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    Tottenham x Arsenal: antes do selo de Invincibles, o título na casa do maior rival

    Texto por Jorge Ferreira Fernandes
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    Terá sido o empate mais saboroso da história centenária deste grande clube de Inglaterra. Se não foi, andou lá perto, porque se poder conquistar um campeonato é altamente importante, poder festejar na casa do maior rival é ainda mais especial e inesquecível. Se juntarmos a isto tudo o facto de se manter vivo o sonho impensável de acabar uma prova tão competitiva e complicada como a Premier League sem uma única derrota, sem um único dia mau, então temos todos os ingredientes possíveis para tocar no coração dos gunners. No 25 de abril de 2004, o Arsenal foi livre de poder festejar o título em pleno White Hart Lane. 

    Este era mesmo um conjunto especial, recheado de craques. O título dois anos antes, em 2002, até teve, quiçá, um maior brilhantismo, mas esta era uma equipa bem mais sólida e organizada na defesa e que contava com um Henry intratável. O francês, num ano em que o coletivo nem sempre construiu tanto como e tão bem como de costume, fez uma parte importante do trabalho sozinho. Golos para todos os gostos, alguns deles decisivos, assistências primorosas, movimentações que confundiam a mais perfeita das organizações defensivas, qualidade técnica para dar e vender, em velocidade ou com mais calma, que o futebol deste craque era para todas as mudanças. 

    Por isso, não estranhe se espreitar a ficha de jogo e não vir lá a bolinha representativa do golo à frente de Henry. O homem que, uns anos mais tarde, teve direito a estátua nem precisou, desta vez, de picar o ponto para que o Arsenal festejasse a mais saborosa das igualdades. Wenger tinha esse descanso, essa sorte, de poder contar com outros jogadores que, atuando uns metros mais atrás, eram capazes de dar à equipa aquilo que ela mais precisava perto da baliza adversária: qualidade de definição e, claro, golo. Desde os alas aos médios, passando pelos centrais, havia sempre alguém para meter a redondinha lá dentro. 

    Àrsene Wenger, uma lenda do Arsenal @Getty / Shaun Botterill

    Antes de partirmos para o jogo propriamente dito, importa colocar em perspetiva este Tottenham. Se a diferença entre os dois rivais do norte de Londres não é assim tão grande a partir da segunda década do século XXI, aqui, em 2004, os spurs estavam bem longe do lado vermelho da capital inglesa. Mais, quando a jornada 35 da Premier League arrancou, a manutenção na mais alta roda do futebol britânico não era, sequer, uma certeza matemática para os habitantes de White Hart Lane. Isto para não recordar, também, a quantidade de anos em que o Arsenal terminou à frente na tabela classificativa. Era preciso recuar quase uma década para ler a ordem de cima para abaixo e encontrar primeiro o nome do Tottenham Hotspur Football Club. 

    Foi a dupla mítica de avançados, formada por Henry e Dennis Bergkamp, a dar os primeiros toques na bola e, também, a construir, essencialmente, a jogada do primeiro golo. Controlo de bola fascinante por parte do francês, finta, aceleração, passe no timing certo, a respeitar o movimento do colega, desmarcação inteligente do holandês que não sabia jogar mal, cruzamento com o peso e a medida certa para Vieira inaugurar o marcador. Uma jogada vintage da equipa que apaixonou Highbury e o Mundo e a certeza que aquele Arsenal estava na casa do principal rival para resolver rápido a questão e fazer a festa. 

    Não deixamos de destacar um parágrafo por cada um dos dois golos dos gunners. É que o segundo momento de festejo trouxe mais uma daquelas movimentações clássicas e desequilibradoras que começavam a deixar os adversários sem soluções. Bergkamp tinha visto Henry brilhar no passe e não quis ficar atrás do seu companheiro de ataque. Pouco passava da primeira meia hora quando o holandês colocou a bola de forma perfeita ou quase para o ataque ao espaço de Vieira. O francês, deslocando-se para a meia esquerda, percebeu que o seu compatriota e habitual ala canhoto Pires fazia o movimento contrário, de aproximação ao centro. A intenção em colocar nesse mesmo espaço estava lá, mas a bola, curiosamente, ao desviar num adversário, ficou ainda mais à mercê de Pires, que abriu as portas para o título.  

    Parecia tudo mais ou menos resolvido, até Jamie Redknapp, filho do futuro treinador dos Spurs, dar uma pontinha de esperança à sua equipa num belo remate de meia distância. O Arsenal aguentou-se até que Lehmann decidiu borrar a pintura, ao cometer uma grande penalidade tão cómica como desnecessária. Robbie Keane, que tinha sofrido a abordagem impensável do guardião, num lance disputado pelo ar, que nem constituía um grande perigo para a baliza gunner, reacendeu todas as dúvidas na marca dos onze metros, mas já era tarde demais.  

    O árbitro apitou para o final e o Arsenal, ignorando parte das recomendações da segurança, partiu para um festejo coletivo, num cantinho da casa do rival. Já tinha sido mais ou menos assim, dois anos antes, quando os gunners, em pleno Old Trafford, puderam materializar pela segunda ocasião o trabalho de Wenger. Não havia maneira de segurar os heróis de Highbury e não faltavam razões para se exteriorizar sentimentos e emoções. O Arsenal tinha feito tudo para conquistar o título e para construir mais uma tarde memorável na era Premier League. Daí a três jornadas, chegaria a cereja no topo do bolo, com o título de Invencíveis. Mas isto de se festejar em White Hart Lane é para os livros, com certeza. 

    Comentários

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    motivo:
    GP
    Quem quiser ver este jogo
    2020-04-25 20h16m por Gprof_isBack
    Que va ao footballia. Foi la que vi o jogo.
    jogos históricos
    U Domingo, 25 Abril 2004 - 16:05
    White Hart Lane
    Mark Halsey
    2-2
    Jamie Redknapp 62'
    Robbie Keane 90' (g.p.)
    Patrick Vieira 3'
    Robert Pires 35'
    Estádio
    White Hart Lane
    Lotação36284
    Medidas100 x 67 m
    Inauguração1899