Três pontos para o Belenenses SAD, 24 pontos para cada equipa na contagem global da Liga. No reencontro com a antiga equipa, Petit levou a melhor sobre o Marítimo graças a um momento de génio de Licá. O internacional português resolveu a partida com uma receção orientada perfeita antes da finalização que decidiu a partida ainda na primeira parte. Num jogo de várias máscaras, o melhor momento levou o prémio máximo.
Numa época que tem sido irregular para as duas equipas, não foi surpreendente ver fases distintas da partida. O começo prometeu, mas não durante muito tempo. Com lances de perigo nas duas áreas logo a arrancar a partida, a melhor nos pés de André Santos, Belenenses SAD e Marítimo davam sinais de uma noite animada no Jamor. Não foi o pior jogo da época, nem perto disso, mas a animação em períodos carnavalescos foi feita de fogachos.
Mérito para as duas equipas, que tentaram vestir o mesmo fato durante a primeira parte. Ambas tiveram, no entanto, os mesmos problemas: chegar com perigo à baliza contrária. O Belenenses SAD tinha mais vezes a iniciativa no seu meio-campo, mas sempre com dificuldades a jogar. A pressão insular não era sufocante, mas era eficaz e era isso que José Gomes pedia. O técnico insular não teve, no entanto, direito a outros desejos.
Com Maeda a desperdiçar um erro clamoroso de André Moreira num período em que a partida estava definitivamente a perder o interesse, foi preciso esperar pelos artistas para ver algum espetáculo. Claro que a bola sorria ao ver Xadas ou Show, a aproximar-se de Licá ou Rodrigo Pinho, mas não havia muito mais arte para além disso. Cabia aos coletivos saber tirar melhor proveito dos seus artistas. A equipa azul teve essa "sorte".
Enquanto o Marítimo crescia, com Pelágio a acompanhar bem Xadas nos momentos de arte com bola, o Belenenses SAD foi mais eficaz utilizando outro tipo de artes, a arte da receção. O passe de Show foi de qualidade, mas a técnica da receção orientada de Licá foi 75 % do golo que deu algum brilho à primeira parte. O remate cruzado, de pé direito, ao poste mais afastado de Amir fez o resto. Na profundidade, o Belenenses SAD encontrou a sua arte, praticamente na primeira vez que teve oportunidade para a aplicar.
Sem querer ser bombo da festa, o Marítimo trouxe outra postura para o segundo tempo. Os insulares vestiram a pele de aventureiros, confiando que a magia de Xadas e a pressão ofensiva seriam suficientes para, pelo menos, conseguir a igualdade. José Gomes viu o Belenenses SAD a adotar também outra postura, menos arriscada na construção, mais objetiva na procura de mais um movimento de Licá em profundidade.
O técnico do Marítimo percebeu isso e enquanto via a bola sobrevoar o seu meio-campo decidiu que não precisava de ter lá três elementos. Curiosamente foi Pelágio o sacrificado, apesar da boa exibição, para Joel, o Cruel, acrescentar mais poder de fogo à armada insular. O camaronês entrou com vontade, teve as duas melhores oportunidades da equipa de José Gomes, mas a alteração fez desaparecer Xadas e o talento esfumou-se com o passar dos minutos.
No momento de aperto já se sabe que Petit não tem problemas em vestir o fato de macaco. Foi assim, sem brilho, mas com muito esforço, que o Belenenses SAD segurou os três pontos, venceu pela segunda vez consecutiva e igualou o Marítimo na classificação. Foi um jogo de muitas máscaras, nem sempre eficaz, por isso foi a arte da receção de Licá a arrecadar o prémio de melhor disfarce. Aconteceu uma vez, mas bastou para arrebatar corações.
No Carnaval todos querem ser artistas, mas há quem tenha a arte no sangue. Nos piores e melhores momentos do jogo sobressairam esses mesmos. A qualidade faz toda a diferença e quando as duas equipas tentaram jogar um futebol apoiado percebeu-se isso mesmo. Show, Xadas, Licá, Rodrigo Pinho trouxeram algum brilho para o Jamor.
O Belenenses SAD insistiu em construir desde o seu guarda-redes, mas cedo se viu que não estava a resultar. Os jogadores do Marítimo perceberam e condicionaram as zonas certas, mas depois também erraram com a bola nos pés. Foi meia hora de erros no início da construção que levaram à quebra de um jogo que até começou bem.