O desastre de 2020/2021. Não há eufemismo possível para uma das temporadas mais negras da história de um clube orgulhoso na paisagem alemã. A descida de divisão, não no conceito abstrato mas na forma concreta daquelas míseras três vitórias, não se apagará porque a história não deixa. Agora, o Schalke 04 está de volta. Um ano depois, o regresso à 1. Bundesliga e, com ele, novos «ventos» em Gelsenkirchen.
Que os «Königsblauen» voltem a jogar futebol de primeira pode parecer lógico, mas a lógica deu muito trabalho - e percorreu caminhos sinuosos. No final de fevereiro, o Schalke era apenas 5. classificado na 2. Bundesliga. E foi nessa semana, entre os dias 24 e 28, que uma decisão mudou tudo. Com a invasão russa à Ucrânia, e perante a pressão dos adeptos, a direção decidiu, primeiro, retirar o patrocínio da Gazprom das camisolas e, depois, quebrar definitivamente o contrato.
Em plena luta pela subida, e com o treinador Dimitrios Grammozis cada vez mais contestado, o cenário de instabilidade crescia. No entanto, o técnico grego acabaria por sair pouco tempo depois e a lenda do clube Mike Büskens foi chamado para assumir a missão. Para além disso, a imagem do Schalke ganhava créditos em virtude da posição tomada contra a empresa estatal russa.
«Foi um sinal que o Schalke quis dar, para dentro e para fora. Foi um sinal claro contra a Rússia e, com essa tomada de posição, o clube conseguiu reunir muita simpatia junto dos adeptos e das pessoas no geral», conta Valentina Maceri, jornalista do Bild, ao zerozero.
A boa reputação, contudo, não paga as contas. Se a Gazprom, que patrocinava o Schalke desde 2006, chegou a transferir 20 milhões por época para Gelsenkirchen (e iria pagar mais 50 milhões nos próximos quatro anos), a nova realidade impõe restrições. Com a empresa Vivawest a servir apenas de âncora neste período, o Schalke já anunciou que está à procura de novo patrocinador; oito milhões por temporada é o valor que o clube espera receber.
O corte com os russos e o facto de regressar do segundo escalão obriga o Schalke a definir objetivos humildes. Longe vão os tempos de Huntelaar e de Raúl, das presenças assíduas na Liga dos Campeões e dos sonhos de chegar ao título alemão. O futuro exige realismo. «40 pontos. Duas vezes.» As palavras do diretor desportivo Peter Knäbel são claras. Entre 2022 e 2024 a luta será pela manutenção.
«É, definitivamente, um objetivo realista e aquele que o clube deve ter nesta altura», sublinha Valentina Maceri em declarações ao zerozero. Para a jornalista alemã, que modera, entre outros programas, o diário da Bundesliga na Bild TV, a manutenção é o primeiro passo para um Schalke novamente assíduo: «Acredito que a vai alcançar e que a médio prazo - e mantendo as prestações da 2. Bundesliga - vai voltar a estabelecer-se na primeira metade da tabela», refere.
«Com isso, o Schalke voltou a sentir o que é ter sucesso e isso pode ser importante para a forma como o clube se vai apresentar. A equipa ganhou confiança, o clube ganhou confiança e com isso vão poder enfrentar a 1. Bundesliga», acrescentou. Valentina, por curiosidade, vaticinou, há dois anos, aqui no zerozero, que o Schalke iria descer de divisão. «Desta vez acredito que consigam a manutenção», disse agora.
Também por isso, o emblema de Gelsenkirchen precisa de voltar a olhar para dentro e para os talentos da Knappenschmiede, a escola de formação do clube. E aí há um nome que desperta emoções: Sané. Sidi Sané. O irmão mais novo de Leroy - também ele filho do Schalke - vai ter a oportunidade de se mostrar na pré-temporada e tentar o salto para a equipa principal.