Foram mesmo a jogo e foi o Sporting que garantiu bilhete para o jogo decisivo na primeira final four da Taça da Liga realizada em Leiria. Jovane Cabral foi herói dos leões com dois golos em cima do fim do encontro, respondendo a um golo de Marega que parecia mesmo encaminhar os dragões para a final de sábado.
Depois de uma ante-câmara marcada por trocas de acusações entre as instituições e numa partida com quatro baixas associadas a Covid-19 em cada equipa (nos casos de Nuno Mendes e Sporar, por imposição da DGS), houve falta de qualidade durante largos períodos do jogo, ascendente portista durante a maior parte do encontro, raros momentos de inspiração e esses dois momentos de um extraordinário Jovane, vindo do banco, fizeram a diferença.
Braga ou Benfica estarão pela frente da equipa de Rúben Amorim na final de uma competição algo assolada pelo momento crítico que o país e, por consequência, várias das equipas participantes na prova atravessam. Para o FC Porto é mais um ano em que a Taça da Liga escapa.
É bem mais habitual vermos o Sporting do que o FC Porto com esta disposição em campo, mas neste contexto de exceção vimos os portistas numa espécie de fotocópia tática do que é habitual com Rúben Amorim. Se numa perspetiva de adaptação ao adversário ou de aproveitamento dos jogadores disponíveis (muito menos do que o habitual e com várias peças-chave de fora), só Sérgio Conceição o poderá dizer.
A verdade é que esse ajuste pareceu nessa fase beneficiar os dragões, mais capazes de aproveitar os poucos espaços que apareceram numa primeira parte com o metro quadrado muito inflacionado. Os jogadores de meio-campo (Palhinha e João Mário, Uribe e Grujic) estavam muito encaixados e os dragões iam-se superiorizando nos corredores, beneficiando de Felipe Anderson (belo jogo) e Corona e, talvez mais ainda, dos menos convincentes Porro e Antunes... e sim, Nuno Mendes fazia muita falta.
Nessa primeira fase faltava aos dragões um Marega em melhor forma (mas calma...). Mesmo assim, os portistas terminaram a primeira etapa com clara superioridade nos remates e até com uma bola ao poste pelo avançado maliano, depois de João Mário ter dado um valente nó a Antunes no flanco. De resto, a distribuição de Corona e até do guarda-redes Diogo Costa permitiam descobrir os tais raros espaços.
Para o Sporting foi uma primeira parte em que esteve demasiado dependente de Pedro Gonçalves, porventura o único realmente capaz de explorar o espaço nas entre-linhas e de dar alguma imprevisibilidade ao jogo dos leões. Faltava que o aniversariante João Mário conseguisse fazer mais do que ocupar espaços no miolo, menos inconstância de Tiago Tomás e faltava a tal verticalidade nos ataques pelos flancos que só os dragões conseguiam mostrar (se Zaidu cruzasse melhor...). E acima de tudo... faltava ainda Jovane.
Os leões até tinham conseguido esbater diferenças e afastar mais os portistas da zona de Adán no fim do primeiro tempo, mas no pós-intervalo voltou a ver-se mais FC Porto. Ainda com as equipas encaixadas, mas com os leões a acusarem mais a falta de inspiração individual e algo incapazes de atacar nesses primeiros momentos de segundo tempo. Só mais tarde, por Nuno Santos, começariam a criar ameaças claras, antes da aparição do suplente de ouro.
Uribe tinha desperdiçado uma oportunidade aos 47', o Sporting lá acabou por responder numa combinação de Pedro Gonçalves com Nuno Santos e o esquerdino a puxar para o centro antes de rematar para as mãos de Diogo Costa. Mais tarde, Rúben Amorim trocaria o desinspirado João Mário por Matheus Nunes (melhoria nessa zona), optando por manter Palhinha que tinha já arriscado uma expulsão.
E íamos nos 73 minutos quando Felipe Anderson fez algo que lhe poderá bem ter valido a aprovação da massa associativa e do treinador. Nuno Santos recebeu uma bola em profundidade, isolou-se, contornou Diogo Costa... mas seria difícil que tivesse previsto o pique que o brasileiro fez para, de forma heróica, cortar a bola. Curiosamente, diante do mesmo adversário contra o qual tinha perdido a bola de tal forma que lhe custou então a confiança do treinador.
Viu-se nesse lance um momento fulcral em que os dragões se chegaram a segurar na partida, repuseram a ligeira superioridade de até então e acabaram por conseguir saltar para a frente num lance de inspiração de alguém que andava bem desinspirado: Moussa Marega. Contra qualquer expectativa, o maliano pegou na bola e foi por ali fora com ela, descobrindo os poucos espaços antes de fazer um remate que, mesmo enrolado, com o pior pé e longe de ser bonito... valeu golo.
Foi um momento de inspiração que poderia bem ter resolvido a partida caso Jovane Cabral não tivesse tirado dois coelhos da cartola no último fôlego. Num lance de bola parada que até parecia que não iria dar em nada, oito minutos depois de ter saltado para o campo e já com 86' no cronómetro, o extremo fez um brilhante remate sem hipóteses para Diogo Costa. Já nos descontos apareceu perante o guardião... e consumou uma reviravolta que parecia muito improvável à entrada para os últimos dez minutos.
Até ao último suspiro há sempre jogo, o Sporting mostrou que bem o sabe e marcou lugar na final... e o FC Porto volta a deixar esta prova com sabor amargo, com o sabor que já se tornou habitual na luta pelo título informal de campeão de inverno.
Que dizer? Entrada absolutamente decisiva do extremo do Sporting, autor de dois belíssimos golos a responder ao golo de Marega. Um jogo que ficará na memória deste leão para sempre.
Duas equipas muito encaixadas, com alguma falta de qualidade individual e um jogo que por muito tempo foi de pouca inspiração. Valeu a reta final nesse aspeto.