Depois de muita expectativa, o FC Porto anunciou dois reforços de inverno de uma assentada: Majeed Waris e Paulinho. E se o médio brasileiro, pelo papel de destaque no Portimonense, pôde ser estudado à lupa por quem acompanha o futebol português ao longo da primeira metade da época, o avançado ganês é uma história diferente.
Proveniente do Lorient, Waris chega por empréstimo com opção de compra (seis milhões de euros) e com números que não impressionam, diga-se desde já. Oito jogos e dois golos na primeira metade da época, por uma equipa que atua no segundo escalão francês, não são propriamente um cartão de visita notável. O que levou, então, o FC Porto a fazer esta aposta? O zerozero convidou Marco Martins, jornalista desportivo da Radio France Internationale, a traçar um perfil do avançado ganês de 26 anos que os dragões trouxeram de França.
«É um jogador, para mim, parecido com o Miccoli. Pode jogar sobre as alas, é móvel. Não é para mim propriamente um 9», começa por explicar o jornalista que, pelo papel que desempenha em Paris, acompanha diariamente o futebol francês de vários escalões.
Em que sistema encaixa, então, Majeed Waris? «Ou em 4x4x2, em que ele joga como segundo avançado, ou em 4x3x3 ele pode jogar nas alas. Não tem muitos problemas em descair para as alas. Mesmo num 4x4x2 ele descai um bocado sobre as alas. Gosta de levar a bola para o lado, para tentar algumas fintas, e depois picar para o meio para tentar rematar».
Numa altura em que o rendimento de Corona continua longe do ideal e Sérgio Conceição vai experimentando outros jogadores nas alas - Layún ou Ricardo Pereira -, poderá Waris ser também uma opção para os flancos em zona de meio-campo? O nosso entrevistado não acredita nisso.
«Não o vejo a ser um jogador que seja mais médio, que faça os esforços para vir atrás defender, depois cruzar e quase não entrar no espaço dos dois avançados. Vejo-o mais num 4x3x3. Será uma alternativa a Aboubakar e Marega? Sim, para mim sim, ou ao Brahimi quando ele está mais perto do avançado».
Desta forma, passamos a conversa para o histórico de Waris, numa carreira que tem sido de altos e baixos a nível de estatística individual. Foi precisamente no Valenciennes que Waris iniciou a carreira em França. Uma carreira que teve rapidamente uma interrupção face ao chamamento do Spartak Moscovo, numa primeira fase, e do Trabzonspor, numa segunda.
«Foi para a Rússia e para a Turquia e não fez épocas excecionais. Tentou relançar-se no Lorient. Por um lado conseguiu, porque voltou a marcar, mas acabou por ficar com o intuito de sair».
O Lorient, salienta Marco Martins, caiu do primeiro para o segundo escalão na última temporada. E foi no segundo escalão que o rendimento de Majeed Waris baixou de forma abrupta, depois de um verão em que os rumores de uma transferência não se concretizaram.
«Havia propostas de Inglaterra, mas o presidente do Lorient é um bocado chato e não o deixou sair, queria apostar nele para a subida. [Agora] a equipa está bem, está a lutar pela subida, mas ele não conseguiu impor-se. Não conseguiu talvez jogar num campeonato mais físico do que é a primeira divisão. A segunda divisão francesa é mais física, a técnica é importante mas não tanto como noutras Ligas e noutros níveis».
Resultado: Waris não rendeu o que se esperava no início da época. E isso originou problemas: «Acabou por estar no banco, e também não é um jogador que fique muito satisfeito ao estar no banco. Se tem problemas de atitude? Quando tens vontade de sair, o clube diz para ficares e depois não apostam assim tanto em ti, acho que podes ter razões para estares um bocado chateado».
«Eles começaram bem, têm um avançado mais jovem gabonês [n.d.r.: Denis Bouanga] que tem sido uma das estrelas da equipa e o Lorient não tem jogado assim com tantos avançados na frente. O treinador, que é o Mickael Landreau, antigo guarda-redes do PSG, não tem apostado assim tanto nele. É um jogador que se mostra insatisfeito, fica descontente quando não é opção, quando está no banco. Se não tem o que quer pode ficar rapidamente insatisfeito».
A verdade é que Waris vai agora encontrar um treinador com histórico de punho de ferro. Um fator positivo, explica-nos o jornalista da RFI: «Muitos jornalistas aqui até me diziam que certamente vai fazer bem ao Waris estar com um treinador como o Sérgio Conceição, porque quando ele começar a protestar o Sérgio Conceição vai cair-lhe em cima».
E porquê, então, a aposta do treinador portista neste jogador em particular? «Acho que o Sérgio Conceição fez um trabalho de scouting importante aqui em França. Quando ele esteve no Nantes foi ver todos os jogadores que podiam reforçar o Nantes na pré-temporada. Lorient é perto de Nantes, ele já conhece aquela região, a Bretanha, e acho que [Majeed Waris] era um dos nomes, tal como o Valentin Rongier, o médio do Nantes que ele tentou levar para o FC Porto. Ele certamente tinha muitos nomes na lista e tentou ver quais eram acessíveis».
No que toca à integração no plantel portista, esta não deverá ser difícil. Até porque, como salienta Marco Martins, há muito em comum entre o ganês Waris e o trio de jogadores africanos - Brahimi, Aboubakar e Marega - que tem feito furor no ataque: «O facto de terem todos estado no futebol francês, de falarem francês... e todos eles jogaram na Bretanha. Estão habituados ao tempo da Bretanha, que é quase como o do Porto».
A descrição está feita, faltará aos adeptos ver, de facto, o que vale Majeed Waris. Será a final four da Taça CTT a primeira oportunidade?