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    Clube che continua sem estabilidade

    Quando o dinheiro não traz felicidade: Valencia, um vulcão em erupção

    2019/11/14 18:13
    E4

    Longe vão os tempos onde em Valência se queria, sonhava e a obra nascia. Os ventos dos novos tempos, malditos tempos, levaram consigo a essência de um morcego, qual Batman, habituado a salvar o futebol espanhol das amarras dos poderosos inimigos.

    Desde 2004/05, a tendência foi a de uma queda a pique, financeira e, sobretudo, desportivamente. Os troféus deixaram de fazer parte do museu e as dificuldades económicas dificultaram, durante anos consecutivos, a tarefa de ombrear com os grandes, motivando um divórcio entre a sempre calorosa massa adepta e um clube à deriva num oceano de problemas.

    Marcelino Toral
    Valencia
    Total

    110 Jogos
    55 Vitórias
    29 Empates
    26 Derrotas

    168 Golos
    107 Golos sofridos

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    Há sensivelmente cinco anos, a incessante procura de um investidor lá deu resultado. Depois de alguns avanços e recuos, 300 milhões de euros (por mais de 70 por cento das ações) de um magnata singapuriano cobriram uma dívida tão grande que em tempos forçou vendas de estrelas como Juan Mata, David Silva ou David Villa.

    A época 2014/15 marcou, por isso, o início de uma nova vida. Investimento, nova estrutura, nova equipa técnica, novos jogadores. O português Nuno Espírito Santo foi a primeira escolha da 'era Lim' e a desconfiança fez-se sentir no imediato. Desde logo, porque se tratava de um cliente de Jorge Mendes, mas a falta de experiência também provocou burburinho entre os mais descrentes. A chegada de nomes como André Gomes, Rodrigo Moreno ou Álvaro Negredo acabou por alimentar a esperança e dar asas a uma temporada globalmente bem conseguida. O quarto lugar superou os registos das duas épocas anteriores e só um tal de Unai Emery havia conseguido melhores resultados internos. 

    Marcelino e Alemany tinham relação próxima ©Getty / David S. Bustamante/Soccrates
    Embora longe de cair nas boas graças dos valencianos, Peter Lim devolveu uma fé há muito perdida e o Mestalla foi, aos poucos, ganhando cada vez mais cor. Mítico recinto esse comparado a um caldeirão escaldante que atormenta qualquer adversário. Quando menos se esperava, o clique acabou por ser no botão errado. E a polémica instalou-se.

    No ano seguinte, Nuno não resistiu à pressão dos maus resultados e provocou um enorme rebuliço num corpo diretivo que deu início a uma autêntica e desajeitada dança das cadeiras. Ora, Gary Neville, Pako Ayestarán, Voro, Cesare Prandelli. Apostas arriscadas - grande parte sem experiência - e algo incompreensíveis que apenas deterioraram relações com os adeptos e quase levaram a uma espécie de golpe de estado. 

    Marcelino, o pacificador

    Em 2017/18, o obreiro do renascimento do Villarreal, Marcelino García Toral, em litígio com a direção do Submarino, apareceu em cena como a nova cara de Lim e companhia. Alterações profundas foram levadas a cabo a nível interno e com o técnico chegou Mateu Alemany, ex-presidente do Mallorca, para o cargo de diretor-geral.

    Marcelino Toral
    2 títulos oficiais

    As melhorias foram, de facto, evidentes. Houve quem considerasse Alemany a «melhor aquisição» do novo proprietário, até porque, em termos de gestão, era difícil, se não impossível, apresentar registos positivos em tão pouco tempo. 

    Com alguns altos e baixos pelo meio, os dois quartos lugares (2017/18 e 2018/19) trouxeram um novo alento. O futebol praticado começou a agradar, o plantel uniu-se e os homens certos encontravam-se nos lugares certos.

    O que naturalmente seria a cereja no topo do bolo acabou por ser o ponto de rutura. A Taça do Rei, erguida unicamente (!) por Dani Parejo na temporada transata, ganha ao Barcelona (1x2) numa final extremamente emotiva, mais pareceu um fruto proibido. 

    Marcelino festeja com os adeptos a conquista da Taça do Rei ©Getty / David S. Bustamante/Soccrates

    O início do descalabro

    Foram 11 anos de seca que chegaram ao fim, mas esse momento, tão especial para a maioria, não agradou aos homens fortes que queriam esquecer a Taça para apostar todas as fichas no apuramento para a Liga dos Campeões, meta igualmente atingida no final de 2018/19.

    De acordo com os relatos da imprensa espanhola, as reuniões entre Marcelino, Alemany e Peter Lim intensificaram-se e, como descreve o La Vanguardia, o «mero desacordo passou a um verdadeiro conflito».

    O caldo entornou-se na madrugada do particular de pré-época frente ao Sporting (leia aqui) e deu-se início a uma verdadeira hecatombe. Anil Murthy, presidente e figura pouco presente até então, assumiu a pasta das negociações e não se livrou de uma chuva de críticas.

    Marcelino recebeu guia de marcha devido a algumas intervenções públicas numa altura em que Alemany começou a perder poderes na estrutura. As divergências na política de contratações causaram desconforto e o técnico não se conteve: «Se Rodrigo sai [falou-se na possibilidade de rumar ao Atlético de Madrid] há que mudar os objetivos», «Se o clube e o jogador querem ficar... [sobre Lee Kangin, promessa sul-coreana que estava na porta de saída]», e «Vamos ver os investimentos de Sevilha e Betis... a próxima temporada vai ser complicada», foram algumas tiradas que não agradaram a Lim que, por sua vez, as encarou como faltas de respeito.

    Por outro lado, Alemany concluiu que os seus ideais não iriam ao encontro do modelo desportivo pretendido e, depois do técnico e do seu braço direito Pablo Longoria, diretor-desportivo, abandonou o barco. 

    Marcelino Toral
    2 títulos oficiais

    Ainda que os motivos apontados sejam vários, Alemany, mas sobretudo Marcelino, contavam com o apoio da massa adepta e do grupo de trabalho, sendo que alguns jogadores, como Ezequiel Garay expressaram profundo desagrado através das redes sociais.

    «Depois de muitos anos contigo (não só em Valência) sei perfeitamente como és, tanto profissional como pessoalmente. Mas não sou só eu que tenho essa ideia, demonstraste-o a todo o Mundo. Porque o caminho faz-se caminhando e tu fizeste um percurso limpo, transparente e são. Sais pela porta grande, mister. Quem tomou esta decisão NÃO só te levou a ti, arrastou toda uma equipa e adeptos, algo que digo alto e claro: NÃO É JUSTO», pode ler-se no Instagram oficial do defesa argentino.

    Como se não bastasse, as conferências de imprensa de despedida promovidas pelas duas figuras centrais do clube foram efetuadas num clima de lágrimas, incredulidade e impotência perante a situação.

    «Estou 100 por cento seguro de que o que detonou esta situação foi a Taça do Rei. Durante a temporada recebemos mensagens diretas de que tínhamos de rejeitar a competição. Os adeptos queriam ganhá-la, os futebolistas queriam lutar por ela e havia a convicção de a vencer», disse Marcelino, visivelmente emocionado.

    «A mim, da parte do clube, ninguém me deu uma explicação concreta das razões pelas quais deixei de ser diretor-geral do Valencia. Nem proprietário nem presidente. Isso doeu-me imenso», revelou Alemany, que admitiu não ter sido consultado na possível venda de Rodrigo e na contratação de Thierry Correia ao Sporting.

    Novo Mestalla vai ser inaugurado na época 2022/23 ©Getty / Manuel Queimadelos Alonso

    Uma Celades de dores de cabeça

    Atirado aos leões, um jovem e estreante Albert Celades decidiu assumir o leme de um navio em risco de naufragar. Murthy, no ato da apresentação, justificou a aposta no antigo adjunto de Julen Lopetegui por «partilhar da filosofia do Valencia» relativa aos jovens jogadores, para além da ideia de jogo - futebol de posse -, mas também é certo que se trata de um nome próximo... a Jorge Mendes.

    Peter Lim continua a não ser bem visto pelos adeptos che ©Getty / David Aliaga
    Os meios de comunicação do país vizinho chegaram mesmo a descrever o balneário che como um «cemitério», já que, na conferência de imprensa de antevisão ao primeiro duelo contra o Chelsea, os jogadores negaram-se a sentar ao lado do novo timoneiro.

    O início não foi fácil e a estabilidade parece um alvo inatingível. Marcelino e Alemany, os fantasmas do passado continuam a assombrar um Mestalla que nos dias que correm mais parece um vulcão em erupção.

    Comentários

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    motivo:
    Correção
    2019-11-15 12h19m por mCihhh
    "Foram 15 anos de seca que chegaram ao fim (. . . )"

    Após o título da Liga Espanhola em 2004, o Valência ainda conquistou uma Taça do Rei em 2008. https://www. zerozero.pt/edition. php?id=1683

    Logo, não foram 15 anos, mas sim 11. Ainda assim, muitos anos de seca.

    Ainda me lembro de os ver chegar a duas finais da Liga dos Campeões seguidas em que perderam as duas, a segunda nos penáltis. Nem o grande Cañizarres lhes valeu.
    Agradecimento
    hm por zerozero.pt
    Muito obrigado. A notícia foi alterada com base no comentário acima.
    Thierry Correia
    2019-11-15 10h31m por Helder26
    Veremos, daqui a alguns anos, se valeu a pena a sua contratação pela quantia que foi. Para já, está longe. Mas quem pode crescer devidamente, estando inserido num clube destes?
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