O futebol parou por todo mundo devido ao surto de coronavírus e por todo o mundo há portugueses à espera de ultrapassar esta situação para voltarem a fazer o que mais gostam: jogar futebol.
Neste tempo em que o exigido é «ficar em casa», o zerozero foi conversar com vários portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo para perceber como tem sido este período sem futebol e como têm acompanhado toda esta situação, lá fora e em Portugal. Sempre à distância, claro.Da vizinha Espanha à longínqua Indonésia, o mote passa por ficar em casa e ler os relatos da rubrica: «O meu futebol em quarentena».
zerozero (ZZ): Como tens ocupado o teu dia durante a quarentena?
Bruno Pinheiro (BP): Basicamente, consigo fazer tudo o que fazia antes menos aquelas 2/3 horas de treino, uma vez que os recintos desportivos estão fechados. Mas substituo esse tempo pelo programa de treinos que o clube nos dá diariamente e que normalmente faço numa montanha que tenho mesmo aqui atrás de casa ou então em casa. Aqui a quarentena nunca foi imposta desde o aparecimento dos primeiros casos que remonta a meio de janeiro, então todos levam uma vida normal como antes, apenas com máscaras [risos].
ZZ: Com a competição parada, como tem sido o trabalho no clube e quando pensam retomar a competição?
BP: As indicações por parte do clube e da federação previam uma paragem de duas semanas, as quais acabam precisamente neste domingo. Portanto, segunda-feira está planeado o regresso aos treinos normais, com jogos já marcados para o próximo fim de semana.
ZZ: Que conselhos deixas para quem está a passar um período de quarentena mais restrito?
BP: Eu tenho aproveitado estes meus últimos anos na Ásia para criar novos hábitos, novas rotinas que me façam estar mais presente no agora. Em focar-me mais no que posso controlar, o que fez com que os meus níveis de ansiedade, stress, etc, melhorassem. Aconselho as pessoas a aproveitarem este tempo de incerteza, stress e ansiedade para se descobrirem e melhorarem aquilo que acham que podem melhorar. Não ficar apenas focado em algo que não podemos controlar como o Covid-19. E podem fazê-lo ao ler livros, ouvir podcasts, assistir documentários, meditação, etc.
ZZ: Houve algum tipo de comportamento que sintas que tenha mudado nas pessoas daí depois desta situação?
BP: Eu cheguei a Hong Kong praticamente ao mesmo tempo que surgiram os primeiros casos de Covid-19, então não consigo diferenciar o comportamento das pessoas, mas acho que aqui já estão mais ou menos preparadas para situações como esta. Tiveram recentemente o vírus SARS, em 2002, e o vírus MERS, em 2012, e então já sabem quais as precauções e os procedimentos que devem ser tomados.
ZZ: Como tens acompanhado a situação em Portugal?
BP: Só estou a par das notícias desportivas em Portugal e o único feedback que tenho é de família e amigos que estão em Portugal. Parece-me que o Governo e a maior parte dos portugueses estão a conseguir adaptar-se bem a esta nova realidade.
ZZ: Como foi a evolução da situação em Hong Kong? Quanto tempo demorou para que tudo voltasse 'quase' ao normal?
BP: Aqui começaram por fechar as fronteiras com a China e a população foi alertada para usar as medidas de higiene necessárias, o que foi cumprido escrupulosamente, então o contágio foi controlado com alguma eficácia. Inclusive, eu tive vários jogos para as taças e também já tínhamos começado a segunda volta do campeonato ainda há 15 dias. Entretanto o vírus começou a espalhar-se pela Europa e pelo resto do Mundo e as pessoas começaram a 'fugir' para Hong Kong, o que originou agora outro pico e fez com que o Governo parasse a liga. Desde o primeiro caso em janeiro Hong Kong, há registo de 800 casos, quatro óbitos e oito casos em estado crítico.
ZZ: Em que medida esta paragem de campeonato pode afetar jogadores/clubes?
BP: Aqui os clubes são todos sustentados por investimentos privados e as receitas originadas pelos bilhetes, televisões, patrocínios, etc. Não creio que faça uma grande diferença no orçamento das equipas. Corre o rumor que muitos dos clubes pretendem até cancelar a liga para não pôr em risco qualquer funcionário do clube ou da federação e recomeçar a liga em setembro caso estejam todas as condições reunidas. Mas para já as indicações são de voltar aos treinos já nesta segunda feira e voltar a competir no fim de semana seguinte.
ZZ: Que mensagem podes deixar aqueles que estão agora um pouco mais privados da liberdade, que não conseguem ter ainda uma vida normal?
BP: Façamos tudo aquilo que estiver ao nosso controlo para nos protegermos e às nossas famílias, assim também estaremos a proteger todos os outros e mais rapidamente poderemos voltar à nossa vida normal. Vamos aproveitar também este tempo em casa para nos protegermos também de informação e hábitos que não nos agregam nenhum valor e substituir por rotinas que nos façam evoluir nos nossos relacionamentos, nas nossas profissões, no nosso bem-estar, para sairmos mais fortes deste período.