FC Porto e Tondela vão encontrar-se este domingo para disputar a grande final da Taça de Portugal 2022. À partida, podem parecer favas contadas, mas há exemplos passados que demonstram que o favoritismo não é, de todo, sinónimo de conquista.
Nas últimas 10 edições da prova, de resto, os ditos três grandes venceram apenas cinco finais. Se excluirmos o Braga desta equação, uma vez que até é considerado por muitos como o «quarto grande», temos de recuar até 2017/18 para encontrar a última equipa «pequena» que fez frente a um «grande» e ergueu o troféu da Taça de Portugal. Foi o Desportivo das Aves, frente ao Sporting (2-1), numa final que ficou ainda marcada pela invasão de Alcochete, cinco dias antes da partida.
«Era daqueles jogos com um significado muito grande. Era o meu último jogo da carreira. Para mim, foi especial. Já tinha perdido duas finais da Taça e tinha o objetivo de a vencer à terceira, mesmo sabendo da dificuldade que ia ser. Estive numa final pelo Braga e outra pelo Benfica e fui ganhar a Taça pelo Desportivo das Aves.... É um bocadinho impensável. Também surgiram situações inesperadas na altura, como a situação do Sporting, mas nós tentámos fazer o nosso trabalho o melhor possível, sabendo das dificuldades. Tínhamos uma percentagem mínima, mas foi possível festejar no fim. Acho que, acima de tudo, acreditar que era possível foi fundamental.», começou por recordar Quim em conversa com o zerozero.
«Recordo com nostalgia, porque foi um dia inesquecível. Foi uma final que vencemos com muito mérito. Mas, acima de tudo, foi um dia de grande glória, não só para os simpatizantes do Desportivo das Aves, mas fundamentalmente para quem gosta de futebol. Foi uma final muito, muito bem disputada. Ambas as equipas demonstraram estar à altura de uma final. É um dia que recordarei para sempre, porque essa final e essa vitória era um sonho de todos nós, que enveredamos pela carreira de futebolista e, posteriormente, de treinador. Todos sonhamos estar presentes na final e vencer foi um feito histórico para todos nós.», lembrou também José Mota, então treinador do Desportivo das Aves, em declarações ao zerozero.
Num jogo em que o favoritismo é claro para um dos lados – neste caso, para o FC Porto -, a preparação é sempre mais difícil e pode ser chave. Quim admite que esse foi um dos segredos do Desportivo das Aves, mas enalteceu, sobretudo, o respeito que os avenses tiveram sempre pelo Sporting.
«O segredo foi respeitar o Sporting. Sabendo das dificuldades e da semana difícil que o Sporting teve, mas tendo a noção do valor do Sporting e tentando fazer o nosso trabalho. Sabíamos perfeitamente que seria difícil se o Sporting marcasse primeiro, porque ia ganhar moral. Nós defendemos bem, tentámos contra-atacar melhor e nos poucos contra-ataques que tivemos tentámos marcar golo. E foi o que aconteceu. Depois sabíamos que o Sporting em desvantagem iria tentar arriscar e nós, continuando no contra-ataque também conseguimos fazer o 2-0. O Sporting ainda reduziu na parte final, mas foi daqueles momentos inesperados. Contado, ninguém acreditava no início da época.», explicou Quim.
«É importante que se perceba que o Aves tinha bons executantes, tinha uma belíssima equipa. Tínhamos conseguido a manutenção na Primeira Liga, também um feito história para o Aves, que nunca o tinha feito. A equipa também tinha jogadores que já tinham vencido a Taça de Portugal e a Taça da Liga. Eram uma série de jogadores com uma certa experiência, que olharam para aquela final com grande determinação e seriedade, aliás, todos nós, e, fundamentalmente, com convicção que poderíamos vencer.», recordou José Mota.
«Recordo-me que a semana de trabalho foi baseada na perspetiva de não só trabalharmos sobre os pontos que achávamos que eram importantes sobre o adversário, mas também de olharmos muito para nós e para aquilo que poderíamos e deveríamos fazer. Essa final foi muito bem trabalhada e os jogadores estiveram sempre com a concentração nos limites e com o objetivo de vitória. Esse foi o ponto principal. Nós estávamos convencidos de que poderíamos vencer a Taça de Portugal. Essa mesma crença, essa mesma alma levou a que fosse uma final muito bem disputada, em que ambas as equipas fizeram tudo para vencer e o Desportivo das Aves acabou por ter aquela pontinha de sorte que é preciso ter numa final.», acrescentou.
Os cenários, tal como José Mota e Quim fizeram questão de realçar não são idênticos. Ao contrário do Tondela, o Aves tinha conseguido a manutenção e chegou à final motivado, sendo que do outro lado, em vez do campeão nacional, estava um Sporting fragilizado pelos acontecimentos de Alcochete. Ainda assim, ambos deixaram um conselho ao Tondela, que procura repetir o feito inesperado de 2017.
«O conselho que posso dar ao Tondela é que têm de preparar muitíssimo bem essa final. Os jogadores têm que se alhear daquilo que se passou no campeonato e tem que se fazer sentir no grupo de trabalho que há condições. Não se podem lamentar todos os dias "vamos defrontar o campeão nacional, vamos enfrentar o FC Porto", têm que olhar para eles mesmos e perceber que têm uma equipa de Primeira Liga e que têm de ter objetivos ao disputar aquela final e vontade de vencer. Isso é muito importante. Se não o fizerem, se não sentirem e se houver uma valorização muito grande para com o adversário, é claro que estarão muito mais perto de perder a final. Sabemos que o adversário é muito forte, mas o Tondela tem que sentir que tem hipóteses de lutar pela Taça de Portugal e fazer um jogo digno. E quem sabe conseguir um feito, que será sempre uma surpresa, mas as surpresas acontecem no futebol.», aconselhou José Mota.
«O Tondela, infelizmente para eles, desceu de divisão e tem ali um jogo que pode dar algum ânimo. É difícil, mas a esperança dos adeptos do Tondela é a última a morrer. É uma final da taça e tudo pode acontecer, da mesma forma que aconteceu com o Aves. E se o FC Porto facilitar, não tenho a menor dúvida que o Tondela vai aproveitar e irá surpreender. (…) Sem dúvida que a situação do Aves na altura era diferente. O Aves tinha-se mantido na Primeira Liga e já vinha com um certo ânimo. Acredito que não será fácil para os jogadores do Tondela encararem o jogo com uma descida de divisão. Estão a ter uma semana difícil e é um sabor agridoce. Mas é o que digo, têm de acreditar e ter o pensamento nos seus sócios, porque a alegria deles também é importante.», concluiu Quim.
O Tondela tem no Desportivo das Aves um exemplo a seguir, sendo que, de acordo com dados do playmakerstats, caso haja surpresa na final da Taça de Portugal, os beirões juntam-se precisamente ao Aves e também ao Estrela da Amadora como as únicas equipas que ergueram o troféu na única final que disputaram.
2-1 | ||
Alexandre Guedes 16' 72' | Fredy Montero 85' |