A transferência de Rafa arrastou-se durante semanas e vários foram os destinos que lhe foram apontados. A mudança acabou por acontecer por muitos milhões de euros. Agora que o frenesim do mercado terminou, sente-se, relaxe e aceite o bilhete (de borla) que o zerozero tem para si e assista ao "filme" da vida do novo reforço do Benfica.
Rafael Alexandre Fernandes Ferreira Silva tem 23 anos, feitos a 17 de maio, e é o protagonista da maior transferência da história entre clubes portugueses. O zerozero foi conhecer melhor a história de vida do rapaz que não tem tiques de vedeta ou caprichos de estrela.
Nascido no Barreiro, cresceu na freguesia do Forte da Casa e foi na Póvoa de Santa Iria, a cerca de três quilómetros de habitação familiar, que deu os primeiros pontapés na bola, então no União Atlético Povoense.
O sonho deste apreciador de uma boa açorda de marisco (sobretudo se for feita pela Dona Fátima - a mãe) era igual ao de tantos e tantos miúdos por esse Portugal (e por esse mundo) fora: ser jogador da bola. Mas este sempre mostrou algo diferente e, por isso, rapidamente passou para o Alverca.
Portugal vivia a euforia (que depois se tornou depressão pós Euro 2004) e no Ribatejo era descoberto Rafael, rapaz baixinho e de físico franzino. Este fã dos videojogos FIFA e Call Of Duty era um perfeito desconhecido do grande público e foi no anonimato que anos mais tarde, nos idos de 2012, chegou a Santa Maria da Feira para treinos de captação na terra da fogaça. Fez três e convenceu.
«Tínhamos que arranjar estadia para o Rafa (casa e alimentação), algo que não era muito fácil para o Feirense. O Rafa foi ao Boavista, mas não ficou no clube. O Feirense ficou com o Rafa e o clube conseguiu a alimentação e a estadia», confissão de Adolfo Teixeira sobre o miúdo de «poucas palavras» e que adora cães.
Falava pouco mas dele já se falava tanto que aos ouvidos de Henrique Nunes chegavam diariamente elogios sobre o puto dos juniores. «Já era um homenzinho», revelação feita ao zerozero, em fevereiro deste ano, pelo treinador da equipa principal do Feirense na época. Também o mister nos fez o raio x ao agora reforço dos tricampeões nacionais.
Já lhe chamaram o Hazard português e dele todos nos dizem que «é um miúdo que sabe bem o que quer». O jogador, que podia ter ido encher a conta bancária com dinheiro russo, preferiu ficar em Portugal, no Benfica de Rui Vitória.
Do anonimato nas terras do ribatejo até à chamada ao Mundial 2014 até parece que foi um instante. «Trabalhei para chegar o mais longe possível. Não esperava estar aqui, mas estou orgulhoso. Mundial? É o sonho de qualquer jogador. O trabalho pode ser bem compensado no final», disse Rafa Silva, na altura em que foi chamado a representar a equipa das quinas na prova do Brasil.
Do Ribatejo até ao Estádio da Luz, com paragens em Santa Maria da Feira e Braga, o tempo contou anos e adicionou experiências. Rafa está no topo mas não deixa a humildade de lado.
«Agora é muito fácil serem amigos do Rafa. O miúdo é de Alverca, de Lisboa, mora sozinho, coloquem-se no lugar dele. Ao sábado à tarde nós jogávamos futebol e, depois do jogo, eu levava o Rafa no meu carro e levava-o a jantar», desabafou Adolfo Teixeira ao zerozero, na tal conversa em maio, sobre este filho de um antigo guarda-redes que chega agora ao Benfica.