moumu 26-04-2024, 03:12
PARTE IV
O quiz do zerozero abre de espanto a boca de Jorge Costa. Na grande entrevista ao treinador do Académico de Viseu, as perguntas sobre a sua carreira de futebolista recuperam nomes históricos e muitas memórias. Os adjuntos Marco Leite e Diogo Almeida procuram ajudar, mas o passado é rico e complexo. Sobraram as boas intenções.
Nesta quarta parte da conversa, Jorge Costa fala da fortíssima ligação ao FC Porto, enquanto futebolista, e das experiências com a camisola das seleções nacionais. O treinador do Académico de Viseu é um dos grandes nomes do momento no futebol nacional. Os viseenses estão há 16 jogos invitos na II Liga, na Taça de Portugal e na Taça da Liga.
PARTE I: «Não aceitaria um projeto para o pontinho, não me iria divertir»
PARTE II: «Em Braga ainda não estava preparado para ser treinador»
PARTE III: «No Gabão fui picado por uma raia e pensei que morria»
zerozero (zz) – O Jorge tem ideia de quem são os futebolistas que mais vezes jogaram ao seu lado?
Jorge Costa (JC) – Aloísio.
zz – É o quarto futebolista que teve mais jogos consigo: 213 jogos.
JC – Paulinho Santos?
zz – Está em sexto nesse ranking: 188 jogos.
JC – Folha?
zz – É apenas o 12º da lista: 101 jogos.
JC – Vítor Baía!
zz – Certíssimo: 243 vezes em campo ao seu lado, líder da lista.
JC – Os outros têm de ser o Secretário…
zz – É o terceiro, com 221 jogos.
JC – Falta o segundo… Costinha (11º) não pode ser, Zahovic (18º) também não. É o Drulovic?
zz – Muito bem. 225 jogos com o Jorge Costa. Fica surpreendido com estes dados?
JC – Com o Aloísio, não. Como o Vítor Baía esteve alguns anos em Barcelona, julguei que não fosse ele o líder da lista. O Drulovic surpreende-me, sim.
zz – O Jorge e o Aloísio entendiam-me na perfeição. E tão diferentes eram.
JC – Dava-me muito bem com ele, fez parte da minha equipa técnica no SC Braga. Era um jogador fantástico, era mesmo muito fácil jogar ao lado dele. E é um ser humano maravilhoso.
zz – Mantém contacto com o Aloísio?
JC – Pouco. Menos do que eu queria. É um homem fabuloso e tem uma família fantástica. Gostava de falar e estar mais vezes com ele. Hoje em dia é impossível reeditar uma dupla dessas, que faz 213 jogos lado a lado. É tudo muito volátil, muda tudo demasiado depressa.
zz – Consegue adivinhar o nome do adversário que mais vezes defrontou?
JC – Deve ser do Benfica…
zz – Teve uma passagem forte por lá, sim.
JC – João Vieira Pinto? (risos)
zz – Certíssimo.
JC – Ele lembra-se melhor de mim do que eu dele. 28 jogos? Conseguem ver quantas vezes lhe ganhei? Deve ter sido um dez a zero, facilmente (risos).
zz – O Jorge ganhou 11 vezes, o João ganhou nove e houve três empates.
JC – Mesmo assim, até foi equilibrado. E quem foram os outros nessa lista? Pedro Barbosa, José Nuno Azevedo, Calado, José Carlos e Rui Jorge, boa. Ok, ok.
zz – Sabe que é o oitavo futebolista com mais jogos oficiais pelo FC Porto (383)?
JC – Não sabia, e fico surpreendido porque eu tive três lesões graves nos joelhos, todos com paragens longas. Sem essas lesões estaria, no mínimo, no top-cinco. É bom ser o oitavo, mas podia estar mais acima na lista. Tive lesões graves em 1993, 1994 e 1996. Foram todas muito seguidas.
zz – Muitos dos nossos entrevistados que passaram pelo FC Porto dizem que foi o Jorge Costa a pessoa que lhes mostrou o que era a mística, o ser portista. O homem que os batizou. Os nomes do Jorge e do Paulinho Santos são os mais mencionados.
JC – Fomos os padres, batizámos essa gente toda (risos). Tinha essa vontade de integrar os novos, ajudá-los a perceber o que era o FC Porto, integrá-los no clube e na cidade. Nisso, na minha altura, o FC Porto era diferente.
zz – E quem passou a si essa tal mística?
JC – O João Pinto. Outros também. Jaime Magalhães, Fernando Gomes, Semedo, André, mas a pessoa do João Pinto é a mais marcante nesse aspeto.
zz – O penta parece algo utópico nos dias de hoje. Mas até podia ter sido mais prolongado esse ciclo de campeonatos do FC Porto.
JC – É verdade, no sexto ano perdemos mal o campeonato. O Benfica também esteve perto do penta recentemente, atenção. Quando se falha o título seguinte, o demérito é do campeão em título. Tivemos um mérito gigante no penta, tínhamos uma vontade enorme de vencer. E não foram muitos os futebolistas que estiveram nessas cinco temporadas. Eu fui um desses felizardos e fui passando a mensagem, a mística, seja lá isso o que for.
zz – Pela Seleção Nacional fez 50 jogos e esteve em duas grandes competições. Mas, no início de tudo, foi campeão do mundo de sub20.
JC – Na pandemia revi isso tudo, ri, chorei, mostrei o que queria mostrar aos meus filhos. Foi um período terrível, mas que trouxe muitas memórias. Vi o Euro2000 e o Mundial2002 completos, soube-me bem. Vivi grandes momentos, mas não usufruí muito deles, porque uma semana depois tínhamos outro objetivo. Não tirei partido deles e na pandemia aproveitei para rever tudo, puxar para trás, apreciar e sentir.
zz – Comecemos pelo Mundial de 1991.
JC – Foi lindo e tive a sorte de lá estar. Até em termos pessoais foi decisivo para mim, porque me livrou do serviço militar. Eu estava colocado em Bragança e acabei por não ir devido ao estatuto de alta competição que foi criado nesse período. Havia muitos futebolistas estrangeiros, vários brasileiros e não era fácil a um miúdo português entrar naqueles 16 que iam para a ficha de jogo. Só havia cinco suplentes. E sinto que esse título, juntamente com o de Riade em 1989, mudou o paradigma e abriu mais possibilidades ao jovem futebolista português. Mas o título que me deu mais prazer ganhar, como sénior, foi a Taça UEFA.
zz – Sevilha, 2003.
JC – Isso. Por vários motivos: o andamento do marcador, o clima, a proximidade, a família no estádio, o primeiro título internacional ganho com o FC Porto, porque jogávamos muito. Essa equipa jogava tanto! A Liga dos Campeões foi marcante também, claro, mas essa final da UEFA. E falta falar de uma final com a seleção dos sub21.
zz – No Europeu de 1994.
JC – Perdemos a final na morte súbita, acho que estreámos esse tipo de derrota. Um tal de Orlandini. Eles tinham o Panucci, o Cannavaro, o Inzaghi… o tipo mete a bola no ângulo do Brassard e acabou o jogo. No Euro2000 a mesma coisa. Penálti do Zidane e fim do jogo.
zz – A equipa do Euro2000 jogava muito.
JC – Estávamos juntos há muitos anos, jogávamos muito bem. Só eu e o Fernando Couto é que fizemos os jogos todos. E tínhamos o Luís Figo, que jogava muito. Não era o atleta que o Cristiano é, mas tinha um futebol de eleição. E o Sérgio Conceição fez o hat trick à Alemanha. Foi um torneio espetacular.