O campeonato começa a mudar de figura. Pela segunda jornada consecutiva, o Sporting voltou a tremer e a ceder pontos e com isso FC Porto e Benfica recuperaram quatro pontos ao primeiro lugar. O efeito psicológico do golo do Moreirense fez-se sentir em Alvalade, onde o Sporting esteve abaixo do nível desejado para dar a resposta. Frente a um Famalicão revigorado isso custou caro. Salvou um ponto num empate a uma bola, mas não estaremos enganados se dissermos que o campeonato acabou de começar.
O empate em Moreira de Cónegos colocou a dúvida no ar: Será que este campeonato ainda tem muito por decidir? As vitórias de FC Porto e Benfica colocaram ainda mais ênfase nessa questão, até porque já se esperava que o Famalicão fosse capaz de causar muitas dificuldades ao Sporting. Com Ivo Vieira, os famalicenses estão transfigurados e foi com essa nova figura que a equipa visitou a casa do líder.
Como correções ao jogo da jornada anterior, Rúben Amorim colocou Pedro Gonçalves no meio e João Mário a partir da esquerda, procurando com isso trazer o ex-Famalicão mais ao jogo. Em certa medida essa foi uma alteração que deu frutos, afinal houve mais Pote do que nos jogos anteriores, mas com isso houve muito menos João Mário e com isso menos capacidade para pautar o jogo leonino, que já sofria com a ausência por lesão de Gonçalo Inácio.
O Sporting procurava fazer o seu jogo habitual e explorar a profundidade, mas a resposta do Famalicão nos momentos sem bola foi positiva e com isso os centrais leoninos eram muitas vezes obrigados a bater longo e sem critério - Coates falhou muitos passes. Com três médios de contenção, a equipa de Ivo Vieira tratou de condicionar o corredor central dos leões e obrigou a equipa de Rúben Amorim a encontrar espaço pelos flancos, algo que poucas vezes aconteceu.
O duelo tático estava interessante e no terreno de jogo a qualidade da partida também ia subindo, com os golos a provarem isso mesmo. Na reação à perda, Pote fez o 1x0 depois de um bola que ele próprio tinha recuperado, mas também na reação (ao golo) o Famalicão respondeu de imediato com o golo de Anderson Oliveira depois de uma excelente iniciativa de Rúben Vinagre.
O que se esperava aconteceu mesmo. Obrigado a ganhar para manter o conforto pontual, o Sporting assumiu o jogo como gosta, mas sentiu muitas dificuldades para entrar em zonas de perigo. Por outro lado o Famalicão tratou de causar dificuldades em contra-ataque (muitas dificuldades de Feddal e Coates no controlo da profundidade), sempre na tentativa de aproveitar os erros na saída de jogo da equipa de Rúben Amorim, que tentou corrigir essa situação logo no regresso dos balneários.
A falta de qualidade com bola de Feddal e Palhinha levou o técnico leonino a chamar Matheus Reis e Daniel Bragança ao jogo. As intenções eram claras na teoria e tiveram alguns efeitos práticos, embora sem a influência esperada por Rúben Amorim. A qualidade de jogo da equipa leonina aumento, mas com o risco também apareceu espaço para o Famalicão explorar.
Sem ter bola como desejava, a equipa de Ivo Vieira tentava construir a partir de trás para obrigar a defesa leonina a subir e com isso criar situaçlões de golo como a que Ivan Jaime teve à passagem do minuto 60, com Adán a fazer a primeira defesa em todo o jogo... com a cabeça. E foi com cabeça que Amorim tentou usar os últimos minutos de jogo.
Sem mexer na estrutura, o Sporting procurou outras armas para mexer com o jogo. Eduardo Quaresma para jogar com bola no lugar de Neto, Nuno Santos e Jovane para dar mais dinâmica aos flancos. O Sporting cresceu, mas voltou a não ser suficiente. Pedro Porro, Paulinho, Daniel Bragança e Jovane, praticamente no final, tiveram boas oportunidades, enquanto o Famalicão procurou defender como conseguiu. Os famalicenses acabaram encostados às cordas, mas não caíram e com isso também não caíram os rivais do Sporting, com quatro pontos recuperados em duas jornadas. O campeonato acabou de começar.
Arbitragem clássica de Rui Costa. Amarelo mostrado cedo e excesso de pausas para falar com os jogadores ou a equipa técnica, acabando por quebrar o ritmo do jogo e assinalar algumas faltas sem necessidade. Quanto aos lances de maior dúvida, há um possível penálti sobre Jovane que pode ter ficado por assinalar. É um lance de interpretação, pelo que a do árbitro terá sido que não havia necessidade à marcação da grande penalidade por considerar o lance uma disputa de bola natural.
Como é que esta equipa andou no último lugar da Liga? Essa pode ser uma das questões da época, mas o facto é que esta não é a mesma equipa. Os jogadores são os mesmos, o clube é o mesmo, mas a chegada de Ivo Vieira mudou claramente o espírito da equipa. Com bola este nem foi o jogo mais conseguido, mas o resultado e a postura mostra que estes jogadores já recuperaram a confiança.
Ainda há margem de conforto, mas sente-se já um nervosismo em alguns jogadores, algo que Rúben Amorim terá de trabalhar para enfrentar a reta final do campeonato.