O sonho era de borla, mas a realidade teve outro preço para o Paços de Ferreira na caminhada europeia que levou os castores a Londres. Depois da noite histórica da primeira mão - que ninguém poderá apagar -, a "segunda parte" da eliminatória acabou por restabelecer a ordem no desequilíbrio de forças, com o Tottenham a beneficiar do insubstituível Harry Kane para vencer por 3x0.
Nada que Jorge Simão não soubesse, como ele mesmo deixou claro na percentagem de sucesso (10%) que atribuiu ao «seu» Paços de Ferreira na antevisão. Os ingleses foram - e são - mais fortes e essa evidência ficou a «nu» na capital britânica, sobretudo nos primeiros 45 minutos. Aí, Kane fez o que melhor sabe e a formação portuguesa acusou (demasiado) o nervosismo perante um palco de respeito.
Mas nem tudo se explica com os tremores de pernas que amarrou a equipa pacense. A estratégia com base em três centrais e uma linha de cinco defesas foi nova na equipa de Jorge Simão e a falta de rotinas foi evidente. Foram incontáveis as bolas que os jogadores do Tottenham conseguiram meter nas costas dessa mesma linha, com André Ferreira a ver perigo com frequência elevada.
Até ao primeiro golo dos Spurs, aos nove minutos, já Lo Celso e Kane tinham ficado perto de empatarem a eliminatória. À porta do minuto 10, aconteceu mesmo. Bryan Gil teve muito espaço na esquerda e, com isso, encontrou Kane no centro da área do Paços. Com a bola nos pés, o internacional inglês foi exímio e não falhou a oportunidade para fazer o 1x0.
Se é certo que, depois disso, o Paços de Ferreira até foi sustendo as investidas do Tottenham, a diferença de nível era óbvia. Os londrinos iam criando perigo, com destaque para uma bola ao poste aos 33 minutos, à qual se seguiu o 2x0, um minuto depois. Marco Baixinho errou na saída de jogo, os Spurs recuperaram e já depois de Lo Celso tirar André Ferreira da linha de tiro foi Kane a finalizar novamente.
Se em termos matemáticos a eliminatória continuava aberta, em termos práticos a sensação de impotência pacense era evidente, mesmo perante um Tottenham que foi gerindo os ritmos do jogo a seu bel-prazer. E só por isso - e por alguma qualidade portuguesa - é que a história do jogo não pode caber na categoria de «massacre», porque apesar do desnível houve um jogo de respeito entre as partes.
Ainda assim, e à exceção de uma boa oportunidade para o Paços de Ferreira, quando Lucas Silva quase tirava um «chapéu» a Gollini (71'), o jogo e o perigo foi sempre de sentido único. Entre variados lances promissores junto à baliza de André Ferreira, o Tottenham chegou ao 3x0 numa infelicidade de Antunes, que na tentativa de corte acabou por desviar um canto para a própria baliza, a 20 minutos do final.
Com as contas fechadas, a noite passou a ser de destaque individual. Harry Kane saiu para o «carinho» da plateia e André Ferreira preencheu o «currículo» para observador ver com várias ações de nota elevada. O guarda-redes do Paços de Ferreira evitou, mais do que uma vez, que os números da derrota pacense assumissem contornos ainda mais desagradáveis. Para além disso, os postes também deram uma ajuda nos lances com Steven Bergwijn (78') e Son (83').
Para o Paços de Ferreira haverá sempre espaço para aceitar com naturalidade uma derrota em casa do Tottenham, tal como haverá espaço para perpetuar o sonho que foi o triunfo por 1x0 no jogo da primeira mão. E se formos muito otimistas, até ao 3x0 ainda havia quem acreditasse que era possível.
Que a diferença de qualidade entre as duas equipas era grande já todos sabiam, mas à noite do Paços de Ferreira em Londres não ajudou que a equipa tivesse entrado com os nervos em alta. Foi evidente o nervosismo perante uma plateia imponente que de repente deixou o jogo em 2x0.