moumu 26-04-2024, 03:12
Passaram-se dez anos desde que Gilberto Madaíl deixou a presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Uma década depois, o agora presidente honorário da FPF abriu o livro sobre os 19 anos passou na liderança do organismo máximo do futebol português.
Numa longa entrevista ao jornal A Bola, Gilberto Madaíl elegeu a escolha da UEFA para Portugal receber o Euro 2004 como um dos momentos altos da sua presidência e recordou alguns dos casos que fizeram correr muita tinta nessa altura.
Desde logo, Madaíl começou por explicar o que se passou com Manuel José antes do Euro 2004. O técnico português já tinha um pré-acordo com a FPF para assumir o cargo de selecionador nacional, mas o aparecimento de Luiz Felipe Scolari na equação fez cair por terra essa hipótese.
«Foi muito interessante. Antes da contratação de Scolari tive umas conversas com outro treinador. Nada assinado, mas umas conversas com outro treinador... Sim, com o Manuel José. Tinha havido a intenção para ele vir a ser selecionar. Mas, entretanto, eu tinha conhecido o Scolari na Coreia quando estivemos no Campeonato do Mundo em 2002. Não me passava pela cabeça que uma pessoa como o Scolari, campeão do Mundo, pudesse aceitar vir trabalhar para a Federação Portuguesa, pois a Federação não teria meios para lhe pagar», começou por dizer o antigo presidente da FPF, explicando de que forma foi possível pagar a mudança de Scolari.
«Tivemos de lhe montar uma operação envolvendo a Nike e o já extinto BPN [Banco Português de Negócios]. Montámos uma operação tripartida. Cada um entrava com uma parte. Foi assim que conseguimos. nesse sentido, não foi possível dar continuidade ao que estava pré-acordado com o treinador português que podia vir a ser selecionador. Mas isso não nos impediu de cumprir o que tínhamos de cumprir. E a verdade é que pagámos o valor do contrato na altura. Ele [Manuel José], às vezes, fala como se não lhe tivéssemos pago e parece esquecer que lhe pagámos 50 mil contos (250 mil euros). Pagámos em prestações, mas pagámos. Foi o selecionador mais caro que eu tive, sem dúvida nenhuma, porque nunca exerceu».
Ainda no que respeita aos anos que antecederam o Euro 2004, Gilberto Madaíl explicou como decorreram as negociações para as construções (tão polémicas) dos estádios que viriam a ser utilizados no Europeu.
«Há dois estádios que eventualmente estiveram em risco de não serem construídos, nomeadamente o Estádio da Luz e do Dragão. Foi precisa na altura uma grande coordenação e uma grande aproximação a Benfica e FC Porto, e às respetivas câmaras, para que realmente viessem a concretizar-se. A verdade é que a determinada altura esses dois estádios tiveram mesmo com um ponto de interrogação muito grande. Felizmente tudo se resolveu», acrescentou o antigo dirigente, debruçando-se, ainda, sobre a possibilidade que chegou a ser levantada na época: um só estádio para Sporting e Benfica.
«Isso resultou de uma conversa tida com o presidente da Câmara de Lisboa na altura, o Dr. João Soares. Ele pensava que devia haver apenas um estádio para a zona oriental de Lisboa e outro para a zona ocidental. E um ficava para o Benfica e outro para o Sporting, tal como se passa em muitas cidades europeias e com muitos clubes. Só que em Portugal isso seria muito difícil, ter o mesmo estádio para Benfica e Sporting ou o mesmo estádio para o FC Porto e Boavista. Em Portugal isso não se podia pôr. Foi uma ideia que o Dr. João Soares tinha na altura, mas que não vingou. Nem podia», referiu.
Foi também em 2004, que se deu a compra do edifício para a nova sede da FPF, na Rua Alexandre Herculano. Na altura, a FPF mudou-se da Praça da Alegria (em Lisboa) para a Rua Alexandre Herculano a troco de... 10 milhões de euros.
«Isso só foi possível fruto dos proveitos da Federação no Euro 2004. Comprámos esse edifício, que penso que hoje já não é da Federação... Salvo erro, pagámos 10 milhões de euros, e ainda gastámos no edifício cerca de dois milhões e meio em adaptações. Pagámos tudo. Não precisámos de qualquer financiamento. Houve uma boa negociação com a UEFA e nós conseguimos mais do que a Holanda e Bélgica tinham conseguido. Conseguimos convencer a UEFA de que éramos um único país a organizar tudo, que tínhamos de concentrar muitos esforços e que devíamos ser duplamente apoiados», explicou o antigo dirigente que atualmente, com 76 anos, se encontra aposentado.