Dirk Nowitzki acabou a sua carreira na NBA com vários feitos e vamos falar deles todos. Mas há dois que temos de falar já na abertura do texto. O primeiro é simples: Dirk é o melhor jogador europeu da história da Liga norte-americana de basquetebol. O segundo, embora seja mais complicado de explicar, tem também uma importância extrema na NBA como a conhecemos: é que o poste alemão foi o primeiro (houve outros, mas com menos sucesso e eficiência) «gigante» a trazer para a Liga a capacidade de lançar de fora. Depois dele, passou a ser habitual, mas, no final dos anos 90 e inícios dos 2000, ninguém o fazia e Dirk quebrou o molde.
A infância Nowitzki não é igual a muitos dos seus contemporâneos na Liga. Nascido a 19 de junho de 1979, em Würzburg, na Alemanha, Dirk é filho de dois desportistas do mais alto nível da Alemanha. O pai foi jogador de andebol e a mãe jogadora de basquetebol. Os dois eram internacionais e com experiência olímpica. Por isso, não estranhou a ninguém que o filho do casal tivesse desde muito novo duas características. Primeiro, era muito alto. Sempre o foi. Depois, era bom no desporto. Chegou mesmo a ser um dos melhores jogadores jovens de ténis do país, mas acabou por se dedicar ao basquetebol.
Dirk Nowitzki passou a jogar na equipa sénior do DJK Würzburg, que militava na segunda divisão alemã. Em 97/98, conseguiu levar a sua equipa à subida de divisão, tendo mesmo sido eleito o jogador alemão do ano. Nesse mesmo ano, teve uma oportunidade de se mostrar nos EUA, participando num campo de treino da Nike, tendo mesmo derrotado jogadores como Charles Barkley ou Scottie Pippen numa partida em que foi monstruoso. A NBA não estava a dormir e chamou por ele.
Entrou na Liga como a 9ª escolha no draft de 1998. Foi escolhido pelos Bucks, mas uma mega troca entre seis equipas levou-o para Dallas, numa altura em que conseguiam também adquirir o base Steve Nash, dos Phoenix Suns. Os dois, juntamente com Michael Finley, que já estava na equipa, viriam a ser as armas para o renascimento dos Mavericks, que já não iam aos playoff desde 1990.
Foi no 3º ano, e já com o bilionário Mark Cuban como dono da equipa e a investir na restruturação do franschise, que Dirk Nowitzki, Nash e companhia chegaram pela primeira vez ao playoff. A equipa de Dallas conseguiu mesmo bater os favoritos Utah Jazz, de Karl Malon e John Stockton, mas na segunda ronda veio a derrota para os Spurs, naquele que seria o primeiro capítulo de uma rivalidade entre os Dallas de Dirk Nowitzki e os Spurs de Tim Duncan.
Antes da época 01/02 começar, tornou-se o 2º desportista alemão a ganhar mais dinheiro. Renovou com Dallas por 90 milhões em seis anos e apenas Michael Schumacher, da Fórmula 1, ganhava mais do que Dirk. Essa temporada marcou também a sua primeira presença no jogo All-Star.
Entre 2001 e 2005, Dirk Nowitziki assumiu-se como uma das figuras da NBA e Dallas como uma das melhores equipas da Liga. Estiveram sempre nos playoff e chegaram mesmo a uma final de conferência, em 2003, perdendo novamente para os Spurs, numa série na qual o poste alemão foi obrigado a falhar os últimos três jogos devido a uma lesão. Nesses anos, Dirk melhorou drasticamente o seu jogo defensivo e ia apresentando médias pontuais sempre superiores a 21 pontos, sendo que até passou os 26 pela primeira vez na carreira na temporada 04/05.
Na primeira vez que chegou à final, e mesmo estando a jogar contra os Heat de Shaq e Wade, Dirk e os Dallas eram vistos como favoritos. Ainda para mais quando venceram os dois primeiros jogos em casa. No jogo 3, os Mavericks chegaram a ter uma vantagem de 20 pontos no 3º período, mas foi nessa fase que começou a quebra. Com Dirk a entrar numa espiral negativa e com o resto da equipa a acompanhar, Dallas não só perdeu o jogo 3, com perdeu a três partidas seguintes, entregando o título a Miami. No final, o alemão foi severamente criticado nos EUA, uma situação que, segundo o próprio, lhe valeu o MVP na temporada seguinte.
Depois da derrota nas finais, veio a época mais estranha da carreira de Dirk. Em 06/07, Dallas terminou com a melhor marca da Liga (67 -15), o poste entrou no clube dos 90 50 40, fazendo percentagens de 90% ou melhor da linha de lance livre, 50% de lançamentos de campo e ainda 40% de lançamentos de 3. Terminou com médias de 24,6 pontos, 8,9 ressaltos, 3,5 assistências e foi eleito MVP da NBA, sendo o primeiro europeu a conseguir tal feito. Dallas chegou ao playoff como a grande favorita à conquista do título, mas perdeu logo na primeira ronda, fazendo história pela negativa. É que a equipa do estado do Texas tinha terminado na 1ª posição e perdeu contra a equipa que tinha terminado em 8º no Oeste. Esta foi a primeira vez na história da Liga que um 1º classificado de uma conferência perdeu para o 8º. Dirk voltou a ser visto como o culpado desta derrota, apresentando um nível de jogo muito inferior ao que fez na fase regular. Passou de 50% de lançamento de campo, para apenas 38% na série contra os Warriors.
O certo é que Dallas tinha juntado nos últimos anos um grupo de jogadores veteranos muito fortes ao redor de Dirk, como o base Jason Kidd, Shawn Marion ou Caron Butler. Para além disso, também conseguiram contratar no verão o poste Tyson Chandler, formando um grupo muito forte no ataque ao título. Primeiro, bateram Portland nos playoff e depois venceram os bicampeões em título, LA Lakers, por 4x0, voltando assim à final da conferência Oeste, para defrontar os OKC Thunder, uma jovem equipa que tinha Kevin Durant e Westbrook como estrelas. Dirk e companhia foram melhores e avançaram para a final, novamente contra os Miami Heat, desta vez com um Big-3.
A final de 2011 foi o pico da carreira de Dirk. Lançamentos decisivos durante toda a série e até um jogo com 34 pontos com gripe (à imagem de Michael Jordan em 1997) deram o primeiro e único título aos Dallas Mavericks e também ao poste, que foi eleito MVP das finais.
Após a conquista do título, assistiu-se a declínio dos Mavs e do próprio Dirk Nowitizki. Algumas idas ao playoff com eliminações precoces, sendo que os últimos três anos do jogador na Liga foram sem atingir a segunda fase da temporada. Apesar disso, Dirk solidificou o seu legado como o melhor europeu de sempre e como o melhor jogador da história dos Dallas Mavericks, aceitando, inclusivamente, receber menos dinheiro do que podia para que a equipa tentasse melhorar o plantel.
Retirou-se no final da temporada 2018/2019, depois de passar 21 anos com os Mavericks, o máximo de um jogador com uma equipa. Depois de uma temporada de despedidas e de homenagens, Dirk fez o seu último jogo no dia 10 de abril de 2019, contra os grandes rivais, San Antonio Spurs. Perdeu, mas terminou o seu último jogo com 20 pontos e 10 ressaltos.
O seu lançamento em queda à retaguarda foi classificado como indefensável e o seu estilo de jogo revolucionou a posição de poste na Liga. Despediu-se como um dos melhores e deixou as bases para que europeus como Doncic pudessem brilhar mais tarde.