O futebol é muito ligado ao talento. A grande percentagem de vitórias vai para as equipas que têm mais talento. Isso acaba por ser normal, mas há uma razão (nem sempre fácil de encontrar) para se gostar de um desporto onde os mesmos ganham praticamente sempre. E a razão é poder ver jogos onde o talento é negado pela entrega e pelo querer. Foi isso que aconteceu (mais uma vez) no jogo entre Bélgica e Marrocos, que a seleção africana venceu por 0-2.
Os belgas acomodaram-se por baixo do guarda-chuva do talento e foram surpreendidos por uma rajada de chuva lateral que veio do querer marroquino. Para além de ter sido uma surpresa, esta vitória complica as contas do grupo F, onde Bélgica e Croácia apareciam como claras favoritas.
A primeira parte (e muito da segunda) da Bélgica foi uma extensão do primeiro jogo, contra o Canadá, e foi um continuar dos problemas da equipa orientada por Roberto Martínez. Uma equipa capaz de ter bola, capaz de ter momentos de brilhantismo coletivo e individual, mas com muitas dificuldades em «esmagar» o adversário e em ser objetiva na procura do golo.
Posto isto, não foi uma grande surpresa ver que a seleção europeia não teve uma verdadeira oportunidade de golo nos primeiros 45 minutos, com uma ligeira exceção para um lance em que Michy Batshuayi apareceu com perigo na cara de Munir, logo aos 5 minutos.
Por seu lado, a seleção de Marrocos manteve sempre uma postura inteligente no jogo, mas também impertinente. Os africanos exploraram muito bem a falta de ritmo e o acomodar do Bélgica e, em vários lances clássicos de contra-ataque (Ziyech e Hakimi à cabeça) criaram perigo para a baliza de Courtois. Perto do intervalo houve mesmo um golo marroquino, numa bola parada, mas bem anulado por fora de jogo.
Sofiane Boufal começou por ameaçar num belo remate de fora da área, mas o momento do jogo veio pouco depois. Em mais um livre lateral, Abdelhamid Sabiri enganou Courtois e rematou direto para o primeiro golo do jogo.
Depois disso, a Bélgica tentou um jogo mais direto, já com Lukaku no campo, mas a falta de ideias não permitiu criar verdadeiras oportunidades, tirando num pontapé de canto, no qual Jan Vertonghen cabeceou ao lado. Já perto do fim ainda veio 0-2, em mais um lance de contra-ataque, e que castigou a pobre exibição europeia.
A Bélgica volta a mostrar que o talento individual ainda não está a trabalhar como um coletivo. O apuramento não está em causa, mas a ideia de que os belgas são uma das melhores seleções nesta prova começa a morrer. Já Marrocos, jogo quase perfeito este domingo e o apuramento está ali tão perto.
Todos os mundiais temos «surpresas» e este não foge à regra. Este jogo é mais uma delas e é sempre bom ver quando uma equipa joga com a entrega deste Marrocos.
Chega a ser enervante ver a Bélgica jogar. Fica-se sempre com a ideia de que a qualquer momento vai acontecer qualquer coisa e, neste jogo, isso nunca aconteceu. Falta de ideias, objetividade e, no ataque, de quase tudo.