No Ceará, foi apelidado de Rei Artur. Tinha apenas 19 anos, mas o carinho e admiração dos adeptos do Vozão levaram a que Arthur Cabral se tornasse uma figura memorável do clube - que o digam os 24 golos em 2019, antes da primeira mudança de clube na carreira. Porque a grande alteração na vida do avançado deu-se quando se mudou do futsal para o futebol.
Começou na «bola pequena», como referiu o pai, Hélio, em entrevista ao portal brasileiro Torcida K. O futsal foi o primeiro grande amor de Arthur e praticou a modalidade até aos 11 anos. Quando se sentiu preparado para dar o salto para «bola grande», nenhum emblema o aceitava. Fluminense? Dispensado. Vitória? Bahia? Internacional? Palmeiras? O desfecho era sempre o mesmo.
Entre todas as tentativas de singrar, ainda tão novo, e as dispensas de cada clube, a desistência esteve perto de acontecer. Arthur procurava apenas uma hipótese, mas tudo o fazia remar na maré contrária.
Quis mesmo desistir. Sentiu que não dava mais e que, por muito que continuasse a procurar uma oportunidade, a porta não iria abrir. Foi o pai a dar-lhe o alento e a motivação para continuar a lutar por um lugar.
Apareceu o Ceará. A porta abriu para ele. Aos 14 anos partiu de Campina Grande em direção a Fortaleza, completamente sozinho, mas acompanhado pela confiança e esperança do pai. Separados por nove horas de carro e mais de 600 quilómetros, o sonho falou sempre mais alto.
A estreia pela equipa principal do Vozão chegou com 17 anos. Na Copa do Brasil, meia hora na primeira mão serviu para perceber que, muito possivelmente, poder-se-ia ter perdido um avançado com talento, caso o emblema não lhe tivesse dado a oportunidade. Entrou um minuto para lá do tempo regulamentar no duelo contra o Tupi, a contar para a segunda mão da terceira fase, e foram precisos três minutos para o marcar o golo da vitória e que carimbou a passagem à próxima fase.
Singrou no Ceará, voou para o Palmeiras, mas Luiz Felipe Scolari não facilitou. Marcou imediatamente na estreia pelo Verdão, mas teve apenas cinco aparições na equipa antes de ser emprestado para o Basileia e nunca mais voltar ao Brasil.
Na Suíça, a ascensão foi meteórica e valeu-lhe mesmo a chamada à seleção. Após a lesão de Matheus Cunha, Arthur foi chamado à seleção canarinha em 2021.
Na primeira época, os 18 golos em 39 jogos valeram que o empréstimo passasse a uma cedência definitiva e permaneceu em Basileia até 2022. Seguiu para Itália para tentar ser feliz.
A formação viola foi o destino e tentou adaptar-se ao máximo ao futebol italiano. Na Fiorentina, Arthur sentiu que se estava a tornar num avançado completo. «Estou a crescer ao mesmo ritmo do que a equipa. Demorei a adaptar-me, mas vejo os resultados do meu trabalho», referiu, em entrevista à Serie A.
A felicidade de Arthur reside nos golos. Quando marca, sente o seu trabalho realizado. «O golo, para mim, é um momento de alegria, de prazer e de satisfação. É o momento em que vejo o meu trabalho realizado. Eu acredito que se há alguma coisa que eu sei fazer na vida é golos.»
Em 2022/23, chegou a ser o melhor marcador da Conference League - a par de Zeki Amdouni - com sete golos e três deles foram marcados diante do SC Braga.
Um dos seus grandes objetivos era ser uma das grandes lendas brasileiras da Fiorentina como Sócrates, Carlos Dunga e Edmundo.
«Quero colocar o meu nome junto do deles e ser relembrado como uma lenda brasileira no emblema. Seria melhor se pudesse vencer um troféu com o clube para que os adeptos se lembrem de mim não só como um grande jogador, mas como alguém que trouxe um troféu à cidade de Florença.»
Não o conseguiu, depois de perder a final da Conference League da última temporada frente ao West Ham, e rumou a Lisboa. 19 golos depois em Itália, o destino foi o Benfica.
Tem o papel de ser sucessor de Gonçalo Ramos e, agora, abre-se espaço para assumir o posto deixado vaga por Petar Musa, após expulsão no Bessa. Com potencial para tal, o duelo frente ao Estrela da Amadora pode ser o espaço de estreia de Arthur Cabral na Luz e o início de uma nova história no capítulo do avançado que, por pouco, não voltou ao futebol.