Caro leitor, tem netos? Se tem, vá festejar com eles. Se não tem, nunca mais se esqueça deste 10 de julho de 2016 para um dia lhes contar. Foi 1966, foi 1984, foi 1996, 2000, 2004, 2006, 2012. Tudo para trás. A Europa e o Mundo são de Portugal! Vitória em França, contra a França, quase 100 minutos sem Ronaldo e com Éder (sim, esse que tanto foi criticado) a fazer o golo dos sonhos. O sonho está concretizado: cumpriu-se Portugal!
Podíamos pensar nisso tudo, mas o minuto 8 bloqueou qualquer análise. Payet entrou com tudo sobre Cristiano Ronaldo (mesmo que sem maldade) e o joelho do português sentiu bastante a pancada. Foram 17 minutos de dúvida e de hesitação, mas, após um contra-ataque, percebeu-se que o pior estava para acontecer.
a vida é o Payet e eu sou o Cristiano Ronaldo pic.twitter.com/GY28DEAiE2
— cid (@vesgoleo) 10 de julho de 2016
Claro que qualquer equipa fica mais frágil sem um jogador como Ronaldo. Mas a mudança até serviu para equilibrar o jogo, quer porque Portugal despertou, num claro sinal de que, agora, seriam 11 figuras a trabalhar para um objetivo que parecia mais utópico, quer porque a França, estranhamente, caiu muito de qualidade.
Só Sissoko cavalgava num jogo que decaiu muito de qualidade e se tornou rapidamente uma batalha de cautelas. No meio-campo, os franceses eram muito mais robustos e Adrien e Renato Sanches exageraram nas hesitações e abusaram nos passes a queimar - um pouco também à custa do relvado. Valia William, com uma serenidade incrível, e a dupla de centrais.
Ai Portugal fazia um jogo nojento? Pois bem, aí estava ele. Na segunda parte foi muito assim. A seleção portuguesa serviu aos críticos a verdadeira crítica, adormecendo ao máximo o jogo e esperando pelos franceses. Mas... é esta França uma equipa que joga um futebol deslumbrante? Ficou visto que não. Se os lusos estavam retraídos, os gauleses não estavam menos, recuados a fechar os espaços entre linhas e à espera de um mísero buraco para fazer a diferença.
Isso, em raras vezes, surgiu e o perigo rondou a baliza portuguesa. Normalmente, era nos flancos que a diferença se fazia, já que Guerreiro fez o seu jogo menos bem conseguido na prova e Cédric ficou condicionado muito cedo com o amarelo que recebeu. Então quando Deschamps mexeu, e bem, do seu lado esquerdo, Coman explorou isso ao máximo, com a sua velocidade explosiva. Moutinho entrou para dar outra frescura e lucidez e melhorou ligeiramente a equipa na zona central. Mas a maior mudança viria depois.
Claramente que Fernando Santos tem méritos e um dos principais é a capacidade de ser cerebral e frio. Outra delas é o conhecimento dos seus jogadores. Um pormenor: na votação para o onze desta final, Éder foi o jogador de campo menos votado pelos nossos leitores. Percebe-se. Ninguém apostaria no camisola 9. Quem diria...
Foi com uma enorme secura de sangue que, quando ninguém o previa, os portugueses viram a bola de Gignac (entrou muito bem na vez de Giroud) no poste, depois de Pepe ficar para trás. Mas a sorte estava do lado dos audazes.
Até podia fugir quando a trave tirou o golo a Guerreiro, já num prolongamento onde a França acabou fisicamente. Mas havia Éder. Quem mais podia ser o herói improvável? Bola ganha no meio dos franceses, conduzida com vontade de 11 milhões para a zona central e disparo para... O melhor momento da história do futebol português.
Depois? Depois foram incríveis e inesgotáveis os heróis em campo e as gargantas fora. A França ainda faria mais uma substituição, lançando peças para a frente, mas não chegou para incomodar.
A glória. Eis a glória!