A participação de Portugal no Euro2020 já terminou há várias semanas e, em jeito de balanço, Fernando Santos explicou o motivo pelo qual tomou várias opções ao longo da participação na competição.
Desde a chamada de Dalot para o lugar de Cancelo à utilização de Bruno Fernandes, Fernando Santos abriu o livro e justificou as opções que foi tomando ao longo de uma competição que acabou por terminar antes do esperado para a equipa das Quinas.
Apesar da satisfação total com a atitude dos seus jogadores, o selecionador começou por relembrar o cansaço acumulado nos atletas depois de uma época que praticamente se juntou com a anterior, realçando ainda o fator casa que acabou por se mostrar determinante na prova.
«Estou satisfeito com o que os jogadores fizeram, globalmente, no estágio, foi brutal. Os jogadores deram tudo o que tinham, alguns já não tinham era mais, e acho que podem render mais. Mas tem que ver com a época atípica, jogar o que se joga normalmente em dez meses em oito [...]. Pensas sempre que consegues regenerar tudo, mas é evidente que nós percebemos que alguns jogadores tinham limites para a sua capacidade. Aconteceu com outras seleções. Quem sobreviveu melhor? As equipas que jogaram em casa neste estranho campeonato da Europa. Mas não estou a dizer que foi por isso que fomos eliminados», começou por dizer Fernando Santos em entrevista ao jornal O Jogo.
Entre as opções técnicas tomadas ao longo da competição, a utilização de Bruno Fernandes foi uma das que mais deu que falar. O médio goleador do Manchester United foi titular em dois dos quatro jogos, tendo somado 206 minutos dos 360 possíveis, e Fernando Santos explicou porquê.
«Ele estava de facto um pouco limitado, não por lesão. Foi o jogador que esta época mais jogos disputou [58 jogos no Manchester United]. Ele deu sempre o que tinha, foi até à exaustão. É um jogador com um caráter enorme. Ele chegava a uma fase do jogo em que queria, mas não conseguia. Não era só uma questão de pernas, a velocidade de pensamento não é a mesma com o cansaço físico. Mas ele foi fantástico na entrega», acrescentou.
Além do cansaço de Bruno Fernandes, também o eixo defensivo enfrentou alguns contratempos. A juntar ao teste positivo à Covid-19 que impediu João Cancelo de dar o seu contributo, também a lesão de Nuno Mendes acabou por condicionar um pouco as escolhas de Fernando Santos.
«Penso que o Nélson Semedo foi um pouco injustiçado, pagou um pouco o preço do jogo com a Alemanha, mas não podemos dizer que a culpa foi só dele. E começa por mim. Na realidade, a perda do Cancelo trouxe-nos dificuldades, ao ponto de ter de chamar um jogador. No caso do Guedes, por exemplo, se não recuperasse não chamava ninguém, tinha alternativas. Qualquer um dos laterais que direitos que tenho, estes e outros, podem jogar à esquerda. Mas não há um lateral esquerdo que jogue à direita. O cenário colocado foi: Cancelo só pode sair da quarentena no dia 22, véspera do último jogo, até lá tenho dois jogos muito importantes e posso estar fora do Europeu sem o poder utilizar. Não podia iniciar o Europeu sem uma alternativa. O único jogador que lá tinha com algumas características para fazer o lugar, e se calhar vão-se rir, é o Bruno Fernandes. Para a esquerda tinha quem me resolvesse o problema. Gostava de ter tido o Nuno [Mendes] porque acho que nos podia ter ajudado bastante. A minha ideia sempre foi repartir a utilização entre ele e o Raphael, que vinha de uma época muito desgastante e nem sei como é que ele aguentou jogar tanto. Até podiam ter jogado os dois ao mesmo tempo. Fui buscar o Dalot, um dos jogadores que estavam de pré-aviso. Havia mais dos sub-21 porque não queríamos jogadores que estivessem há muito tempo parados. Acho que o Dalot esteve muito bem, mas chegou ali à seleção pela primeira vez, precisava de um momento de conhecimento», explicou Fernando Santos.
Por fim, e questionado sobre Bernardo Silva, que mostrou muitas dificuldades nas missões defensivas no jogo contra a Alemanha, Fernando Santos explicou que também aí foi notória a ausência de Cancelo.
«Acho que sim [que se ressentiu da ausência de Cancelo], sobretudo nos momentos ofensivos. Apesar do Nélson [Semedo] ter sido um forte apoio no ataque e o Dalot também. Eles conhecem-se bem e no City, quando Bernardo joga à direita, o Cancelo também entra muito nos momentos interiores, o Guardiola pede-lhe isso. O Bernardo sentiu essa falta, teve sempre de fazer os movimentos para dentro e com o Cancelo podia deixar a dúvida de como se iria movimentar. Além disso, o Cancelo é um jogador que finaliza. Traz isso. Com Israel, fez duas assistências e marcou um golo. Não é menosprezar os que cá estavam, mas lembro-me das primeiras páginas dos jornais a seguir a esse último jogo de preparação», concluiu o selecionador nacional.