e mais castigadas. Um jogo muito partido devido a falhas de posicionamento, na marcação e no desarme, a contribuir para a tal sensação de anarquia.