Em dia de sexta-feira Santa em Portugal, o campeão nacional FC Porto não ligou a distâncias pontuais, quis sempre mais que o rival Benfica, foi inteligente taticamente e aproveitou para reduzir distâncias para o líder ao vencer, no Estádio da Luz, por 1-2. Veremos se pode ser um jogo que muda uma época ou se surge tarde de mais.
Olhando para as equipas iniciais, o Benfica não apresentava grandes novidades e o único destaque era o regresso à titularidade de Florentino Luís, para o lugar que pertencia a David Neres, enquanto do lado do FC Porto, Sérgio Conceição mexia três peças no onze titular, chamando Diogo Costa, Pepe e Grujic para os lugares que pertenciam a Cláudio Ramos, Fábio Cardoso e Toni Martínez.
A tensão e a importância deste jogo sentia-se no ar e aumentavam a cada passe feito por parte das duas equipas. O FC Porto entrou a pressionar altíssimo aquando da perda da bola e bastante agressivo nesse momento, mostrando que era claramente a equipa que mais precisava de algo neste jogo, e isso levou a várias faltas e paragens nos primeiros minutos. Contudo, o Benfica mostrou saber aproveitar o espaço criado dessa pressão nas alas e foi dessa forma que chegou ao golo inaugural, aos 11', fruto de uma cabeçada fulminante de Gonçalo Ramos, a responder ao cruzamento de Bah na direita. Foi, no entanto, considerado auto golo de Diogo Costa, uma vez que a bola embate nas costas do guardião antes de entrar e depois de ir à barra.
🇵🇹Diogo Costa (FCP) é o primeiro guarda-redes a fazer um autogolo num clássico entre Benfica e FC Porto.
Há 3 anos que não havia um golo na própria baliza num jogo entre as duas equipas: Rúben Dias (SLB) no Dragão pic.twitter.com/bkCFmywyiL
— Playmaker (@playmaker_PT) April 7, 2023
Este golo fez o Inferno da Luz explodir e as bancadas, de parte a parte, intensificaram o apoio à sua equipa. Os dragões foram obrigados a tentar responder e foram tentando chamar a habitual pressão alta do Benfica para ter espaço para construir pelo miolo, mas os encarnados mostraram-se mais resguardados e isso trouxe dificuldades aos azuis e brancos. Aí, Pepê ganhou um papel importante, uma vez que várias vezes baixou para apoiar o meio campo e ser esse elo de ligação, quase sempre pela ala direita, permitindo a Otávio estar em zonas centrais.
Apesar dessa mudança evidente face ao seu estilo habitual, o Benfica escolheu aplicar a tal pressão alta ocasionalmente e isso trouxe alguns dividendos, como ficou bem patente aos 38 minutos, quando Gonçalo Ramos, após recuperação de bola em zona alta, só não ampliou devido a um corte enorme de Pepe. Ofensivamente, o FC Porto estava claramente com algumas dificuldades em ligar setores e até mesmo em explorar a profundidade de Taremi (bom controlo adversário), mas nunca se pode colocar de lado a matreirice de uma equipa comandada por Sérgio Conceição.
À imagem do que se tinha visto no apito inicial, o FC Porto voltou dos balneários com um nível de intensidade acima do Benfica e isso notava-se bem em cada bola disputada, o que causou novamente algumas dificuldades às águias. Os comandados de Roger Schmidt até pareceram, momentaneamente, responder, finalmente, a essa intensidade, mas nesse exato momento acabaram por ser «traídos», num lance, aos 54', onde os centrais foram apanhados «às aranhas» e Taremi aproveitou para, de fora da área, rematar rasteiro para o 1-2.
Pela primeira vez em desvantagem na partida, o Benfica sentiu claramente o golo sofrido no momento de assumir as rédeas do jogo e em nada ajudou o facto de uma série de elementos habitualmente cruciais estarem uns furos abaixo, como era o caso de Grimaldo (a subir pouco), Rafa ou até Aursnes. Faltava muita coisa e os adeptos iam ficando claramente impacientes, provavelmente de uma forma como nunca se tinha visto esta época na Luz. Os dragões, por sua vez, iam agradecendo esse nervosismo e aproveitando para gerir o ritmo a seu belo proveito.
O Benfica até acalmou os nervos depois desse susto enorme, mas a verdade é que ofensivamente não se viam melhorias e apenas David Neres era capaz de implementar alguma velocidade no jogo encarnado. Seguiram-se largos minutos de cerco à área portista e Sérgio Conceição não teve problemas em assumir uma linha de cinco defesas para ajudar a segurar o resultado. O Benfica acabou por «facilitar» essa missão, insistindo quase sempre em cruzamentos inofensivos e os dragões acabaram por conseguir uma justíssima vitória na Luz por 1-2.
Um pouco à imagem do que tantas vezes acontece em Clássicos, especialmente desde a chegada de Sérgio Conceição, a chave do jogo esteve na vontade e entrega distintas com que as duas equipas entraram para jogo. O FC Porto pareceu sempre querer mais que o Benfica e isso notava-se em quase todas as bolas divididas, o que acabou por ajudar no desenrolar do jogo.
O árbitro Artur Soares Dias tentou deixar o jogo fluir, mas a verdade é que não conseguiu ter um critério bem equilibrado desde o início no que a amarelos diz respeito e isso acabou por condicionar um pouco a sua exibição. Esteve bem a ajuizar os alegados lances de possíveis grandes penalidades, nos dois lados.
São já duas características habituais do FC Porto de Sérgio Conceição e que ficam cada vez melhor patentes quando se chega a estes jogos grandes. As equipas portistas parecem querer sempre mais que os adversários e juntam a isso uma inteligência tática enorme. A pressão portista neste jogo foi exímia e a gestão da mesma também.
Este foi, provavelmente, o pior jogo do Benfica da época. Notava-se uma águia ferida e perdida em campo, com dificuldades de aplicar o que fez ao longo da época e, às vezes, sem vontade. O FC Porto quis sempre mais e o Benfica nunca reagiu verdadeiramente.