Muita posse, muito estudo, pouco golo e um grande assusto a terminar. Num jogo onde controlou a maioria do jogo, com especial ênfase na 1ª parte, o Benfica acabou por sair do frio da Ucrânia com apenas um ponto, e um grande susto nos instantes finais, na sua estreia na fase de grupos desta edição da Liga dos Campeões, depois de ter empatado a zero com o Dynamo Kyiv.
Era a estreia portuguesa nesta edição da Liga dos Campeões e Jorge Jesus apostou no seu habitual 3x4x3, fazendo quatro alterações em relação à equipa titular do último jogo (0x5 com o Santa Clara), com as entradas de Rafa, Yaremchuk, Otamendi e Gilberto para os lugares de Lucas Veríssimo, Diogo Gonçalves, Rodrigo Pinho e Darwin. Do outro lado, o romeno Mircea Lucescu apostou no seu onze titular habitual e fez regressar à equipa Shaparenko e Buyalskyy (que esteve em dúvida até à última), para os lugares de Bogdan Lednev e Oleks Andriyevskyi.
A jogar no sempre difícil frio da Ucrânia e no terreno do Dynamo, o Benfica mostrou desde o apito inicial ser a equipa mais confortável com bola e beneficiou de uma linha de pressão muito mais baixa que o costume dos ucranianos - veja aqui a análise tática do Dynamo Kyiv -, que esteve quase sempre com todos os jogadores atrás da linha da bola, para dominar por completo no capítulo da posse de bola. Com tempo e espaço para ter bola no pé, os encarnados foram sendo muito pacientes e assertivos no controlo da posse, como se viu nos números com que acabou a 1ª parte (74% de posse de bola).
Resumo estatístico da 1.ª parte: 🦅Benfica com muito + posse de bola (74%) e + remates (6-4), mas o Dynamo Kyiv tem + remates enquadrados (2-1)
⚠Rafa Silva foi o jogador + rematador (3 remates), enquanto Vlachodimos e Yaremenchuk acertaram os 7 passes que fizeram pic.twitter.com/GAHKW40X9a
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Essa opção levou o Dynamo a perder muita da identidade que o caracteriza no campeonato ucraniano e a apostar forte na expectativa, no erro e nas transições rápidas aquando da recuperação da bola e, por vezes, num estilo de jogo mais direto em busca do avançado Shkurin. No entanto, o Benfica esteve quase sempre exímio no momento da reação à perda e da transição defensiva e quase nunca deu esse espaço para que a formação comandada por Lucescu saísse em velocidade, demonstrando ter a lição muito bem estudada.
Os ucranianos insistiam, ao seu estilo, quase sempre em sair a jogar curto (apesar das limitações técnicas dos seus centrais) e o Benfica, sabendo disso, pressionou muito alto nesse momento do jogo. Não foi, por isso, de estranhar que, após a meia hora de jogo, surgissem duas ou três oportunidades para os portugueses precisamente dessa forma, embora o guardião Denys Boyko (e a falta de pontaria encarnada) tenha impedido o golo inaugural até ao intervalo.
Depois de uma 1ª parte muito descaracterizada, o Dynamo Kyiv regressou dos balneários muito mais à sua imagem. Embora ainda tenha apresentado uma linha de pressão mais baixa que o costume, subiu-a um pouco e isso permitiu-lhe ter mais bola. Com bola, a diferença também foi notória e em vez da procura pela velocidade na transição, os ucranianos mostraram querer pensar mais o jogo e ter mais tempo a bola no pé. Esta mudança deixou o jogo mais partido e com maior ritmo nos primeiros minutos e até foi o Benfica, pelos pés de Yaremchuk, numa bola perdida, quem deixou o sinal de perigo ativo.
Com o passar dos minutos, o jogo baixou muito de ritmo e as oportunidade de golo começaram a ser cada vez mais escassas, com as substituições efetuadas por Jorge Jesus a provarem não lhe ter corrido de feição. Nos minutos finais, depois de pouco ter feito ao longo da maioria do jogo, o Dynamo Kyiv mudou por completo o "chip" e, especialmente nos descontos, foram intensificando a pressão junto da baliza adversária. Nos momentos finais, Vlachodimos fez duas defesas enormes e à terceira oportunidade não conseguiu impedir o golo de Shaparenko, na sequência de um lance de insistência num canto.
Benfica invicto após os 10 primeiros jogos da época (8V 2E): não acontecia desde 2011/12, era o treinador... Jorge Jesus pic.twitter.com/TKGyEy4ieY
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Tudo apontava para a derrota inglória do Benfica, mas o VAR acabou por "salvar" os encarnados, encontrando um fora de jogo do médio ucraniano aquando do cruzamento. Esse fora de jogo deixou os adeptos e a equipa do Dynamo ao desespero e deixou o Benfica a respirar de alívio. Desta forma, os encarnados entraram com um empate nesta edição da Liga dos Campeões, aproveitando a "salvação" do VAR para limpar a imagem deixada a partir da hora de jogo e valorizando o que fez na 1ª parte.
O inglês Anthony Taylor teve um jogo, na sua maioria, bastante tranquilo para ajuizar e manteve sempre o critério. O golo do Dynamo Kyiv acaba por ser bem anulado pelo VAR devido a posição irregular, enquanto o possível lance de grande penalidade para o Benfica dependerá sempre de critério. O jogador está no chão, com a mão apoiada e, segundo os critérios da FIFA, deve seguir jogo.
Ao contrário do que acontecia em algumas temporadas do passado, o Benfica não mudou de identidade do campeonato para as provas europeias e teve o controlo da larga maioria do jogo, especialmente ao nível da posse de bola. Foi um Benfica personalizado e à sua imagem na maioria do jogo.
Muita bola, muita posse, mas pouco golo. A primeira parte do Benfica foi de excelência a nível defensivo, mostrando que tinha a lição bem estudada, e as oportunidades de golo até surgiram a espaços, mas faltou eficácia e mais intensidade no último terço, por forma a penetrar o bloco baixo e cerrado ucraniano.