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    O raio-x dos seis anos nos «Diabos Vermelhos»

    Os segredos de Martinez: «Na Bélgica foi bom, mas não foi brilhante»

    Dia de Roberto Martinez, dia de conhecer o novo selecionador nacional. Aos 49 anos, o espanhol é o sucessor de Fernando Santos e apresentou-se na primeira pessoa durante a conferência de imprensa desta segunda-feira. 

    Os desafios são enormes e o perfil abre natural expetativa e curiosidade. Os últimos seis anos foram passados na Bélgica e o zerozero falou com quem melhor pode analisar o desempenho de Martinez nos Diable Rouges

    Bart Lagae, grande repórter do De Standaard, acompanhou na primeira linha o trabalho de Roberto Martinez e esteve recentemente no Mundial do Catar. A análise é profunda, detalhada, e sem tiques maniqueístas. Não há só coisas boas, não há só um lado negro, há uma complexidade que pode ser resumida através da frase que titula o artigo. 

    «Na Bélgica, o Roberto Martinez foi um bom treinador, mas não foi um treinador brilhante.» 

    Tema a tema, este é o dossier completo do rendimento de Roberto Martinez na seleção da Bélgica. Foram 80 jogos (56 vitórias, 13 empates e 11 derrotas) no total, com as meias-finais no Campeonato do Mundo de 2018  a cintilarem e a prometerem um conto de fadas de quinas ao peito. 

    Disciplina: um liberal que detesta problemas

    © Getty / Clive Mason

    O nome de Cristiano Ronaldo impõe respeito. Como lidará Roberto Martinez com o maior de sempre do futebol português, agora que emigrou para a gaiola dourada de Riade? O novo selecionador nacional deu as primeiras pistas, garantiu respeito pelo avançado, mas na Bélgica não foi minimamente permissivo com o único futebolista que sentiu colocar em causa a harmonia do balneário. Casos diferentes, evidentemente. 

    «Houve um processo relativamente parecido a este do Cristiano. O Radja Nainggollan é um bad boy, um fumador assumido, e até fez um grande Euro2016. O Roberto deu-lhe umas oportunidades no início, mas acabou por perceber que era um atleta nocivo e que se estava nas tintas para a seleção. Afastou-o em 2018», conta Bart Lagae. 

    «Ele quis excluir esse risco desnecessário, porque detesta ter de lidar com questões extra-futebol. O Cristiano é distinto, até pela dimensão do atleta. Se bem o conheço - e conheço -, ele terá certamente uma conversa séria com o Cristiano e vai tentar puxá-lo para o seu lado, mediante algumas condições. Depois terá de ser o Cristiano a decidir.» 

    Embora evite a deflagração de problemas, Roberto Martinez não é um disciplinador, um durão.

    «Longe disso, ele é muito preocupado com o bem-estar dos futebolistas, se calhar até demasiado compreensivo. Em vários estágios, ele permitiu a entrada de familiares no hotel da seleção, parecia até que o grupo estava de férias. Explicou-nos que a calendarização era dura e que pretendia atenuar os efeitos do excesso de jogos. Também é verdade que nos momentos mais importantes, exigia bastante e estas simpatias esvaziavam-se.» 

    De forma sintética, Bart Lagae garante que Roberto Martinez soube «construir um bom grupo» e que foram poucas as questões disciplinares, «mesmo neste último Mundial de tão má memória». 

    Vox Pop: incapaz de entrar nos corações belgas

    © Getty /

    O grande resultado da Bélgica no Mundial de 2018 poderia ter aproximado Roberto Martinez das boas graças da vox pop. Não aconteceu. «Mesmo nessa altura, o que mais se ouvia é que ele era o responsável por não termos ido à final», revela Bart Lagae, para quem o torneio foi uma «oportunidade perdida». 

    «A Bélgica tinha condições para ser campeã do mundo. Mas a nota tem de ser positiva, claro. O Roberto uniu o grupo e colocou-o a jogar um futebol de qualidade», prossegue, antes de lançar para a conversa dois momentos que marcaram negativamente a ligação entre o espanhol e os adeptos. 

    «Em novembro de 2018, a Bélgica esteve a ganhar 0-2 na Suíça e perdeu 5-2. O Roberto foi arrasado pelas críticas, e na verdade foi incapaz de reagir no banco de suplentes ao que se passava. Em 2019, aconteceu algo parecido: 0-1 em Wembley, antes de a Inglaterra dar a volta. Foram dois jogos em que ele foi muito criticado.» 

    Bart Lagae conclui com a «impressão» de que o treinador falhou no desejo de «entrar nos corações belgas». «Julgo que os belgas, incluindo os jornalistas, o consideram um treinador bom, mas não um treinador brilhante, de topo, daqueles que é capaz de mudar o jogo através de uma ousadia tática.»

    Media: um otimista irritante

    © Getty / Jeroen Meuwsen

    «Amistoso, acessível, disponível para dar entrevistas.» Roberto Martinez percebeu, desde o primeiro momento, que os Media belgas eram fundamentais para a sua mais fácil aceitação nos Diables Rouges. Cuidadoso, o espanhol preparou a imagem e contagiou os jornalistas pela simpatia e abertura. «O início da relação foi ótimo», garante Bart Lagae.

    Os bons resultados ajudaram e até a família fez parte deste quadro de aparente perfeição. «Mudaram-se para Bruxelas, passaram a falar francês e a filha mais nova é praticamente belga. Tudo isso foi devidamente explorado pelos jornais e televisões da Bélgica e deram ao Roberto uma imagem de homem mais do que preparado para a missão.»

    O que correu mal, então? «Nos maus momentos, o otimismo dele passou a ser irritante. Ridículo, até. Não temos muito a apontar-lhe, além disso. Havia questões sensíveis e o Roberto preferia fugir delas. A sorrir, sim, mas fugia.»

    O Mundial do Catar acabou por ser o teste derradeiro ao sorriso do espanhol e o teste mais duro também. «Um jornal escreveu que houve uma zanga, com consequências físicas, no balneário. Ele ficou muito desagradado, reagiu mal. No fundo, não creio que tenha grande empatia com os jornalistas, mas sabe como lidar connosco.» 

    Táticas: o 3x4x3 não sai do bloco de notas

    © Getty /

    As ideias de Roberto Martinez são inspiradas na cultura pop de Johan Cruijff. Não é um mau principio. Mas há mais para além dessa devoção ao genial holandês (neerlandês, se ainda estivesse entre nós). 

    «O 3x4x3 estabilizou e foi sempre o sistema tático favorito do Roberto. Imagino que venha a fazer o mesmo com Portugal», explica Bart Lagae, repórter que acompanhou os seis anos de Martinez na Bélgica, incluindo o recente Mundial. 

    «Na estreia contra a Espanha, [0-2, 1 de setembro de 2016] as coisas correram francamente mal ao quarteto defensivo escolhido. O Roberto preferiu dar segurança à equipa com uma linha de três e a verdade é que os resultados lhe deram razão.»

    Na perspetiva do jornalista, outro fator foi fundamental para esta dependência do trio de defesas centrais. «A Bélgica não tem laterais de elite. O Meunier e o Castagne cumprem bem à direita, mas à esquerda o lote de opções era fraco. Com três defesas atrás, a opção para fazer toda a esquerda recaiu, e bem, no Ferreira-Carrasco. O Roberto percebeu essa fragilidade e soube escondê-la.» 

    Bart Lagae está certo de que Portugal passará a atuar num sistema semelhante, embora Roberto Martinez seja «suficientemente flexível» para mudar se as coisas não correrem bem. «Na Bélgica, o problema maior foi a fidelidade dele a alguns nomes que estiveram no Rússia-2018. O prazo de validade internacional acabou e o Roberto continuou a chamá-los, quando era evidente a quebra deles.»

    Roberto Martinez prepara bem os jogos, mas não é adepto do risco e chega a ser «demasiado conservador» durante as partidas. «É um treinador acima da média, considero isso, mas falta-lhe o 'finishing touch' que diferencia os melhores. Ele seria incapaz de fazer o que o Didier Deschamps fez na final do Mundial, ao tirar dois jogadores ainda na primeira parte.»

    Espanha
    Roberto Martínez
    NomeRoberto Martínez Montoliú
    Nascimento/Idade1973-07-13(50 anos)
    Nacionalidade
    Espanha
    Espanha
    FunçãoTreinador

    Fotografias(50)

    Jogos Preparação 2024 | Eslovénia x Portugal
    Jogos Preparação 2024 | Eslovénia x Portugal

    Comentários

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    Chavalo
    2023-01-09 21h04m por Lidacomisto
    Mais um tiro no pé maluco
    Treinador Portugal
    2023-01-09 18h27m por sonyec
    Até que prove o contrário é o meu treinador. . Mas preferia um treinador Português, o Rui Jorge merecia a oportunidade
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