Bruno Fernando é um dos vários atletas lusos a jogar fora de Portugal, mais precisamente em Espanha, ao serviço do Gandía. Formado no Algés, o jovem poste passou as últimas três temporadas no Esgueira, tendo rumado ao país vizinho no início da presente temporada.
O zerozero aproveitou a paragem nos campeonatos para falar com poste sobre a sua primeira aventura fora de portas e sobre o seu futuro. O inevitável tema do Coronavírus também fez parte da conversa, desde a forma como jovem tem lidado com toda esta situação a como viveu o início do surto em Espanha.
Zerozero: Antes de mais, é impossível fugir ao assunto que tem abalado o mundo inteiro, ainda por cima quando jogas num dos países mais afetados. Como é que viveste o início da pandemia em Espanha?
Começou tudo no início de março, na segunda semana, se não me engano. Era quarta-feira, estávamos a treinar normalmente e só sabíamos que os jogos iam ser à porta fechada. Era a única indicação que tínhamos. Não sabíamos mais nada, se íamos ter mais treinos ou não. O meu treinador disse que íamos ter uma confirmação mais tarde e enviou uma mensagem nessa noite a dizer que os treinos estavam adiados até sexta-feira. No dia a seguir, os jogos foram todos cancelados e foi assim que nós soubemos da notícia de que ia fechar tudo e íamos entrar em estado de emergência.
ZZ: Foi algo surpreendente ou já estavam à espera?
Na semana anterior havia casos, mas nada como está agora. Havia alguns casos em Valência - eu jogava lá perto -, mas era controlado. A partir dessa segunda semana já começaram a crescer os casos e a ficar mais perigoso.
ZZ: Alguém da estrutura (jogadores, staff, dirigentes) ficou afetado?
Não, ninguém ficou afetado. Na zona onde eu estava, até ao momento em que eu saí, ninguém estava infetado.
ZZ: Então já regressaste a Portugal?
Sim, sim.
ZZ: Regressaste logo?
Não, porque eles ainda estiveram a ver toda a situação, mas depois do Primeiro Ministro espanhol decretar a quarentena nacional, o clube achou melhor fazer regressar todos os jogadores estrangeiros. Todos os clubes de Espanha tomaram essa decisão.
ZZ: No período em que estiveste lá, achas que as pessoas estavam a seguir as ordens à risca ou nem por isso?
Por acaso, as pessoas cumpriam muito. Dois dias depois já ninguém saía à rua, só para ir ao supermercado ou à farmácia. Eu também só saí para ir até ao aeroporto e as pessoas estavam a cumprir, por isso não percebi como é que Espanha se tornou um dos países com mais casos. O sítio onde eu estava também era uma cidade pequena, mas eles fecharam logo os campos de basquetebol exteriores, fecharam tudo.
ZZ: E como é que tens vivido a quarentena?
Tenho treinado, feito exercício físico, estado com a família e…mais nada! Netflix [Risos] e não dá para fazer mais nada.
ZZ: E consegues manter a forma em casa?
Sim, dá para manter a forma em casa se souberes o que se está a treinar. Basicamente tens de alterar tudo o que fazes no ginásio. Se não tens pesos, usas malas cheias de roupa e toca a andar!
ZZ: Indo agora para o basquetebol, primeira experiência fora de Portugal depois de três épocas no Esgueira enquanto sénior, como é que surgiu a hipótese?
Surgiu através de um contacto com o meu agente. Ele entrou em contacto comigo, acreditou no meu potencial e eu também já queria sair de Portugal neste último ano em que tive no Esgueira. A partir daí foi encontrar uma solução e ele achou que eu em Espanha ia evoluir muito, porque, como todos sabemos, Espanha é a melhor escola de basquetebol na Europa, eu também achei interessante e a partir daí fomos trabalhando.
ZZ: A adaptação foi fácil?
Digamos que foi fácil e, ao mesmo tempo, também não foi. Isto porque eu estava a tentar perceber o jogo deles, que é bastante diferente do jogo português, é mais rápido e mais tático. Eu acabava os jogos quase todos da pré-época com quatro faltas porque estava habituado a um jogo mais físico, mas depois adaptei-me e a partir daí foi muito mais fácil.
ZZ: E a adaptação à cidade?
Também foi fácil. Gandía é quase igual a Aveiro em termos de número de pessoas. Tem mais, mas é uma cidade pequena, é uma província de Valência.
ZZ: Estavas com médias de 13,2 minutos por jogo, 4,9 pontos e 3,6 ressaltos, são números dentro do que esperavas?
Não, não foi aquilo que eu esperava, mas, ao mesmo tempo, estou feliz com aquilo que fiz. Aprendi muito, especialmente com o Shalawn Miller, que é um senhor dentro de campo incrível. Ele acabou a carreira agora, mas era o melhor jogador do campeonato. Apesar de ter 45 anos, parecia que tinha rejuvenescido 20, tinha uma presença incrível.
ZZ: O Gandía compete no quarto escalão espanhol, ainda assim, acredito que as condições sejam comparáveis a alguns clube da primeira liga nacional e mesmo ao nível de jogo, não?
Sim, alguns tinham. O nível de jogo é diferente, não quero estar a dizer se é melhor ou pior, porque é um estilo diferente.
ZZ: Ainda tens apenas 23 anos e um futuro longo pela frente. Quais são os teus planos e objetivos a curto-médio prazo?
Agora é passar a quarentena e começar a treinar. A partir daí é conversar com o meu agente e ver o futuro. Acho que não vai ser em Portugal, porque eu não quero continuar por cá, mas é ver as melhores opções das proposta que tenho e continuar a trabalhar.