Responsabilidade, carinho e felicidade: O resumo da explosiva conferência de Jorge Jesus

Não é normal fazermos resumos de conferências de imprensa, como não é normal começarmos um texto pela conclusão, mas decidimos fugir à norma. Neste artigo resumimos aquela que terá sido a conferência de imprensa mais explosiva de Jorge Jesus desde o regresso do técnico ao Benfica. A conclusão é dada já aqui: Jorge Jesus nem pensa em demitir-se.

Poucos duvidariam que a ideia do técnico fosse essa, mas perante capas e críticas em canais televisivos, a quem Jorge Jesus não deixou de apontar o dedo, o treinador decidiu clarificar tudo em vésperas de Arsenal x Benfica. Depois do treinador, Pizzi lamentou o facto de não se ter falado da equipa londrina, mas a verdade é que foi mesmo o técnico dos encarnados a levar o tema da conferência para um ponto central: o momento atual do Benfica.

De quem é a culpa?

Não foi exatamente esta a questão que levou à explosão do treinador, mas para resumir aquilo que se falou esta parece a expressão perfeita. Afinal, de quem é a culpa? Diríamos que a questão ficou por responder, embora o treinador dos encarnados tenha voltado a reforçar que tudo se deveu ao surto de covid-19 que afetou o plantel do Benfica no início de 2021. Uma coisa é certa, para Jorge Jesus ninguém da estrutura do Benfica - treinador, jogadores e direção - tem responsabilidade pelo momento atual dos encarnados.

O treinador do Benfica ainda começou por dizer que será «sempre responsável pelos bons e maus resultados», mas ainda antes de terminar a frase deu início ao tema da conferência de imprensa. «Não tenho a ver com esta crise do Benfica. Eu não treinava os jogadores do Benfica».

Jorge Jesus voltou a lembrar as dificuldades de trabalho durante o surto de covid-19 e começou a responder a algumas críticas que têm sido evidentes, não sem antes referir que na viragem do ano o Benfica era segundo classificado, a dois pontos do Sporting (atualmente as águias estão a 15 pontos dos leões). As mazelas pós-surto terão deixado marcas e Jorge Jesus apontou mesmo o caso de Pizzi, ao seu lado na sala de imprensa, para destacar isso mesmo: «Não suavam a camisola como se estavam doentes e vieram de uma doença que não conseguimos controlar?».

O foco do técnico benfiquista manteve-se na questão da covid-19 e nas dificuldades para trabalhar com a equipa, mesmo após os jogadores terem testado negativo. Afinal, de quem é a culpa? Para Jorge Jesus é certo que nem o próprio, nem os jogadores, nem Luís Filipe Vieira devem ser responsabilizados: «A estrutura não consegue controlar um surto que esteve durante 2 meses e meio aqui. Tivemos culpa em outras coisas mas chega de me responsabilizarem e ao presidente do Benfica, que não treina, e aos jogadores também (...). Isto que se está a passar no Benfica não tem a ver com falta de qualidade do meu trabalho, dos jogadores e da estrutura. Estão sempre a falar da estrutura... parece que o Rui Costa não é conhecedor. Não sabe? O treinador também não? O presidente, que recuperou este clube, também não, não é?».

O carinho (ou falta dele)

Da responsabilidade passamos ao carinho. Depois de afastar as culpas, Jorge Jesus deixou bicadas aos críticos dos jogadores e do trabalho da estrutura benfiquista, começando pelos jornalistas, passando pelos comentadores e acabando nos adeptos.

Aos jornalistas, Jorge Jesus lembrou que alguns, quando o técnico orientava o Flamengo, no Brasil, pediram ao treinador para regressar a Portugal. Já aos comentadores afetos ao Benfica, Jesus diz sentir-se agredido com algumas palavras: «Não temos culpa nenhuma, precisamos de carinho».

A palavra «carinho» também acabou por marcar a conferência de imprensa, especialmente depois de Jorge Jesus, informado esta manhã, ter falado de um buzinão que os adeptos e sócios do Benfica haviam agendado para esta quarta-feira, às 19h04, em protesto com o atual momento do clube: «Disseram-me que vai haver um buzinão. Devia era haver um buzinão para nos dar carinho! Não sabem o que sofremos durante dois meses».

A (in)felicidade

O tema com que Jorge Jesus fechou a conferência de imprensa foi o da felicidade. Felicidade ou falta dela. A essa questão, o treinador do Benfica procurou ser direto e começou por dizer que se sente feliz nos encarnados, mas prolongou-se no discurso e concluiu, visivelmente emocionado, que o atual momento e as críticas de que todos no clube têm vindo a ser alvo o deixam infeliz.

«Claro que estou feliz... Não estou totalmente. Vim para o Benfica para ser campeão, para trabalhar normalmente com os meus jogadores e fui impedido. Por alguém? Não, por uma pandemia. Não me sinto feliz, pelo contrário. Todos os dias a levar com isto nas televisões e nos jornais. Posso sentir-me feliz? Ninguém vê a verdade? É essa.».

Foi desta forma amargurada e emocionada que Jorge Jesus terminou uma conferência em que se falou pouco de jogo jogado, mas muito daquilo que se passa dentro do clube. A um dia de disputar a segunda mão dos 16 avos de final da Liga Europa e a 15 pontos do título numa jornada de Clássico, a pergunta mantém-se. Afinal, de quem é a culpa?