O universo trabalha de formas misteriosas, como certamente pensaram os adeptos quando viram Kepa pronto para entrar no derradeiro minuto do prolongamento, dois anos depois de se ter recusado a sair na inesquecível final da Taça da Liga Inglesa que o Chelsea perdeu nas grandes penalidades.
Em forma de redenção de um guarda-redes que ninguém esperava ver protagonista, o Chelsea levantou o troféu da Supertaça Europeia, depois de três derrotas consecutivas na prova. Já o Villarreal esteve a centímetros da glória, mas não foi essa a história que se escreveu esta noite.
A inclusão de Pau Torres e Capoue no onze foi surpreendente, uma vez que estavam ambos em dúvida, mas não impediu que o submarino amarelo reconhecesse a sua menor expressão e se afundasse no terreno, permitindo ao Chelsea assumir por completo o jogo. Os blues, com um Havertz endiabrado e uma dupla inspirada a meio campo, foram donos da bola e somaram algumas ocasiões nos minutos iniciais.
Bola cá e bola lá. Três corredores em constante utilização, mesmo com Hudson-Odoi a ter dificuldades pela direita, mas foi quando os espanhóis pareciam estar mais ambientados à velocidade do jogo que o golo chegou, numa transição que foi simplesmente rápida demais. Havertz foi lançado na profundidade por Alonso e lançou um cruzamento rasteiro de execução perfeita, que Ziyech finalizou.
Minutos depois de marcar, o marroquino deslocou o ombro e forçou a primeira substituição do jogo, mas isso foi numa altura em que o Villarreal já começava a explicar como é que chegou a tamanho palco.
Em momentos o Chelsea tentou reagir e voltar a fazer-se dono da bola, e até teve sucesso moderado, mas as oportunidades eram sempre amarelas e o golo acabou por chegar. Gerard Moreno (quem mais?) foi o finalizador de uma jogada em que Boulaye Dia faz um trabalho notável a desmontar a defesa blue.
O empate voltou a mudar a forma do jogo, com o Chelsea a tentar assumi-lo novamente, mas Tuchel nunca mais voltou a encontrar as facilidades dos minutos iniciais. O tempo regulamentar acabou por terminar e dar lugar ao prolongamento, onde houve pouco mais do que uma boa ocasião de Mason Mount.
A decisão ficaria guardada para as grandes penalidades onde, de forma algo poética, Kepa Arrizabalaga foi chamado a ocupar o lugar de Mendy e conseguiu redimir-se do momento mais baixo da sua carreira. À sétima ronda, o espanhol adivinhou o lado e lançou-se para uma defesa que valeu troféu europeu. Um final que não poderia ser inventado.
Não há muitas edições da Supertaça Europeia que sejam inesquecíveis, porque a natureza do jogo muitas vezes o impede, mas esta não será uma delas. Não foi o melhor jogo de sempre, longe disso, ainda assim o seu desenrolar trouxe um momento que ficará permanentemente associado à memória de quem assistiu, bem como à do guarda-redes mais caro de sempre.
O troféu é do Chelsea e ninguém lhe tira, mas as grandes penalidades são uma lotaria e a derrota podia muito facilmente ter sido o destino de Tuchel, destino esse que não seria assim tão difícil de evitar. Tão dominante e tão confortável nos primeiros minutos para depois fazer uma hora e meia tão desinspirada? Podia ter corrido mal.