Slow motion até ao intervalo, fast forward na última meia-hora, aflição até ao apito final. Aflição séria. Nos últimos segundos, Diogo Costa não se apercebeu da presença de um ganês nas costas e pousou a bola na relva. Ao reagir, já o adversário se aproveitara da distração. Não deu golo por... milagre - para os que acreditam nas mezinhas esotéricas.
Cristiano Ronaldo marcou de penálti e passou a ser o primeiro a ter golos em cinco Mundiais, Bruno Fernandes serviu com qualidade João Félix e Rafael Leão para dois golos, e mesmo assim Portugal foi incapaz de encontrar o sossego. O problema é recorrente e ameaça tornar-se crónico.
Os três pontos ficaram do lado lusitano, os corações bateram de medo sem qualquer necessidade. Há muito para melhorar, apesar desta pequena glória.
Ser o noivo da bola não significa casamento e vida feliz. O primeiro tempo de Portugal foi um assédio infrutífero, uma sucessão de passes curtos entediantes e previsíveis, um futebol tântrico e desposado de prazer.
De resto, nada para contar, a não ser esse desperdício de talento e executantes de elite.
Rúben Neves + Bernardo Silva + Bruno Fernandes + Otávio + João Félix, uma soma com tantas promessas que torna quase lógica a frustração. A expetativa e a crença são tão grandes, que raramente são consumada pela realidade.
Tudo muito lento, em câmara lenta, a permitir sempre a recuperação ganesa, mesmo em situações favoráveis. Ter posse de bola é uma coisa, mas é preciso saber ferir o oponente e escolher os momentos certos para atacar o espaço na linha contrária mais recuada. Nada disso ocorreu.
A lesão de Otávio não ajudou - o médio do FC Porto era o elemento mais útil a matar as poucas transições ganesas. William Carvalho entrou e Portugal passou largos minutos sem ter nada para contar. Até que Cristiano Ronaldo sofreu um toque nas costas e o árbitro norte-americano assinalou penálti.
Daí até ao final o jogo foi um carrossel de erros, de parte a parte. Uma abordagem deficiente de Rúben Dias e uma tentativa de corte infeliz de Danilo deram a Andre Ayew o empate, mas depois foi a vez de Bruno Fernandes deixar a marca no jogo. Com qualidade e ADN maiato.
Os passes para Félix e Leão marcarem são soberbos e o lado mais belo do jogo português. 2-1 ao minuto 78, 3-1 ao minuto 80 e, aparentemente, tudo resolvido. Mas havia mais para contar.
João Cancelo deu todo o espaço do mundo a Baba Rahman, cruzamento e golo do baixinho Osman Bukari, completamente sozinho na cara de Diogo Costa.
Já chega? Não, porque depois Diogo Costa teve aquela pausa na concentração e o Gana não fez o 3-3 por... ok, por milagre.
Portugal ganhou, mas para conquistar um Mundial - e entrar na História - é preciso mais do que isto.
O senhor Ismail Elfath assinalou penálti a favor de Portugal, por suposta carga de Mohammed Salisu nas costas de Cristiano Ronaldo. Em bom rigor, o lance é de elevado grau de dificuldade, mesmo após várias repetições. Talvez haja falta com o braço, talvez Cristiano chegue primeiro à bola e seja tocado. Portugal teve sorte na decisão, que podia cair para qualquer lado.
Não foi um jogo brilhante, mas Portugal teve momentos de grande riqueza no ataque. A visão de Bruno Fernandes viu os caminhos certos para João Félix e Rafael Leão finalizarem com a classe que se lhes reconhece. Cristiano sofreu e transformou em golo o penálti.
É difícil perceber. O Gana raras vezes entrara na área de Portugal e, ainda assim, foi capaz de fazer dois golos. Tão permitidos quanto evitáveis. Cancelo, Rúben e Danilo não ficaram bem na imagem.