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      Segunda parte da entrevista do zerozero ao técnico

      João Carlos Pereira: «O Xavi está a preparar-se para ser o próximo treinador do Barcelona»

      2019/05/11 11:20
      E0

      Parte II da entrevista do zerozero a João Carlos Pereira, antigo treinador de clubes como Marinhense, Sp. Pombal, Nacional, Moreirense, Estoril e Belenenses. Atualmente desempenha funções de coordenador do treino individual da Aspire Academy, considerada uma das melhores Academias do mundo.

      Depois de lançada a parte I, onde foram abordados os temas da Aspire Academy e do Mundial 2022, o zerozero lança a segunda e última parte da entrevista exclusiva a João Carlos Pereira, técnico português que assume funções de coordenador do treino individual da Aspire Academy, do Qatar. A conversa estendeu-se até ao campeonato local e aos seus principais destaques, com portugueses ao barulho. E ainda houve espaço para falar de Xavi. Esse mesmo.

      ZEROZERO: Olhando para o campeonato, Jesualdo Ferreira sagrou-se campeão ao leme do Al Sadd. É um clubes mais históricos, certo?

      qAssumo que cometi alguns erros no passado quando estava a treinar equipas seniores e muitas vezes, por desconhecimento ou pressão dos resultados, olhei demasiado para a organização coletiva e descurei em alguns momentos o desenvolvimento individual
      João Carlos Pereira
      João Carlos Pereira: Correto. É um campeonato que tem crescido muito em termos de qualidade de jogo. Lembro-me que quando me convidaram para visitar as instalações, em 2012/13, vi dois ou três jogos olhei para aquilo e pensei: ‘Meu Deus…’. A qualidade não era muita, os ritmos muito baixos, as equipas alongadas, muito espaço entre linhas e achei que era extremamente fraco. Depois quando vi jogos da formação ainda mais escandalizado fiquei… Mas a verdade é que se formos ver um jogo agora da QSL já temos momentos de bom futebol, com equipas mais curtas e muito mais competitivas. E o engraçado é que tem havido desinvestimento em termos de jogadores estrangeiros. Os clubes contratam jogadores como Raúl González, Xavi, Wesley Sneijder, Eto’o e já não apostam numa segunda linha de craques. Agora demos mais um passo em relação ao que pretendíamos, já que os jogadores que nós formávamos saíam aos 18/19 anos da academia, não jogavam nas equipas e perdíamos o balanço que tínhamos ganho em termos competitivos.

      Neste momento temos o controle de várias equipas que até treinam nas nossas instalações, como o Al Sadd, o Al Duhail, o Al Rayyan, o Al Gharafa, que têm os melhores jogadores. Agora, os atletas que não são utilizados são imediatamente emprestados a outros clubes. Isso acrescenta qualidade e torna tudo mais competitivo. É óbvio que o campeonato não está em condições de competir com qualquer outro na Europa porque aí contratam jogadores já feitos e aqui estão a apostar em jogadores em processo de formação.

      ZZ: O Al Sadd e o Al Duhail têm nos seus plantéis jogadores com números incríveis. Jesualdo Ferreira tem um avançado, o Baghdad Bounedjah, por exemplo, que deixa todos de boca aberta. Aqui no zerozero fartamo-nos de falar dele.

      JCP: O Bounedjah é um jogador de grande qualidade que teria lugar na maioria das equipas de topo da Europa, mas a capacidade financeira de alguns clubes acabou por atraí-lo. Foi contratado muito jovem pelo Al Sadd e aconteceu algo curioso depois. Ele não se impôs no imediato porque jogava o Raúl [González] e outros com mais maturidade e acabou por ser emprestado com opção de compra. Essa equipa adquiriu-o em definitivo e o Al Sadd viu-se obrigado a comprá-lo de novo. É um caso particular. Tanto o Al Duhail como o Al Sadd e até mesmo o Al Rayyan têm feito grandes campanhas na Liga dos Campeões Asiática. Na época passada, o Al Sadd atingiu as meias-finais.

      Baghdad Bounedjah
      2018/2019
      31 Jogos  2730 Minutos
      45   4   0   02x

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      ZZ: O campeonato decidiu-se nas últimas jornadas entre o Al Sadd de Jesualdo Ferreira e o Al Duhail de Rui Faria. Curiosamente, duas equipas historicamente distintas

      JCP: O Al Duhail é um clube recente e foi fundado por via da fusão de dois clubes. Veio na sequência da reestruturação efetuada no futebol profissional e juntaram o Lekhwiya, clube do Emir, e o El Jaish para criar um clube fortíssimo. Neste momento, é o clube que tem maior poderio financeiro, digamos assim.

      ZZ: Felicitou o mister Jesualdo pela conquista?

      JCP: Sim, de vez em quando encontrávamo-nos.

      ZZ: Com todo este investimento, pretende o Qatar tornar-se numa superpotência?

      JCP: Bem… Não queria entrar pelo exagero. O Qatar será sempre, mesmo nos próximos anos, um país que investiu imenso e em várias áreas. Aqui não se compram jogadores, produzem-se. E é preciso tempo para ter o retorno desse investimento. O futebol do Qatar é profissional há meia dúzia de anos e na Alemanha, por exemplo, já eram profissionais há 40 anos. Convém não dar um passo maior do que a perna e é necessário ter os pés bem assentes no chão. É justo afirmar, sim, que o Qatar tem reduzido distâncias em relação aos melhores. Nos últimos anos, a seleção AA jogou duas vezes contra a Islândia, uma das equipas emergentes do contexto mundial, e creio que empatou duas vezes. Está ainda muito longe de seleções como Brasil, Holanda, França, Itália, Espanha, Alemanha e Portugal, naturalmente.

      Baghdad Bounedjah e Jesualdo Ferreira lado a lado ©Al Sadd

      ZZ: Então os casos do Qatar e da China são opostos.

      JCP: Sei que a China investe muito dinheiro também. A diferença é que na China investem no imediato e no Qatar investe-se a prazo. Há uma visão e apesar de querermos resultados imediatos, como todos querem, não saltamos etapas.

      ZZ: Verdadeiros exemplos de como investir bem e/ou mal.

      JCP: Por exemplo, eles investem no selecionador nacional, como o Marcelo Lippi, e esquecem-se de toda a cadeia. No futebol de formação não há grande investimento e o que existe não é consertado, estruturado. É aleatório, não há uma linha de continuidade. No Qatar tudo foi construído mediante um plano bem delineado.

      ZZ: Então com uma Academia como a Aspire, os clubes não têm academia.

      JCP: Os clubes também têm academias, mas não se assemelham à Aspire. A Aspire trabalha com os melhores jogadores dos clubes. Eles não são nossos para todos os efeitos, mas trabalham connosco a semana inteira e depois vão competir pelos clubes. A par disso, quando temos torneios internacionais eles vestem ou a camisola da Aspire ou da própria seleção.

      ZZ: O regresso a Portugal está próximo... Em que medida cresceu como treinador durante este período?

      JCP: Neste momento estou a preparar tudo para deslocar a minha família e a minha residência para Portugal. Em inícios de julho a minha residência oficial passará a ser em Portugal. Este foi um projeto que foi muito pensado por mim. Quando me apareceu a possibilidade de entrar no projeto avaliei bastante e achei que valia a pena fazer uma paragem na minha carreira profissional porque a relação custo-benefício poderia ser interessante. Não me arrependo porque durante estes anos tive a oportunidade de trabalhar num projeto notável, com alguns dos melhores treinadores do mundo, porque na Aspire não existe só futebol de formação.

      Há uma quantidade incrível de campos e as equipas de topo estagiam na academia. O Bayern Munique, por exemplo, vem todos os anos para o Qatar, trabalhar connosco. E existem outras como o PSV, o Ajax, Real Madrid, Barcelona, Manchester United, etc… Todos os treinadores passam por cá e acabamos por desenvolver uma relação próxima. Assistimos aos treinos, discutimos ideias, fazemos intercâmbio de conhecimentos…. Temos parcerias com clubes da América do Sul, como Brasil e Argentina, América do Norte e todos os anos realizamos uma conferência para a qual convidamos alguns dos melhores treinadores do mundo, Villas-Boas, Mourinho, Pep Guardiola… Tudo isto serviu para repensar o futebol, aprofundar conhecimentos, avaliar ideias porque quando temos a possibilidade de privar de perto com figuras como o Xavi, não és mais o mesmo [risos]. Vêm o futebol de forma diferente e eu considero-me um afortunado porque tive a oportunidade de fazer parte deste processo. Estou muito mais bem preparado para o que vier. Espero que seja uma equipa portuguesa e profissional. Vamos ver…

      ZZ: Por falar no Xavi, ele vai assumir o cargo do mister Jesualdo Ferreira no Al Sadd? Pelo menos é o que apontam os rumores...

      JCP: Exatamente. Eu acompanhei o processo porque tenho uma relação próxima com o irmão dele [Óscar Hernández] que gere a sua carreira e que fazia parte do meu grupo de trabalho. Partilhámos ideias, fui dando as minhas opiniões e ele é uma pessoa que tem um tremendo conhecimento sobre futebol, tem ideias claríssimas que toda a gente sabe quais são e acho que ele tem todas as condições para ser uma referência também como treinador. Vai-se tornar num técnico de topo a curto prazo.

      ZZ: Para mais tarde assumir o Barcelona: Cruyff-Guardiola-Xavi.

      JCP: É bem provável que isso aconteça. Aliás, ele está a preparar-se para isso, precisamente.

      ZZ: Com tantos anos de formação, sente saudades do futebol sénior?

      ©Arquivo pessoal
      JCP: Nós como treinadores, desde que haja uma bola no relvado e jogadores somos apaixonados  aquilo que fazemos e adaptamo-nos facilmente. A competição é diferente da formação porque para se ser um treinador de sucesso na formação não basta ser apenas treinador, é preciso ser-se um educador. Quando se trabalha com a competição, o que se pretende é sacar rendimento. Quanto mais bem preparados estivermos, melhor estaremos em condições de sacar rendimento dos jogadores. Neste momento vejo o treino de forma diferente do que há uns anos. Sempre me considerei um treinador com alguma capacidade inovadora, ou pelo menos de me adaptar à inovação, e se me perguntar digo que vou treinar de forma diferente, vou estar atento ao rendimento individual dos jogadores porque para se ter uma grande equipa é preciso ter grandes jogadores. E eles precisam de ser estimulados adequadamente.

      Assumo que cometi alguns erros no passado quando estava a treinar equipas seniores e muitas vezes, por desconhecimento ou pressão dos resultados, olhei demasiado para a organização coletiva e descurei em alguns momentos o desenvolvimento individual. Assim que entrar num clube, o meu grande desafio é de obter resultados jogando de uma determinada forma, mas essencialmente ter impacto individualmente. Eles têm que sentir que podem crescer connosco. Não me sentiria bem enquanto treinador que algum jogador me passe pelas mãos e que não saia melhor do que era.

      Argélia
      Baghdad Bounedjah
      NomeBaghdad Bounedjah
      Nascimento/Idade1991-11-24(32 anos)
      Nacionalidade
      Argélia
      Argélia
      PosiçãoAvançado (Ponta de Lança)

      Fotografias(5)

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