Em vésperas do Natal, o FC Porto já tem um belo presente debaixo da árvore. Nem é preciso desembrulhar, já todos sabem o que é: a 22ª Supertaça do historial dos dragões, que continuam a dominar esta prova como ninguém e conquistaram já onze das doze que disputaram com o eterno rival Benfica. Sérgio Oliveira e Luis Díaz foram os autores dos golos que derrubaram uma equipa de Jorge Jesus que, mais uma vez, não arrasou.
Depois da dobradinha em 2019/20, época em que só a Taça da Liga escapou no plano nacional, a equipa de Sérgio Conceição fecha com mais um troféu um ano que, pese embora seja malfadado para tantos em tantos sentidos, foi brilhante no plano desportivo para o FC Porto.
Já o jogo em Aveiro... tardou em ser minimamente brilhante, pelo menos se isso for avaliado pelo número e qualidade de ocasiões claras de golo. Na sua maioria foi mais um clássico de luta, equilibrado, de alguns despiques mais acesos, de ver quem menos errava nos momentos-chave... e quem menos errou e melhor aproveitou foi, mais uma vez, o FC Porto, que voltou a pintar de azul e branco o quarto clássico consecutivo.
As principais dúvidas foram dissipadas antes do jogo, com as presenças de Pepe (mascarado), Otávio e Corona no onze dos portistas, Otamendi e Rafa de volta ao onze benfiquista. Na medida dos possíveis, duas equipas próximas da máxima força, ainda que a influência do ausente Pizzi seja inegável.
Para acreditar num futebol de qualidade contribuía também a disposição das duas equipas, ambas com dois homens de ataque ao centro, com apenas dois homens de centro de meio-campo, na teoria mais abertas do que aquilo que veio de facto a acontecer. Pontapé de saída em Aveiro, duas equipas equilibradas nas forças e nas fraquezas, embora com um Benfica um pouco mais rigoroso no arranque do que o adversário.
Na construção apoiada, tudo ia sendo anulado, fosse por boa resposta das defesas, fosse porque demasiados passes não saíam bem, fosse porque quase tudo dava em falta (tantas faltas e faltinhas...). Ambos os meios-campos fraquejavam e isso não ajudava nada. Foi já depois de um primeiro momento bem quentinho, com Otamendi (dos melhores elementos do Benfica no jogo) e Marega envolvidos numa discussão acesa depois de uma entrada arriscada do maliano, que o resultado foi desbloqueado, íamos ainda na primeira meia hora.
E quem o desbloqueou? O especialista a conquistar penáltis que é Mehdi Taremi, já sobejamente conhecido por essa qualidade desde os tempos de Vila do Conde. Corona apareceu pela primeira vez com um excelente passe, o iraniano deixou-se derrubar por Vlachodimos e o FC Porto teve a primeira oportunidade de ouro, depois de longa demora para consulta das imagens (o avançado estava bem no limite do fora-de-jogo). Lá foi Sérgio Oliveira, o dono de quase tudo o que é bola parada no FC Porto, convertendo na perfeição e enviando o guardião grego para o lado oposto.
O Benfica precisava de se abrir, de procurar algo diferente para voltar a importunar Marchesín como Grimaldo o tinha conseguido fazer, mas foi só depois dos 60' que Jorge Jesus mexeu na equipa, colocando Seferovic ao lado de Darwin e sacrificando Rafa Silva. Até aí já o FC Porto tinha ameaçado o segundo golo por mais de uma ocasião, mostrando um melhor arranque do que na primeira metade. os dragões ganhavam o meio-campo, não só pelos dois homens do centro mas pelo apoio que Otávio dava e sempre dá enquanto terceiro médio-centro.
Uribe mostrou-se com um remate a alguma distância em que Vlachodimos teve de se esticar muito para desviar, Otávio permitiu também a defesa do guardião e Marega não teve a pontaria certa quando apareceu mesmo na cara do golo, em esforço. Na bola corrida, os dragões criavam mais, o Benfica iria forçar Marchesín a mais uma grande intervenção num livre direto muito bem batido por Grimaldo.
Já contra uma dupla de pontas-de-lança (porque Waldschmidt nunca chegou a sê-lo propriamente), Sérgio Conceição ainda perdeu Mbemba por lesão, lançando Diogo Leite, e apostou na capacidade de rotura de Luis Díaz para o lugar de Taremi, antes de colocar Grujic e Toni Martínez para ajudarem a segurar a bola e o resultado. Do lado oposto, Jesus lançou três de uma vez perto do fim - Nuno Tavares, Diogo Gonçalves e Pedrinho -, já depois da melhor ocasião do Benfica em todo o jogo: um livre de Grimaldo (mais um) que levou a bola direitinha ao ferro, com Marchesín pregado à relva.
Uma dessas muitas mexidas foi determinante para o golo que tudo fechou, numa altura em que o Benfica fazia o que sabia para reequilibrar forças. Taarabt perdeu uma bola, Toni Martínez deu em Corona e a bola foi parar aos pés de Luis Díaz, que a partir do flanco esquerdo bateu Vlachodimos, sentenciando o jogo e o troféu.
Se dúvidas houvesse... 2020 é ano do Dragão.
FC Porto venceu 11 das 12 Supertaças que disputou frente ao Benfica:
— playmakerstats (@playmaker_PT) December 23, 2020
1981 🐉
1983 🐉
1984 🐉
1985 🦅
1986 🐉
1991 🐉
1993 🐉
1994 🐉
1996 🐉
2004 🐉
2010 🐉
2020 🐉 pic.twitter.com/GQr02bJMoE
Mais do mesmo, pela quarta vez consecutiva: um FC Porto muito concentrado e aguerrido. Com falhas, nomeadamente na transição defensiva, mas com capacidade de reação nesses momentos. E além de quem estava em campo houve ainda os suplentes a formarem uma mini-claque na última fase do jogo.
Houve remates muito perigosos de Grimaldo, mas não houve muito mais. O Benfica voltou a ser algo apático na reação à adversidade, que até surgiu bastante cedo naquele penálti. Os encarnados tiveram tempo suficiente para mexer mais com o jogo.