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    Steaua

    Texto por Pedro Marques Silveira
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    O Fotbal Club Steaua Bucuresti nasceu a 7 de junho de 1947, durante um dos períodos mais tumultuosos da história do país, quando o país se tornou numa República Popular. 

    Debaixo da mão-de-ferro do governo do Marechal Antonescu, a Roménia havia lutado ao lado da Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial e trocara de lado em 1944, quando as forças soviéticas começavam a entrar no país. O Rei Miguel I havia sido reconduzido no trono, mas o exército vermelho controlava grande parte da Roménia.

    Os comunistas venceram as primeiras eleições depois do fim do conflito, mas o ato eleitoral terá sido uma fraude orquestrada com o apoio soviético. Após perseguir os adversários políticos, e os afastar, os comunistas forçaram o rei a abdicar a 30 de dezembro de 1947. Horas mais tarde, o parlamento abolia a Monarquia e proclamava a República Popular, acabava assim a última Monarquia do Bloco de Leste. 

    Mudam-se os tempos...

    Enquanto a Roménia se transformava numa República Popular, toda a sociedade, do Governo aos clubes de bairro, passava por grande transformação.

    O clube nascera meses antes, com o nome de ASA Bucureșsti (Asociatia Sportivă a Armatei Bucuresti) fundado por oficiais pertencentes à Guarda da Casa Real, que jogavam em diversos clubes e acharam por bem passarem a jogar juntos na mesma equipa.

    O decreto que fundara o clube fora assinado pelo próprio Chefe de Estado Maior do Exército Real da Roménia, o General Mihail Lascar. A nova agremiação teria sete desportos, sendo o futebol um deles. O Major-General Oreste Alexandrescu tornou-se no primeiro responsável da equipa. Coloman Braun-Bogdan foi o eleito para treinar a equipa que partiu para um estágio em Sinaia, nas montanhas. 

    Arranjar equipamentos completos e botas foi a primeira dificuldade que o clube teve de ultrapassar. Em tempo recorde reuniu-se uma equipa e o ASA estava preparado para competir no segundo escalão. 

    Mas com o fim do regime, o controle do clube mudou de mãos, quando a nova lei obrigava a que todos os clubes pertencessem a um sindicato, a uma confederação laboral ou a um departamento de um ministério.

    Uma das primeiras medidas das novas autoridades foi mudar o nome do ASA, que passou a ser conhecido por Clubul Sportiv Central al Armatei (CSCA), em português, Clube Desportivo Central do Exército. Dois anos mais tarde, nova mudança, com o clube a passar a denominar-se Casa Centrală a Armatei (CCA), Casa Central do Exército. 

    Primeiras conquistas: a Geração Dourada

    Ainda debaixo da denominação CSCA o nóvel clube conquistou a Taça da Roménia em 1948/49, título que revalidou nos três anos seguintes. Em 1951 chegou a conquista da Liga, na primeira dublă (dobradinha) do seu palmarés, repetida na época seguinte. 

    Com quatro vitórias na liga e cinco vitórias na taça, o clube tornou-se numa referência futebolística do país. A equipa dos anos 50 ficou conhecida como a «Geração Dourada» e os seus nomes ainda hoje são recordados pelos adeptos do Steaua: o guarda redes Ion Voinescu, os defesas Vasile Zavoda e Alexandru Apolzan, os médios Ștefan Onisie e Tiberiu Bone e ainda a frente avançada composta por Gheorghe Cacoveanu, Gheorghe Constantin, Ion Alecsandrescu, Francisc Zavoda, Iosif Petschovsky e Nicolae Tătaru, todos magistralmente conduzidos pela equipa técnica composta por Virgil Economu, Ilie Savu e Ștefan Dobay.

    A «Estrela» de Bucareste

    Em 1961, já depois de ter assegurado um bicampeonato, o CCA viu o seu nome ser alterado novamente, desta feita para Clubul Sportiv al Armatei Steaua, em português Clube Desportivo do Exército Steaua, sendo Steaua a palavra romena para estrela.

    A estrela foi escolhida como símbolo, porque tal como era comum nos países de leste, o exército romeno usava uma estrela amarela na sua insígnia. O Steaua adotou essa mesma estrela para o centro do seu emblema, mantendo o azul e o vermelho no escudo, cores que também se podem encontrar na bandeira da Roménia. Mas não só o Steaua mudava de nome, pois o próprio país deixava de ser a República Popular da Roménia para se tornar na República Socialista da Roménia (Republica Socialistă România).

    O primeiro título sob o nome de Steaua só chegaria em 1965, com a conquista da Taça. Dois anos depois chegava a tão desejada dobradinha. Contudo os anos 60 e 70 foram anos do rival Dinamo, que conquistou oito títulos de campeão, enquanto o Steaua se teve de contentar com três. 

    O factor Ceausescu

    Curiosamente este período de "vacas magras" coincidiu com a subida ao poder de Nicolae Ceausescu, um reconhecido adepto do Steaua, que os adeptos dos outros clubes acusam de ter favorecido, desde que ascendeu ao cargo de Secretário Geral do Partido Comunista Romeno em 1967.

    As ligações da família Ceausecu ao clube são inegáveis, mas durante os quase 22 anos de ditadura de Ceausecu, o Steaua conquistou oito campeonatos, contra os seis que conquistara nos 20 anos anteriores. Curiosamente, depois da instauração da Democracia, o Steaua só precisaria de 16 anos para vencer nove ligas...

    Mas a ligação do regime ao clube não pode ser contornada. Ceausescu não era um grande apaixonado pela modalidade, mas por certo era um apaixonado por tudo que ajudasse a reforçar o seu poder e regime, e um clube vitorioso é uma excelente forma de obter boa publicidade e prestígio. Durante os anos 80 a ligação da sua família ao clube tornou-se umbilical. 

    Nessa altura era comum a claque do Steaua cantar "Poți să fii câine sau poți fi stelist", um cântico que pode ser traduzido por: "Tu podes ser um cão, ou tu podes ser um adepto do Steaua" e que simboliza bem esse período da história do futebol romeno, em que quem não era do Steaua, era como não ter clube.

    Entre 1986 e 1989, o Steaua conseguiu uma impressionante sequência de 104 jogos sem conhecer o sabor da derrota. Uma série que acabou abruptamente dias depois da revolução e da execução de Ceausescu.

    Uma noite em Sevilha

    Mas o grande momento da história do Steaua chegou em 1986 na Taça dos Clubes Campeões Europeus. Depois de eliminar Vejle BK, Honved FC, Kuusysi Lahti FC e RSC Anderlecht, o Steaua tornava-se a primeira equipa romena a chegar uma final europeia.  A 7 de maio de 1986, no Estadio Ramon Sanchez Pizjuan em Sevilha, os Militarii enfrentavam o todo-poderoso FC Barcelona, que perseguia a conquista da sua primeira Taça dos Campeões.

    Com a final jogada em Espanha, o FC Barcelona jogava em casa, o que a somar-se às limitações que os cidadãos romenos tinham para sair do país, tornava o anfiteatro andaluz num imenso mar blaugrana.

    Helmuth Duckadam, o guarda-redes de ascendência alemã seria o grande herói da final, ajudando o Steaua a chegar até às grandes penalidades, onde conseguiu o feito de defender todos os remates dos catalães (4) e ser decisivo para a vitória por 2x0 (graças às conversões de Balint e Lacatus).

    Poucos tinham sonhado que aquela equipa comandada por Emerich Jenei e Anghel Iordănescu chegaria ao topo da Europa. Mas olhando para o onze com Duckadam na baliza, um quarteto defensivo com Iovan, Belodedici, Bombescu e Barbulescu, uma dupla avançada com Lacatus e Piturca, apoiados por um meio campo com Balint, Balan, Bölöni e Majearu, percebe-se o porquê do feito dos jogadores Ros-Albastrii, a juntar a uma defesa coriácea, havia um meio-campo cerebral e um ataque "vampiresco", que raramente perdoava uma desatenção ao adversário. 

    O preço da vitória

    Stefan Iovan levantou a Taça e a equipa regressou a Bucareste onde foi recebida com pompa e circunstância. Ceausescu não perdeu a oportunidade de aproveitar o significado da vitória. Pela primeira vez um clube para além da "Cortina de Ferro" conquistava a mais importante competição europeia. 

    Desde a subida de Ceausescu ao poder que a Roménia se distanciara da União Soviética, um pouco à imagem da Jugoslávia de Tito e da Albânia de Enver Hoxha, se bem que ao contrário destas duas, a Roménia fazia parte do Pacto de Varsóvia.

    Desportivamente a Roménia tinha boas relações com o Ocidente, tendo participado nos Jogos de Los Angeles (1984), "furando" o bloqueio soviético. 

    Pôr e dispor

    Como equipa do exército, o Steaua detinha certas regalias que outros clubes não podiam combater. Se um dirigente do Steaua tinha um jogador adversário debaixo de olho, em breve esse clube recebia uma proposta de transferência que dificilmente devia ser rejeitada. 

    Popescu, um dos mais célebres defesas romenos, viu-se transferido do Universitatea Craiova contra a sua vontade e sem consentimento do clube. Um ano depois estava de volta ao clube do sudoeste.

    Hagi foi outro dos jogadores que seria contratado graças à ligação ao Exército. Em 1986, o jovem Gheorghe Hagi brilhava ao serviço do modesto FC Sportul Studențesc București, onde era o melhor marcador do campeonato e tinha ajudado a modesta equipa a chegar ao segundo lugar.  

    O Steaua ia defrontar os soviéticos do D. Kiev que vencera a Taça das Taças e requereu o empréstimo do jogador até ao final da época, para ajudar o clube na Supertaça Europeia.

    As autoridades aceitaram e confirmaram o empréstimo, invocando o interesse nacional. Uma vitória sobre um grande clube da URSS seria uma demonstração do poder do desporto romeno, Ceausescu queria esfregar essa superioridade romena aos líderes em Moscovo.

    Ao Sportul nem o protesto foi permitido e o clube teve que se contentar e aguardar com o regresso de Hagi no final da época. Contudo, nem isso seria possível, pois o impacto de Hagi no futebol do Steaua foi tal, que já não foi autorizado a voltar à sua anterior equipa. 

    O Steaua não se arrependeu e Hagi marcou o único golo que deu a supertaça aos militarii, ajudando a esquecer a derrota com o River Plate na Taça Intercontinental, apenas dois meses antes.

    De novo ##Barcelona

    Depois de duas carreiras menos conseguidas em 1987 e 1988, o Steaua voltou a chegar longe na Taça dos Campeões em 1988/89. Com Hagi a brilhar como cérebro da equipa, o Steaua avançou eliminatória a eliminatória com uma facilidade inesperada. Todos os adversários foram goleados em pelo menos um dos encontros e os militares só perderam um jogo, em Gotemburgo, na primeira mão dos quartos de final (1x0), contudo em Bucareste o IFK Göteborg foi goleado com um claro 5x1. Nas meias finais a vítima foi o Galatasaray, vergado a um pesado 4x0.

    A final seria jogada com os italianos do AC Milan. O clube rossonero avisara ao que vinha, depois de golear o Real Madrid por 5x0 na segunda mão em San Siro. O colosso milanês contava com diversos internacionais transalpinos, de onde se destacavam os incontornáveis Baresi e Maldini na defesa, e Donadoni no banco. Arrigo Sacchi tinha uma equipa de sonho nas mãos, mas a pérola era o tridente holandês "contratado a peso de ouro" pelo presidente Silvio Berlusconi: van Basten, Gullit e Rijkaard. 

    Ironia do destino, a segunda final do Steaua jogava-se em Nou Camp, casa do Barcelona. Os catalães não teriam duvida sobre as suas preferências e o 4x0 final com golos de Gullit e van Basten terá sido uma alegria para os adeptos culés

    A revolução

    Sete meses depois, em sequência da Queda do Muro de Berlim, como um «Castelo de Cartas», as democracias populares do leste da Europa caíram uma atrás da outra, fruto da ambição de mais liberdade e democracia dos seus povos. A Roménia não foi exceção, e os protestos rapidamente evoluíram para uma Revolução, que depôs a ditadura de Ceausescu. Este e a sua mulher Elena, seriam julgados e sumariamente executados no dia 25 de dezembro.

    A Roménia chegava ao fim de um longo e tenebroso período, e o Steaua teve de se adaptar ao novo mundo. Com o fim das barreiras, os jogadores romenos podiam jogar no Ocidente. O Steaua perdeu o monopólio sobre os melhores jogadores e viu as suas principais referências "fugirem" para a Europa Ocidental. 

    Gheorghe Hagi partiu para o Real Madrid, a troco de 4.300 milhões de dólares, Lacatus e Petrescu foram para Itália, respetivamente para a Fiorentina e Foggia. Lung para o Logroñes, Belodedici para o Estrela Vermelha de Belgrado onde voltaria a conquistar a Taça dos Campeões, o capitão de Sevilha, Iovan que seguiu para o modesto Brighton, Stoica para o Lens...

    Novos ventos

    Com a democracia o futebol romeno viveu uma revolução. O Dinamo (1990 e 1992) e o Universitatea (1991) conquistaram os primeiros três campeonatos depois da queda de Ceausescu.

    O Steaua demorou a recuperar do êxodo dos seus principais jogadores. Mas aos poucos voltou a formar uma equipa competitiva que reconquistaria o título em 1993, o primeiro passo para um histórico hexa que igualou o feito do Chinezul Timissoara, que conquistara os mesmos número de campeonatos consecutivos entre 1922 e 1927. 

    Em 1994, a Roménia brilhou no mundial dos Estados Unidos, chegando aos quartos-de-final, com Steaua a ser o clube que cedia mais jogadores à seleção: Daniel Prodan, Ilie Dumitrescu, Basarab Panduru e Constantin Galca. 

    Depois dos seis campeonatos seguidos, o Steaua só conquistaria cinco titulos entre 1998 e 2014, títulos conquistados depois de terminada a ligação do clube ao exército (1998).

    Mudança de identidade

    Em 2015, o clube romeno passou agora a ter a designação de Fotball Club Steaua Bucuresti e o símbolo também mudou. Em causa está uma luta entre os militares, que têm em sua posse o nome, o escudo e as cores do clube, e Gigi Becali, dono do clube que neste momento está preso por corrupção por causa de um negócio feito fora do futebol.

    Em 2004, quando Gigi Becali se assumiu como o novo dono do Steaua e devido ao seu passado e às suspeitas de corrupção, os militares mostraram-se contra a compra do clube por parte do proprietário, considerando-a ilegal.

    Desde aí, houve vários processos em tribunal ganhos por Gigi Becali contra os militares, mas em dezembro de 2014 tudo mudou, quando o Supremo Tribunal entendeu que a aquisição do Steaua por parte de Becali foi ilegal porque utilizava o nome, o símbolo e cores que pertencem ao exército. 

    A partir do momento da decisão do tribunal favorável aos militares, o Steaua passou a jogar sem símbolo e no marcador era identificado como equipa visitada nos jogos em casa e visitante nos jogos fora. Isso aconteceu até ao final do ano, até que em janeiro a direção do clube mudou o nome e o símbolo, mantendo apenas as cores e o estádio.

    O agora Football Club Steaua Bucuresti, considerando a decisão do Supremo Tribunal injusta, recorreu da decisão com o intuito de recuperar o nome, o símbolo e assim manter o palmarés do Steaua.

    A nível internacional, alcançou a fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA em três ocasiões entre 1994-95 e 1996-97, sendo, na época, o único clube romeno a participar desta competição.
     
    Steaua celebra um gol contra o Zagłębie Lubin pela fase de qualificação da Liga dos Campeões da UEFA de 2007-08.
    Em 1998, o clube de futebol se desligou completamente do CSA Steaua, mudando o nome para FC Steaua Bucarest14 e passando a ser administrado pelo empresário Viorel Păunescu.
    Todavia, a administração de Păunescu obteve pobres resultados e em pouco tempo o clube se encontrou afundado em dívidas.15
    Para solucionar isto, se ofereceu, o também empresário, George Becali ao posto de vice-presidente, na espera de que este investiria no clube. Em 2002, Becali tornou-se o acionista majoritário e transformou o clube em uma companhia pública em janeiro de 2003.16
    Por causa de seu caráter controverso, a maior parte dos aficionados do Steaua se mostraram contrários a Becali.17
    A nível esportivo, o clube conseguiu se classificar para a fase de grupos da Copa da UEFA de 2004-05, sendo a primeira equipe romana a integrar o quadro final de uma competição europeia desde 1993. Na temporada seguinte conseguiu avançar até as semifinais da Copa da UEFA, onde foi derrotado pelo Middlesbrough FC, com um gol no último minuto, além de se classificar para a Liga dos Campeões da UEFA após dez anos.
    Na temporada 2007-08 o Steaua conseguiu se classificar para a fase de grupos da Liga de Campeões. Em plano local, conquistou dois novos títulos da liga em 2004-05 e 2005-06 e a Supercopa da Romênia em 2006, este o título de número 50 de sua história.18
     
     Ion Voinescu, defenders Vasile Zavoda and Alexandru Apolzan, midfielders Ștefan Onisie and Tiberiu Bone or strikers Gheorghe Cacoveanu, Gheorghe Constantin, Ion Alecsandrescu, Francisc Zavoda, Iosif Petschovsky and Nicolae Tătaru directed by Technical Consultant Virgil Economu and coaches Ilie Savu and Ștefan Dobay
     
     Ion Voinescu, defenders Vasile Zavoda and Alexandru Apolzan, midfielders Ștefan Onisie and Tiberiu Bone or strikers Gheorghe Cacoveanu, Gheorghe Constantin, Ion Alecsandrescu, Francisc Zavoda, Iosif Petschovsky and Nicolae Tătaru directed by Technical Consultant Virgil Economu and coaches Ilie Savu and Ștefan Dobay

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