Diasmartins 26-04-2024, 01:43
Miguel Maria Cardoso é um dos nomes mais importantes do basquetebol nacional. O internacional luso já passou por clubes como FC Porto, Vitória SC, Benfica ou Nanterre, já venceu todos os títulos de primeiro nível em Portugal, uma Taça de França e já disputou algumas das principais competições a nível europeu.
O zerozero aproveitou a paragem nos campeonatos para entrevistar o base de 27 anos sobre toda a sua caminhada. Desde o início em Ponte de Lima, às passagens por França, Alemanha e à mais recente aventura ao serviço do CB Almansa, do segundo escalão espanhol, passando ainda pela EuroLiga e pelo início da pandemia do Coronavírus em Espanha.
A terceira e última parte da conversa foi focada na pandemia do Coronavírus, desde como foi lidar com a situação em Espanha, à quarentena em Portugal e às dificuldades em manter a forma. No final, houve ainda tempo para discutir o futuro dentro e fora do basquetebol e para responder a algumas perguntas rápidas.
Parte II - «Sabia que estava preparado para voltar e fazer uma excelente época»
Zerozero: É impossível fugir ao tema do momento, ainda por cima estando tu a jogar num dos países mais afetados. Como é que viveste o início da propagação do Coronavírus em Espanha?
A verdade é que continuo meio perplexo em relação a isto tudo. Eu nunca pensei na minha vida ter de viver um momento destes. Estar fechado em casa sem aquela liberdade que tanto gostamos e nunca pensamos que nos pudessem tirar. Eu e a minha namorado vivemos juntos em Madrid e, antes de vir embora, tínhamos estado em Madrid e a verdade é que a cidade não parava. Não tinha muitos carros, mas os bares, os restaurantes, o centro da cidade, estava tudo cheio de gente. Só que de um dia para o outro…foi o caos. Nós chegamos para treinar na quarta-feira, porque tínhamos jogo na sexta e eles disseram que ia ser à porta fechada e depois acabaram por cancelar os jogos. Sábado à noite eu peguei no meu carro e vim embora com a minha namorada e chegamos no domingo de manhã, porque em Espanha já estava tudo fechado e eu estava com medo que fechassem as fronteiras e não me deixassem voltar. Agora estou em quarentena em casa com a minha família, em Ponte de Lima.
ZZ: Os outros jogadores estrangeiros também abandonaram?
Sim. Quando isto começou a acontecer, houve um grupo de estrangeiros que criou um grupo no instagram com todos os jogadores estrangeiros dos diferentes clubes e a verdade é que muitos já voltaram para os seus países. No nosso caso, houve dois que ficaram, um porque costuma ficar lá no verão e outro porque teve problemas com os voos, mas os outros já regressaram às suas casas.
ZZ: Manténs contacto com os jogadores e com o treinador e têm algum plano de treino?
Sim, sim. Ao início o plano era enviado diariamente, agora é semanal, mas nós continuamos a treinar.
ZZ: E é possível manter a forma em casa?
Não… É possível ir treinando fisicamente, mas sentes falta do contacto com a bola e do cesto. É extremamente complicado e eu não sei como é que isto vai acabar. Podes treinar em casa e eu treino em casa, mas não é igual a estares num campo de basquete a fazeres lançamentos ou a jogar cinco para cinco. Mas eu tenho treinado e sinto-me bem. E vou continuar a fazê-lo até termos uma resposta da Federação Espanhola. O estado de emergência foi agora prolongado e eles vão ter de voltar a adiar o campeonato - a fase regular terminava agora a 8 de maio. E não sei como é que vão fazer, mas vejo isto muito complicado para voltar a jogar basquete, na minha opinião. Porque mais importante do que o basquete são as vidas humanas e as pessoas que estão a sofrer neste momento.
ZZ: Além de manter a forma, como é que tens vivido estes tempos de quarentena?
Tenho tentado aproveitar a minha família, porque, como já disse, saí de casa com 15 anos e é bom estar na minha casa. Temos de ver o lado positivo das coisas e há muito para aproveitar com a minha família. Há tempo para estarmos sentados no sofá, para falarmos, para ler, para ouvir música, para despertar em mim uma parte criativa à qual não damos atenção quando estamos focados a treinar. Para mim as coisas mais essenciais da vida estão nesses prazeres básicos, que é a família, ter saúde e poderes desfrutar da tua casa.
ZZ: Regressando agora ao basquetebol, para terminar. Contigo acontece um fenómeno curioso que também se passa com outros atletas. Como surgiste tão novo, às vezes esquecemo-nos que ainda só tens 27 anos e que ainda tens um futuro longo pela frente. Quis são os teus planos para esse futuro?
Eu aprendi que fazer planos para a minha carreira não é o melhor. O melhor é desfrutar do momento, como já te disse. Eu foco-me realmente no presente e não sei como é que vai ser o meu futuro. Tenho algumas ideias em mente, mas não sei se para o ano vou jogar no estrangeiro ou não. Quero jogar basquete enquanto tenho prazer em jogar basquete. No dia em que eu deixar de ter prazer, seja daqui a dez anos, seja daqui a cinco, seja daqui aos anos que for, dedicar-me-ei a outra coisa que de certeza que vou gostar de fazer. Gosto de modo, de línguas, não sei se vou conseguir deixar o basquete também… Em termos de basquete, quero jogar sempre ao mais alto nível e juntando o melhor para a minha família e para a minha futura mulher.
Melhor jogador com quem já jogaste?
O Trent Meacham, o David Lighty, o Deshaun Thomas e o Nuno Marçal.
Adversário mais difícil de defender?
O Boby Dixon e o AJ Slotter.
Treinador que mais te marcou?
Tive vários. O Fernando Sá, o professor Abílio aqui de Ponte de Lima, o Sérgio Marante na formação do FC Porto, o Moncho López que me lançou no FC Porto, o Pascal Donnadieu no Nanterre…
Momento mais alto da carreira até ao momento?
Os minutos na EuroLiga, fazem tudo valer a pena.
Sítio onde mais gostaste de viver?
França, em Paris, sem dúvida.
Sítio onde gostaste menos de viver?
Talvez Berck, porque chovia muito e era muito ventoso e eu gosto de Sol.