* com Ricardo Gonçalves
A grande época que a equipa do Clube Desportivo de Mafra tem levado não ficou indiferente a quase ninguém que acompanha o segundo escalão do futebol português. Começaram o ano com a motivação de manter o clube na divisão, mas chegaram ao final com um campeonato terminado prematuramente e com um sabor amargo nos lábios: o quarto lugar parece pouco.
Quem foi quase omnipresente durante esta impressionante campanha, para além do técnico Vasco Seabra, foi o incansável vaivém da ala direita mafrense: Rúben Freitas, que aos 27 anos é totalista na defesa do CD Mafra e está a viver o melhor momento de uma carreira que tem tudo para manter a trajetória ascendente.
Já experienciou a formação em grandes clubes, o terceiro escalão português, o futebol no estrangeiro e fez da segunda liga sua. O processo tem sido lento, com uma etapa de cada vez, mas com hábitos de sucesso. Para Rúben Freitas o objetivo seguinte é simples, como conta em entrevista ao zerozero: continuar a escalada até ao topo.
zerozero (ZZ): Antes de mais parabéns pela grande época no Mafra, tua e da equipa! Foi a melhor da tua carreira?
Rúben Freitas (RF): Em termos individuais, sem dúvida que foi a minha melhor época. Tanto pelos golos como pelas assistências. Mesmo a nível coletivo, se não estou em erro porque já passei por algumas equipas, penso que sim, que é a melhor época desde que jogo futebol.
ZZ: O que sentiste que foi diferente este ano?
RF: Posso dizer a qualidade de jogo, de treino, o ambiente dentro do grupo. Tudo ajudou um pouco para que esta época fosse fantástica.
ZZ: A promoção ficou mesmo ali a nove pontos de distância. Chegaram a acreditar?
RF: O nosso objetivo nem era esse. O nosso objetivo sempre foi a manutenção... Mas claro que quando estás lá em cima não queres sair nunca e pensas jogo a jogo.
ZZ: A época entretanto foi dada como terminada, mas já estava interrompida antes. Como tens passado este tempo?
RF: Tem sido, sinceramente, muito difícil, acho que nenhum jogador gosta de estar sem jogar e sem treinar. Continuo a treinar duas vezes por dia, mas treinar sozinho não é o mesmo que treinar em grupo. Estou ansioso pela próxima temporada.
ZZ: Qual foi a reação da equipa quando souberam que tinha terminado o campeonato?
RF: Foi um bocado diferenciada, porque muitos diziam que era a melhor decisão na altura e outros diziam que se a Primeira Liga tinha condições a Segunda também. Foi diferente para alguns colegas meus, mas na minha opinião acho que devíamos ter continuado a jogar. Claro que todos queriam jogar, mas havia quem estivesse mais reticente por causa do vírus, que estava no pico e não se sabia no que ia dar.
ZZ: A tua posição [defesa lateral] parece ser influente no sistema tático do Mafra, concordas?
RF: Sim, é verdade, este ano foi o ano em que os laterais se evidenciaram mais numa equipa em que eu joguei. Isso também se deve à maneira de jogar do mister Vasco [Seabra]. Acho que isso ajudou tanto os laterais como o resto da equipa.
ZZ: Gostas de ter esta liberdade atacante?
RF: Sim, gosto de ter esse papel na equipa. Sentimo-nos confortáveis a avançar porque sabemos que temos pelo menos cinco homens na preparação para a perda da bola, por isso não nos deixava reticentes e dava mais vontade de avançar. A equipa percebia tudo o que o mister queria e isso ajuda dentro de campo, havia confiança.
ZZ: Qual foi o impacto do treinador no sucesso desta temporada?
RF: O impacto foi enorme, como se tem visto! Eu não conhecia o mister Vasco, sabia que tinha estado no Paços de Ferreira, mas não conhecia os processos. Assim que ele chegou sentimos que estava ali um treinador com ideias fixas e um modelo de jogo bem construído. Via-se que a equipa acreditava no que ele estava a dizer, fazíamos jogos de treino e víamos que tudo o que ele dizia para fazer funcionava e isso torna tudo mais fácil.
ZZ: Como reages à notícia da saída do técnico? Fala-se em clubes da Primeira Liga...
RF: Fico muito feliz por ele, porque tem muitas condições para triunfar neste mundo. Mais tarde ou mais cedo chega ao topo do futebol.
ZZ: Gostavas de seguir Vasco Seabra para o próximo clube dele?
RF: [risos] Depende do clube para onde ele for, mas se for para melhor tenho que ir, todos os jogadores querem o melhor para a carreira deles.
ZZ: Achas que vais ter oportunidade de jogar na primeira divisão?
RF: Sinceramente, estou muito confiante em relação a isso. Na verdade ainda não sei de nada, mas acho que esta é a altura de dar o salto.
ZZ: Já em 2020/21?
RF: Sim, sim. Já houve algumas abordagens.
ZZ: Passaste pela formação de grandes clubes [Sporting; SC Braga]. Isso teve impacto no teu jogo?
RF: Claro, tanto Sporting Clube de Portugal como o Sporting Clube de Braga são dois clubes muito grandes, tanto em Portugal como a nível internacional. No Sporting, ainda muito jovem, foi aprendizagem constante e estou muito grato ao Sporting por tudo o que me deu, depois o SC Braga abriu-me as portas mais numa fase de transição para nível profissional e correu bem.
ZZ: Admites a possibilidade de voltar a um clube grande?
RF: Claro que sim! Isso está na minha cabeça todos os dias e é para isso que eu trabalho. Deixar-me-ia muito feliz e penso que consigo criar condições para tal.
ZZ: Como chegou a oportunidade de jogar em países como Chipre e Gibraltar?
RF: O Chipre veio a seguir ao Salgueiros, foi um projeto que o meu empresário propôs. Eu era jovem e aceitei o desafio, precisava de mudar de ares. Correu bem, mas depois foi um pouco por água abaixo, fiquei algum tempo sem jogar. Mais tarde eu estava sem clube e sem ninguém basicamente e houve um empresário amigo meu... cheguei a Gibraltar através desse senhor. Mas era campo sintético, tive uma lesão que atrasou a adaptação e depois decidi voltar através do Vilafranquense, que me abriu as portas e me ajudou.
ZZ: Neste momento da tua carreira preferias ficar em Portugal ou voltar ao estrangeiro?
RF: Nesta fase a minha preferência é ficar, quero mesmo chegar à Primeira Liga e o mais alto possível. Claro que se surgir um projeto ambicioso e que compense desportiva e financeiramente aí tenho que pensar duas vezes.
ZZ: Se voltarmos a falar daqui a um ano, o que gostarias de ter para contar ao zerozero?
RF: A experiência na Primeira Liga e que esteja a ser boa.