Diasmartins 26-04-2024, 01:43
Na segunda parte da entrevista exclusiva ao zerozero, o internacional português fala dos seis meses passados no FC Porto e da parca utilização na equipa campeã nacional. Apesar do compreensível desgosto por não ter jogado mais, Rúben tem mais elogios do que críticas a apontar. E a Seleção Nacional é um capítulo fechado? Os sonhos dizem-lhe que não.
PARTE 1: «Não sou um homem novo, mas sou um homem melhor»
zerozero – Não é chamado à Seleção Nacional há dois anos. Tem recebido alguma comunicação do Fernando Santos, formal ou informal?
Rúben Semedo – Não tivemos nenhuma conversa. Tenho a noção de que vim para um campeonato com menor visibilidade, mas continuarei a dar o meu melhor. Vou esperar para ver o que acontece em relação à seleção.
zz | Tem três internacionalizações pela seleção A. Jogar com as quinas ao peito é diferente, mexe consigo?
RS | Mexe, mexe. E dói ver pela televisão, não estar lá. São as coisas da vida, nem sempre temos o que queremos ou que merecemos. Temos de saber olhar para a frente, não vale a pena pensar no que podia mudar no meu passado. No que depender de mim, garanto que farei. O que não depende de mim não posso controlar.
RS | Da federação, não. Apenas da embaixada portuguesa. Acho que o Antero [Henrique] trabalha cá, em algo ligado ao Mundial, e talvez esteja a ajudar.
zz | Que memórias guarda dos seus Mundiais? Vibrava, comprava as cadernetas, via os jogos?
RS | Muito, muito. Comprava as cadernetas quando era possível, o que nem sempre acontecia. Estar no Mundial é do outro mundo, é o patamar máximo e o objetivo de qualquer jogador.
RS | Eu fui emprestado pelo Olympiacos ao FC Porto e o Al-Duhail comprou o meu passe, não rescindi o contrato que tinha em Atenas. Sobre o FC Porto, bem, é um clube espetacular, grande, com pessoas sérias. Acho que foi onde me senti melhor fisicamente, estava no pico da minha forma física. Não joguei tanto como eu queria. Não posso controlar o que não depende de mim. Tenho de retirar o melhor de cada pedaço da minha história. Apanhei um grupo de trabalho fantástico, tive a felicidade de juntar títulos ao meu currículo, não com os minutos que eu queria. Mas é importante ter vitórias no percurso. Cada treino lá é um jogo, aprendi a ser competitivo no FC Porto porque essa é a mentalidade do clube e da cidade.
zz | Gostou de viver no Porto?
RS | Desde o primeiro dia. Tive uma receção incrível. Já tinha vivido em Vila do Conde e adorei. Depois do que tinha passado na Grécia precisava de uma cidade assim, bonita e tranquila. Ainda para mais no nosso país. Foi o ideal naquele momento, adorei desde o início.
zz | Na noite da celebração do campeonato, sentiu-se que o Rúben estava muito ligado aos seus colegas. Foi dos que mais festejou.
RS | Senti que era mais um da família, estava eufórico na noite do título. Ganhar o título português era um dos meus objetivos, tinha o desejo de jogar num grande do meu país e pensei que me ia afirmar. Não aconteceu, mas no pouco tempo em que lá estive senti-me muito ligado, empenhado em jogar, ganhar títulos e voltar à seleção.
zz | Quais foram os grandes amigos que fez no FC Porto?
RS | Já conhecia o Manafá da formação do Sporting, conhecia o Fábio Cardoso das seleções jovens, o Pepe ajudou-me muito. Não me deixou ir abaixo. O Vitinha é um miúdo chato, mas bom rapaz (risos). O Fábio [Vieira], o Bruno [Costa], o João Mário, acho que o grupo foi o incrível. O próprio Toni Martinez, criei laços de amizade com todos.
zz | Teve o azar de jogar num dos piores jogos da época, no FC Porto-Lyon. A equipa não esteve bem, estava muita chuva, um campo pesado.
RS | Acho que a equipa, não só na segunda parte, não esteve ao seu nível. Contra uma equipa como o Lyon isso paga-se caro. Do ponto de vista individual o jogo não me correu mal, mas o que fica é uma derrota. A imagem que fica é a essa. Podemos estar 89 minutos bem, mas se há um erro… é o que fica. Foi a equipa que não esteve ao seu melhor nível, e não um jogador A, B ou C.
zz | Todos falam da exigência do Sérgio Conceição. Não é um treinador fácil, mas sabe agarrar o grupo. O que diz o Rúben do Sérgio?
RS | Gosto desse tipo de treinadores, exigentes. Já tinha tido um desses no Sporting [Jorge Jesus]. Com ele cada treino parece um jogo e gosto desse tipo de exigência. É isso que faz um grande grupo. No aspeto humano só lhe posso agradecer. Tive uma situação delicada com a minha filha e ele foi sempre compreensivo e ajudou-me. Mostrou o homem que é, só tenho coisas boas a dizer sobre ele.
RS | Não gosto muito de entrar por aí. Tivemos algumas conversas, mas explicações não houve. Ele tomava decisões, eu estava lá para chegar a horas, ter o peso certo, cumprir as minhas responsabilidades. Acho que o fiz da melhor forma e o Sérgio tomou as suas decisões. Estive à espera que chegasse o momento e ele não chegou. Ou, se chegou, não tive a capacidade de agarrá-lo.
zz | Tem o objetivo de voltar a jogar em Portugal ou dá prioridade ao estrangeiro nos próximos anos?
RS | Tenho a ideia de um dia voltar, não há nada melhor do que jogar perto das pessoas de quem gosto. Mas não por agora. Sei que um dia o farei, se tiver essa oportunidade.
zz | Aos 28 anos, que sonhos e objetivos ainda tem Rúben Semedo no futebol?
RS | O melhor ainda está por chegar, não atingi o máximo que posso dar. Sinto que posso dar mais. Sonhos e objetivos… são coisas diferentes. Os objetivos passam por ser campeão, ganhar as taças, tudo o que possa aqui no Al-Duhail. Sonhos? Voltar à seleção um dia. Agora, daqui a um ano, dois anos. Não sei. E ter a minha família feliz comigo.