Foi o chamado mal menor. Ninguém quis o empate, ninguém se amedrontou e, sempre que houve cabeça, o jogo foi de bom nível. O saldo foi de empate e não pode subtrair o empate do Sporting, que, bem vistas as coisas, não deixou dragões e águias mais distantes do título. No Dragão, havia a hipótese da histórica quinta vitória seguida dos portistas em clássicos e, farto de dormir, o Benfica enfim acordou. Por isso, o jogo foi bom. E não faltou uma boa dose de polémica.
Acossados pelas críticas de uma espécie de submissão à maior fibra da equipa de Sérgio Conceição, o Benfica surpreendeu no onze e também na atitude, o que deu bem mais valor ao jogo, no seu todo. Um jogo em que as pernas do dragão desapareceram bem mais cedo e que, aliado à expulsão de Taremi (faltou a de Pizzi), impediram um último assalto à área contrária. Se bem que, bem vistas as coisas, não foi um jogo desequilibrado nas oportunidades. Podia dar para qualquer lado e não deu prejuízo para ninguém.
Ah!!! Afinal, podem-se equiparar. Afinal, conseguem disputá-lo como dois gigantes. Afinal, conseguem dizer ao mundo que Portugal tem grande futebol entre os seus maiores clubes. Afinal, têm mesmo condições para ombrear como titãs. Por culpa do Benfica, que nos últimos jogos com o FC Porto muito se rebaixou em termos mentais e que nunca conseguiu situar a sua confiança em patamares próximos dos portistas. Para este encontro, na gélida noite portuense, houve muito mais Benfica do que as últimas amostras, sem que tenha havido menos FC Porto. Por isso, houve muito mais jogo.
O golo chegaria logo a seguir. Quase como carimbo de validação das surpresas operadas, Nuno Tavares cruzou, Seferovic amorteceu e o médio esquerdo Grimaldo marcou com classe. Mas tão depressa chegou um como outro, porque o FC Porto está num momento em que não precisa de muito para chegar à zona de golo. Taremi, claro, com preciosa ajuda de Marega.
Com Corona a partir da direita, mas quase sempre na meia esquerda na continuidade dos lances ofensivos, a equipa portista fazia como o adversário: canalizar os ataques pelo lado canhoto, forçando um Gilberto que não esteve intranquilo e que contou com um Rafa bem melhor do que o que se tem visto nos últimos tempos.
É difícil canalizar a crónica numa direção apenas. Darwin atirou ao poste, Luis Díaz rematou ao lado, ambos com tudo para marcar. Houve entrega, raça em doses iguais, qualidades e defeitos à vista. 45 minutos que tinham justificado 50 mil bilhetes.
Muito se falou, no pré-jogo, sobre a questão do desgaste físico. Ora, a uma primeira parte intensa, frenética, a um nível altíssimo seguiu-se uma segunda em que muito do mais interessante (ou menos) aconteceu sem bola. Com o jogo parado ou em andamento.
No jogo, foram 15 minutos adicionais ao intervalo (quase não se jogou) e depois uns fogachos de futebol, com Rafa a ter oportunidade para o Benfica e Marega a desperdiçar para os dragões, já depois da expulsão de Taremi.
Um momento que aconteceu numa altura em que se notava a quebra física portista, três dias depois dos 120 minutos da Choupana, e que agudizou essa falta de frescura. Deu-se o toque a recolher por parte de Sérgio Conceição e um FC Porto que, tal como na Taça, conseguiu ser mais arrumado em inferioridade numérica, perante um Benfica que se intalou no meio-campo contrário, muito à conta de Weigl - grande jogo - ameaçando o golo por Everton e Waldschmidt, que podiam ter entrado mais cedo.
O empate, depois do empate do Sporting, não penaliza ninguém... mas o benefício foi mínimo.
Esquerda benfiquista: ao canalizar muito o jogo por aí, o Benfica explorou inúmeras vezes o facto de Corona andar por terrenos centrais e deixar desapoiado Nanu, que teve de fazer frente a Tavares e Grimaldo, ambos em bom plano. Uma cartada acertada de Jorge Jesus que deu mais consistência ao Benfica e novas dinâmicas ao jogo.
Num jogo muito intenso e cheio de peripécias, Luís Godinho teve critério largo, o que faz aceitar muitas das suas decisões, apesar de terem contribuído para um jogo muito agressivo. O grande pecado foi com Pizzi, que devia ter levado amarelo pela entrada sobre Marega na primeira parte e, já com cartão, devia ter visto o segundo por travar Corona na segunda parte. Justa a expulsão de Taremi.
Bola cá, bola lá, oportunidade aqui e acolá, falha neste e naquele, espaço, corrida, finta, perda... os primeiros 45 minutos foram assim, em ordem aleatória, mas em modo repeat. Belíssimo jogo de portistas e benfiquistas até ao intervalo, a mostrarem o valor que ambos têm e que nem sempre vem ao de cima nestes jogos mais tensos.
Percebe-se que haja hesitação de parte a parte, pois o jogo ia mudando e apresentando vários aspetos difíceis de controlar por parte dos treinadores, mas o tempo demonstrou que Sérgio Conceição devia ter reforçado a zona medular mais cedo (Sérgio e Uribe estavam exaustos) e que Jorge Jesus podia ter lançado Everton e Waldschmidt bem antes.