Foi preciso nervos de aço, mas Portugal está na ronda seguinte do play-off de qualificação para o Campeonato do Mundo de futebol feminino. Em Vizela, a seleção nacional bateu a Bélgica, por 2-1, com o golo decisivo a surgir nos minutos finais.
Há muito que esta seleção nacional deixou de sucumbir a complexos de inferioridade. A equipa de Francisco Neto é um «produto» afirmado e com qualidade atestada. Perante as belgas, seleção 19ª do ranking FIFA, só os minutos iniciais foram de desconforto. Depois, Portugal agarrou o jogo pelos «colarinhos» e dominou-o. No entanto, foi-se castigando a si própria.
A Bélgica, nos primeiros 45 minutos, só por duas vezes foi perigosa, e sempre por consequência de erros lusos. Aos 12 minutos, Diana Gomes escorregou onde não podia e deixou Tessa Wullaert cavalgar sozinha em direção a Patrícia Morais; valeu o instinto junto à relva da guardiã portuguesa a evitar o golo que colocaria a seleção de Ives Serneels em vantagem.
O segundo momento deu-se já com a história do jogo noutra página. A vencer, Portugal permitiu que as belgas chegassem uma segunda vez com perigo à sua baliza. Aí, Joana Marchão abriu em demasia os braços e intercetou o remate de Janice Cayman; o VAR foi ativado e Wullaert voltou ao duelo com Patrícia Morais, agora com finalização segura da marca dos 11 metros.
Um castigo cruel. Porque entre os dois erros, Portugal foi melhor. Desperdiçou ocasiões de golo feito (5' Jéssica Silva) e ensaiou outros momentos de perigo relativo. Mas também chegou ao golo, aos 28 minutos, numa finalização em antecipação de Diana Silva depois de um cruzamento tirado a régua e esquadro por Joana Marchão.
Foi quase sempre assim em Vizela, independentemente das partes. Portugal continuou a ter o golo à mercê, fosse no remate de Fátima Pinto que Nicky Evrad defendeu de forma soberba ou nas aproximações de Jéssica Silva, com «nota artística» à mistura. Mas a equipa das «Quinas» pôs-se, também, a jeito de um dissabor azedo perante os mais de 2.600 adeptos portugueses presentes.
E o que sofreu Portugal! Primeiro, quando Ella van Kerkhoven falhou o impensável, só com a linha de golo e a baliza deserta à sua frente (69'), depois quando só o VAR reverteu aquele que era o 1-2, aos 72 minutos. Tessa Wullaert, sempre ela, tinha finalizado na cara de Patrícia Morais, mas estava em posição irregular no momento do passe de Julie BIesmans.
E depois, os minutos loucos de Vizela. Minuto 85 e grande penalidade assinalada a favor de Portugal. O lance foi ao VAR e, na sequência, passou para livre direto e expulsão de Amber Tysiak. Na cobrança do livre, Carole Costa atirou à trave, com Evrad a desviar de forma decisiva. Mas do canto resultou o «grito do Ipiranga» português, com Fátima Pinto a fazer o 2-1 e a carimbar a passagem de Portugal ao segundo jogo do play-off, terça-feira, frente à Islândia, em Paços de Ferreira.
Numa tarde/noite como esta, o sabor da vitória só pode ser o mais importante. Portugal foi globalmente superior, soube sofrer, e marcou nos minutos finais, para gáudio do público nacional.
Portugal foi superior e podia ter evitado tanto sofrimento. A qualidade da equipa é inegável, mas é preciso ser mais frio no momento de decidir os lances.
Duas decisões tomadas e revertidas pelo VAR. A atuação foi globalmente boa, mas Kateryna Monzul teve ajuda preciosa da tecnologia para não ter impacto direto no resultado.