Raphinha abriu o livro da sua vida. O avançado do FC Barcelona, que já passou por Portugal, representando o Vitória SC e o Sporting, escreveu no portal da UOL sobre a sobre carreira e a forma como chegaram ao topo. O jogador confidenciou que chegou a perder amigos para o mundo do crime.
«Eu preciso te contar uma verdade: é muito complicado. Para quem nasce dentro de uma comunidade, como eu, é difícil manter o foco. Sou da Restinga (bairro na Zona Sul de Porto Alegre). É difícil seguir o seu caminho e não se desvirtuar.» A realidade de Raphinha é dura quão crua e o avançado não teve amarras em contar: «Algumas oportunidades aparecem - e são muitas. Prometem um jeito mais fácil de ganhar dinheiro. E é aí que as pessoas se perdem. Eu nunca saí do caminho, mas presenciei, andei junto com pessoas que estavam se perdendo. (...) Em momentos assim, perdi muitos amigos para o mundo do crime, para o tráfico... Amigos que jogavam até dez vezes mais que eu, que poderiam estar em um grande clube do mundo.»
O jogador garantiu que esses exemplos, juntamente com a educação que teve o fizeram manter-se no caminho certo e poder atingir o sonho de ser jogador de futebol. Um sonho que o fez Raphinha desenrascar-se: «As memórias do meu início são duras. Para seguir meu sonho de jogar futebol, eu precisava treinar sério e o local para isso era longe da minha comunidade, onde vivi até ter mais ou menos 16 anos. Era tão distante que eu saía de casa meio-dia e voltava depois das oito da noite. Se naquela época eu mal tinha dinheiro para o ônibus, você pode imaginar que eu não tinha condições para comer algo durante esse período. Só que a fome não espera, né? Quando ela apertava? Eu tinha que pedir. Eu só queria comer, sabe? Seria injusto dizer que passei fome na minha vida. Não. Meus pais nunca deixaram faltar comida em casa. Só que durante oito horas ou mais eu estava bem longe de casa.»
Num longo testemunho e muito pessoal, Raphinha falou sobre o facto de não ter conseguido jogar no clube que lhe abriu as portas para o futebol, da música «como remédio relaxante» e do episódio que marcam a chegada ao FC Barcelona: «Acho que o episódio mais marcante e importante foi a decisão de sair do Rennes (FRA) para o Leeds (ING). Eu tive entre 20 e 30 minutos para decidir algo que mudaria a minha vida. Pouco, né? (...) Logo depois do jogo contra o Reims, em que eu tinha feito uma boa partida e até marcado um gol, o presidente e o diretor me chamaram em uma salinha, me falaram o que estava acontecendo e me pediram para tomar uma decisão. Assim. Ali e naquele momento. Eu não poderia esperar o dia seguinte, pois a janela se fecharia. Eles me disseram que ficariam felizes eu se ficasse no clube, mas também aceitariam e ficariam agradecidos se eu optasse por deixar o Rennes. Conversei com meu empresário e com minha família para rapidamente decidir meu futuro. Foi complicado sair de lá daquela maneira, mas cara... era a Premier League, o campeonato de tantos craques que eu sempre acompanhei com os olhos brilhando. Era meu sonho de criança.»