Fez-se história. A um ano de cumprir o centenário, o Casa Pia subiu pela primeira vez ao segundo escalão do futebol português. Foi, portanto, uma época diferente de todas as outras, mas o sucesso só foi conseguido depois de longos meses de trabalho e de muitas peripécias.
O caso Rúben Amorim, que levou à perda de seis pontos praticamente até ao fim da fase regular e o jogo em Olhão, interrompido por confrontos, marcaram o trajeto do Casa Pia, mas todos esses acidentes de percalço culminaram da melhor forma. Luís Loureiro foi o quarto treinador da equipa de Pina Manique e foi aquele que festejou o feito inédito do Casa Pia, selado nos Açores e recordado em conversa com o zerozero.
«Sabíamos que ia ser um jogo complicado, o Praiense a jogar em casa é uma equipa forte. Partíamos com uma vantagem de um golo, sem sofrer em casa, que é sempre importante. Sabíamos que ia ser um jogo difícil e para agravar as coisas as condições climatéricas não ajudaram em nada. Sofremos um golo no primeiro minuto, mas a minha equipa foi muito forte, como tem sido até aqui, manteve a concentração. Tinha dito que tínhamos qualidade para fazer um golo e acabámos por fazer, depois as coisas ficaram mais difíceis para o Praiense. Mesmo assim, devido às condições que não ajudaram ao futebol, o Praiense reduziu para 2x1, houve as expulsões, penáltis. Um jogo muito complicado, mas pronto, acabou o jogo e foi o culminar de uma época fantástica. Estes jogadores têm um carácter enorme, uma alma muito grande. Foi o culminar de uma época muito boa», lembrou o treinador dos Gansos.
Não deu, portanto, para fugir à questão. Foi um final de época positivo, mas o percurso dificilmente poderia ter tido mais contratempos.
«É verdade, foi uma época atípica e foi ainda mais atípica porque acabámos por subir de divisão. Tudo isso vem ao de cima. Houve quatro equipas técnicas, várias questões de secretaria que estavam pendentes de decisão e trabalhar com essas indefinições não foi fácil», começou por dizer.
«Quando cheguei o Casa Pia vinha de duas derrotas, já tinha tido três treinadores diferentes, tinha perdido o melhor marcador do Campeonato de Portugal [n.d.r. Gonçalo Gregório], o Roncatto tinha apanhado quatro jogos de castigo, tínhamos jogadores lesionados. Foi difícil, numa primeira fase, fazer acreditar esta equipa que era possível. Era uma equipa que tinha jogadores de qualidade, que tinha muito carácter. O que eu lhes disse foi para fazermos o nosso trabalho, de consciência tranquila e depois, no fim, quando fizessemos as contas logo se via. Foi uma época atípica, mas quando acaba em bem ainda tem um sabor mais especial», atirou.
O sucesso da formação de Pina Manique fez-se precisamente no seu próprio estádio. Se é aí que se vai jogar na próxima época ainda não se sabe, mas a receita da subida passou muito pelos jogos em casa. Luís Loureiro admitiu que a equipa mudou o chip depois da fase regular.
«Isto faz parte do formato da competição. Uma coisa é estar a jogar num formato de campeonato, onde há mais margem de erro, no formato a eliminar não tive uma equipa diferente, mas tive uma equipa com um comportamento completamente diferente. Com uma abordagem ao jogo diferente e eles aí foram campeões. Perceberam o que podíamos e devíamos fazer para passar as eliminatórias. A margem de erro é muito curta e tanto num jogo como no outro aquilo que estava preparado era não sofrer em casa e ganhar. Foi aí a chave do sucesso. Quem anda no futebol percebe a importância do golo fora e aí os jogadores deram uma resposta grandiosa, a margem de erro é curta e tínhamos de ser mais pragmáticos. Na minha opinião, foi o ponto chave», deixou.
A época vai longa, mas ainda não acabou e depois de tantos altos e baixos o Casa Pia procura cortar a meta como melhor equipa do Campeonato de Portugal. Luís Loureiro ainda não pensa no que vai ser o próximo ano, mas deixa uma garantia para o domingo que se aproxima: o Casa Pia vai fazer tudo para festejar no Jamor.
«Se na semana passada estávamos com discurso que o importante seria subir de divisão, neste momento, e na condição em que estamos, obviamente que queremos ser campeões, tal como a equipa que vai estar do outro lado. É um momento único e muito difícil chegar à final do Campeonato de Portugal, tendo em conta o formato. Neste momento e com um jogo por disputar é para ganhar. É mesmo a cerejinha no topo do bolo».
Ainda que o desejo não seja falar no próximo ano, Luís Loureiro garante que no Casa Pia há bases para a tranquilidade no segundo escalão e vai mais longe.
«Tenho jogadores naquele plantel que têm qualidade não para jogar na Segunda Liga mas sim na Primeira. A próxima época também é uma oportunidade para eles e é uma oportunidade para todos. As oportunidades quando surgem são para aproveitar».