Conhecido por levar o Boavista à conquista do campeonato nacional, Jaime Pacheco é mais um português com sucesso internacional à espreita, uma vez que o seu Zamalek SC está qualificado para a final da Liga dos Campeões Africanos, depois de vencer o Raja Casablanca por 3x1 (4x1 em agregado) na passada quarta-feira.
Vai ser uma final 100% egípcia no dia 27 de novembro, com o Zamalek a defrontar o Al-Ahly, clube para o qual já perdeu o campeonato por 18 pontos e quererá, certamente, vingança. Existe também outra camada de significado nesta final, uma vez que, caso vença, o Zamalek vai conquistar o seu sexto troféu da prova, superando os congoleses do TP Mazembe e tornando-se a segunda equipa mais vencedora na história da Liga dos Campeões. O emblema mais vitorioso é, ironicamente, o próprio Al-Ahly, que quererá aumentar os seus oito troféus.
A chegada à final por parte da turma de Pacheco é um feito notável, mas para os adeptos o que é realmente importante é a vitória, depois de terem perdido em 2016 a final a duas mãos frente ao Mamelodi Sundowns, que se tornou a segunda equipa de África do Sul a vencer a prova. Durante a fase de grupos, Augusto Inácio ainda orientou a equipa, mas na final o treinador era Momen Soliman, que revelou inexperiência naqueles que foram os seus primeiros jogos como treinador principal, pelo que desta vez a massa adepta do Zamalek espera uma história diferente.
O registo é positivo, com quatro vitórias em seis finais, mas o quinto e último troféu da Liga dos Campeões Africanos a chegar ao museu do emblema egípcio fê-lo em 2002. Os restantes em 1996, 1993, 1986 e 1984, de maneira que a história começa a tornar-se distante para um clube que ainda se considera um dos maiores do continente. Será este o retorno de um colosso?
A verdade é que nem todo o crédito pode ser dado a Jaime Pacheco, pois o português não comandou a equipa durante toda a edição 2019/20 da Liga dos Campeões Africanos. Aliás, a única eliminatória em que o técnico comandou a equipa foi mesmo a meia-final, onde registou as duas vitórias sobre o Raja Casablanca.
Jaime Pacheco Zamalek SC Total |
Muito antes da chegada de Jaime Pacheco, o treinador era Micho Sredojevic e por pouco o Zamalek nem sequer disputou a Liga dos Campeões. Com o sérvio no comando os egípcios saíram derrotados no Senegal (2x1) perante o Génération Foot e apenas chegaram à fase de grupos graças a uma vitória por 1x0 na segunda-mão, que ditou a passagem devido à regra dos golos fora.
Já na fase de grupos, uma derrota pesada frente ao TP Mazembe (3x0) garantiu a saída de Sredojevic, que não orientou o Zamalek em mais nenhum jogo. Entrou, então, Patrice Carteron, treinador francês que guiou os egípcios até às meias-finais.
Seguiram-se então uma vitória caseira e um empate em Angola contra o 1º de Agosto, uma história semelhante com o ZESCO United da Zâmbia e um nulo no segundo jogo frente ao TP Mazembe para o Zamalek garantir a passagem da fase de grupos em segundo lugar, com nove pontos para os 14 da equipa da República Democrática do Congo.
Os quartos de final trouxeram um adversário complicado na forma do Espérance de Tunis, equipa tunisina que venceu as últimas duas edições da Liga dos Campeões Africanos. As dificuldades anteriores não se verificaram frente a um adversário de nível superior e o Zamalek venceu a primeira mão por 3x1, o que deu folga suficiente para perder a segunda mão-pela margem mínima e mesmo assim avançar para a fase seguinte, onde Jaime Pacheco assumiu o leme.
Shikabala é, certamente, o nome mais conhecido em Portugal entre todo o plantel do Zamalek. É, também, um nome importante na equipa de Jaime Pacheco, mas aos 34 anos o ex-Sporting já não é tão influente como já foi antes, de maneira que o papel de suplente utilizado lhe tem servido. Para atacar um jogo tão importante, e logo frente ao maior rival, as armas do Zamalek são outras.
O internacional tunisino Ferjani Sassi é a grande estrela desta equipa. Esteve no último Campeonato do Mundo, onde marcou à Inglaterra, jogou na Europa ao serviço do Metz, mas foi no futebol africano que o médio centro sempre encontrou mais destaque.
Tarek Hamed, médio defensivo, e Mahmoud Alaa, defesa central são dois internacionais egípcios e peças importantes para Pacheco, que conta com o marroquino Achraf Bencharki e o jovem avançado Mostafa Mohamed, que bisou na meia-final, para desequilibrar no ataque.
Pacheco e o Zamalek vão jogar a final para ganhar, não há dúvida disso, mas isso não quer dizer que a vitória esteja garantida ou sequer perto disso. O Al-Ahly sai vitorioso em mais de metade dos confrontos entre as duas equipas, e o registo das últimas cinco temporadas coloca o Zamalek a vencer apenas quatro dos 18 encontros entre as duas equipas, ainda que esteja em vantagem quando os duelos são em campo neutro (uma vitória, um empate e zero derrotas).
É difícil não torcer pelo lado das trincheiras onde corre sangue luso mas, para já, é momento de celebrar a chegada à final e não de a antecipar. Seja como for, vai ser mesmo preciso esperar pelo 27 de novembro para descobrir o próximo campeão africano.
1-2 | ||
Shikabala 31' | Amr Al-Soleya 5' Afsha 86' |