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    Entrevista a André Gomes - Parte I

    O dérbi de Merseyside está aí à porta: «Queremos voltar a trazer o Everton para os dias de glória»

    Há 51 anos que o Everton não tinha um início de temporada tão entusiasmante. Quatro vitórias nas quatro primeiras jornadas da Premier League fazem do conjunto liderado por Carlo Ancelotti líder isolado do campeonato inglês, e uma vitória no próximo sábado poderá significar mesmo o melhor arranque da história dos toffees.

    André Gomes
    Everton
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    O adversário é o Liverpool, atual campeão e eterno rival, para mais um capítulo do apaixonante dérbi de Merseyside, que, infelizmente, não contará com adeptos nas bancadas de Goodison Park.

    Na antecâmara do histórico duelo, o zerozero conversou com o médio português André Gomes, camisola 21 do Everton, que deu conta de como esta rivalidade é vivida pelos principais protagonistas.

    A mudança operada por Ancelotti, treinador do mês da Premier League, o papel social do Everton na comunidade de Liverpool, a importância da quarentena para a reabilitação física e ainda o fénomeno português numa das ligas mais entusiasmantes do Mundo. São estes os principais temas da primeira parte da entrevista a André Gomes.

    André Gomes assinou pelo Everton em 2017

    «Se o Liverpool ganha alguma coisa é um ano horrível para o Everton»

    zerozero (ZZ): Estamos em vésperas do dérbi de Merseyside, entre Everton e Liverpool. Sabemos que existe uma forte rivalidade entre os dois clubes, mas o que representa para quem está mais por dentro desse jogo?

    André Gomes (AG): São dois dos clubes mais antigos da Premier League. É sempre um jogo muito especial. Felizmente, já tive a oportunidade de jogar alguns jogos desse calibre, mas, sinceramente, a rivalidade é mesmo muito grande. Os estádios são muito perto um do outro, as pessoas não se podem ver à frente na cidade, apesar do respeito ser muito grande para com os jogadores. Lembro-me perfeitamente do primeiro jogo que tive contra eles. Foi em casa deles [Anfield Road], perdemos 1x0, mesmo no último minuto, e para teres noção, apesar de ainda estarmos muito no início da época na altura, a rivalidade é tão grande que o Klopp entrou dentro de campo a festejar e houve invasão de campo dos adeptos.

    ZZ: ...

    AG: No segundo jogo que fiz contra eles, esse em nossa casa, coincidiu com a possibilidade do Manchester City passar para a frente do Liverpool, então empatámos e a reação da nossa parte foi como se tivéssemos ganho o título, pois permitiu ao City passar para o primeiro lugar [risos]. Em Portugal falamos muito do FC Porto x Benfica e eu também já tive a oportunidade de jogar um Real Madrid x Barcelona e, sem dúvida, são jogos que marcam.

    ZZ: Sentes que os adeptos cobram muito mais nesse jogo do que talvez pela época toda em si?

    AG: Totalmente, então aqui... Infelizmente, os últimos anos não têm sido muito bons para o Everton e o Liverpool tem levado a melhor. Há mesmo aquela sensação má de que se o Liverpool ganha alguma coisa é um ano horrivel para o Everton, independentemente da posição em que ficas na tabela. No fundo, estes dois jogos da Premier League acabam por marcar muito se fazes uma boa ou má época.

    ZZ: Será mais um dérbi atípico, pois não vai haver adeptos no estádio. Isso ganha outra dimensão nestes jogos?

    AG: Quando voltámos da quarentena, o primeiro jogo que tivemos, curiosamente, foi em nossa casa contra o Liverpool, em que empatámos 0x0. Obviamente, foi o primeiro jogo pós-quarentena e foi diferente. Mesmo este jogo, sendo que o Liverpool vem de uma derrota complicada e nós estamos numa fase boa, mesmo sem adeptos, a rivalidade entre as duas equipas vai estar ali no limite. Não tenho dúvidas de que vai ser um jogo muito intenso. 

    ZZ: Há 51 anos que o Everton não tinha um arranque tão bom - quatro vitórias em quatro jornadas disputadas -, e uma vitória contra o Liverpool é sinónimo do melhor arranque da história do clube. No entanto, o Everton não ganha ao Liverpool há 10 anos. Além disso, eles chegam a este jogo depois de uma derrota pesada [n.d.r. 7x2 contra o Aston Villa]. Estão aqui bons ingredientes para um bom espetáculo, não?

    AG: É verdade, estamos bem e as pessoas estão a olhar para nós como uma equipa com uma mentalidade muito boa. Em comparação com o Liverpool, estamos na Premier League e tudo pode acontecer. Ninguém estava à espera de uma derrota tão pesada como foi a do último jogo deles, portanto, eles são os campeões em título e têm a imagem deles que querem certamente defender, e há sempre o extra da rivaldiade. Vai ser um jogo frenético e estamos a preparar-nos para isso mesmo. 

    ZZ: E qual a importância do treinador Ancelotti para o bom momento da vossa equipa? Foi importante para mudar a mentalidade no clube?

    AG: Acho que este processo já vem de algum tempo. Já tinha começado com o Marco [Silva], esta intenção de incutir a mentalidade vencedora no grupo, de querer ganhar não importa onde. Infelizmente, o Marco teve de sair – são opções do clube -, e entrou o Ancelotti, um treinador mais consagrado e com uma vasta experiência, que ganhou títulos como jogador e treinador. Ele conseguiu aprimorar ainda mais essa ideia e tudo aquilo que era e é a qualidade da equipa, sobretudo neste mercado de verão, em que contratámos jogadores importantes para o grupo, que trouxeram mais qualidade, e dessa forma as coisas melhoraram bastante. Acho que foi um passo muito importante.

    ZZ: Então achas que as expectativas, sobretudo para os adeptos, estão mais altas este ano?

    AG: Sou sincero... Não ganhamos títulos há muito tempo, mas a expectativa é sempre grande neste clube. Estão sempre à espera da qualificação para a Europa, que possamos lutar pelas Taças. Infelizmente, isso não tem acontecido. O facto de termos tido um arranque tão bom leva a que as pessoas criem uma expectativa muito maior, é verdade, mas era isto que queríamos. Ter esta sensação de que podemos fazer coisas boas, de que podemos melhorar enquanto equipa, e voltar a trazer o Everton para os dias de glória. Acho que toda a gente está muito satisfeita por este início e a nossa vontade é continuar desta forma, tendo a noção que estamos na Premier League, que é a liga mais competitiva do Mundo. Sabemos da dificuldade, mas estamos cientes de que este é o caminho.

    ZZ: Em Inglaterra existe a sensação de que nunca podemos ter a certeza absoluta de que a equipa x vai ganhar o jogo y. Vimos isso com o Liverpool, recentemente. Essa incerteza do resultado faz aumentar o vosso espírito competitivo?

    AG: Não digo que em Espanha, por exemplo, não seja uma liga super competitiva, pois é uma liga muito, muito boa, mas sabes que tens Barcelona, Real Madrid e Atlético Madrid, e depois vêm as outras equipas. Aqui é diferente. O top-6 está sempre a alterar. Nos últimos anos tem sido Liverpool e City a lutarem para serem campeões e depois tens 3-4 equipas que andam ali na luta pelos lugares europeus. Mas é muito isso que dizes. A Premier League é super competitiva e de alguma forma sou um felizardo por poder estar aqui e desfrutar ao mais alto nível.

    ZZ: Em que medida é que o futebol inglês te moldou enquanto jogador?

    AG: Estive antes em Portugal e Espanha, que são ligas muito mais técnicas, em que o jogo é mais pautado e organizado. Aqui, pelo que tenho falado também com antigos jogadores, há uma melhoria em termos táticos dos últimos 15 anos para cá e isso faz com que o jogo seja agora mais organizado. Aqui o futebol pede intensidade e, por vezes, os jogos partem e assistes àqueles contra-ataques constantes, e é isso que as pessoas gostam de ver. Sente-se também o nervosismo no estádio e isso torna o jogo mais rápido e intenso. No fundo, obriga-te a melhorar os teus níveis físicos para que te adaptes a esse estilo de jogo. E é um estilo de jogo fantástico.

    ©Getty / Visionhaus

    O lado social do Everton e os portugueses na Premier League

    ZZ: Além do lado desportivo, gostaria de falar sobre a vertente social do Everton, pois percebe-se que é um clube que se preocupa muito com a comunidade. Como caracterizas esse lado mais humano do clube?

    AG: É algo com que nos debatemos muitas vezes durante o ano. Não sei se sabes, mas aqui na Premier League costumam fazer um resumo sobre as cidades ligadas aos clubes e a verdade é que Liverpool é algo problemática em comparação com outras cidades inglesas. Neste caso, não importa que clube é que tu defendes, o Everton tem feito um trabalho excecional no apoio às pessoas da cidade, com a criação de casas e zonas de apoio, para todos aqueles que sofrem com problemas ligados à saúde mental e/ou económicos. Também por isso, para mim é um orgulho fazer parte deste clube e fazer parte dessas campanhas.

    ZZ: E relativamente à cultura desportiva em Inglaterra. O que nos podes dizer sobre isso?

    AG: Aqui as pessoas vão a um estádio para ver um espetáculo e vivem aquilo ao máximo, mas têm um respeito enorme pelo jogo e pelos intervenientes. Sentimo-nos uns felizardos por, correndo bem ou mal, os adeptos estarem constantemente connosco. Há também uma grande vantagem aqui que é o horário dos jogos, muito melhor para nós e também para quem quer ir ver um jogo. Às 12h, 15h ou 17h podes levar os teus filhos, desfrutar com eles e depois ir para casa, jantar e descansar... Ao contrário do que tens, por exemplo, em Espanha e Portugal, por vezes com jogos às 21 horas. Somos também uns privilegiados porque temos os estádios sempre cheios, independentemente do sítio onde vás jogar. Mesmo os nossos adeptos, temos sempre 5-6 mil pessoas nos jogos fora de casa, algo que não acontece com regularidade em Portugal.

    ZZ: Voltando um pouco ao Everton e a ti. Esta é a tua 3.ª época no clube, como te sentes e quais são os objetivos mais individuais para 2020/21, tendo em conta também a lesão grave que sofreste no ano passado?

    AG: Foi uma fase muito dura, mas acabei por conseguir voltar mais cedo do que o esperado. Não te posso dizer que voltei a 100%, mas sentia-me bem e confiante para voltar a jogar. Foi fantástica a forma como me receberam no clube e não só. O primeiro jogo até foi fora de casa, no estádio do Arsenal, e os adeptos foram fantásticos comigo, ao apoiarem a minha entrada em campo. Foi fantástico para mim. Já no primeiro jogo em casa, com os nossos adeptos, foi extraordinário. Não escondo que tive uma sensação um pouco estranha porque tinha sido no nosso estádio que me tinha lesionado, e veio-me à memória o acontecimento, mas fiquei com o lado positivo e com a forma como as pessoas me apoiaram.

    ZZ: …

    AG: Felizmente, também tive a oportunidade de aproveitar o tempo da quarentena para fazer mais trabalho de recuperação. Vi esse período como algo de positivo para mim e hoje em dia sinto-me muito bem. Se havia algo que me incomodava bastante, era depois da lesão saber se ia conseguir estar como estava antes. Foi complicado mentalmente, mas também tornou-me mais forte para superar este desafio.

    ZZ: Lesão grave, pandemia... É preciso ter uma grande capacidade mental para ultrapassar tudo isso. Como foi esse período de quarentena? 

    AG: Devo dizer-te que somos privilegiados. Estamos em casa, as condições de vida são melhores, comparando por exemplo com uma família que viva num apartamento pequeno, aí sim deve ser mesmo complicado, e nós somos privilegiados nesse aspeto. Como te disse, tive a oportunidade de falar com fisioterapeutas e preparadores físicos e continuar a minha reabilitação. Sabes como é o futebol... O julgamento ia chegar alguns jogos depois se eu não estivesse bem. Foi uma luta interna e tive esses dois meses que consegui tirar para mim e trabalhar todos os dias para melhorar ainda mais a minha condição física.

    ZZ: Para encerrar o tema Inglaterra, podemos falar sobre o fenómeno jogadores portugueses na Premier League? [risos]

    AG: [risos] É muito bom. Sentes-te em casa. Quando jogamos entre nós, depois quando nos encontramos na seleção é sempre tema de conversa o jogo que tivemos. É mais uma prova da qualidade do jogador português, de conseguir sair de Portugal e vir para uma liga super competitiva e continuar a dar cartas ao mais alto nível. É muito bom para o nosso país.

    Portugal
    André Gomes
    NomeAndré Filipe Tavares Gomes
    Nascimento/Idade1993-07-30(30 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoMédio (Médio Centro)

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