Da loiça ao futebol: esta é a história do Vista Alegre, uma fábrica de vitórias em casa

*com Tiago Bebiano

Vivem-se momentos de grande expectativa e ansiedade em Ílhavo. O motivo prende-se com o clube que ostenta o nome da mais famosa marca de porcelana do mundo. Vista Alegre, isso mesmo. É muita a alegria que tem acompanhado a equipa de Aveiro na presente temporada. Mergulhados na AF Aveiro (1ª Divisão), o talé tem feito as delícias dos fieis adeptos que picam o ponto aos fins-de-semana. Joga-se bom futebol, o primeiro lugar está à distância de três pontos e este domingo há um duelo quentinho com o grande rival, SC Fermentelos.

Dias antes desse autêntico duelo de titãs, o zerozero foi até ao quartel-general do Vista Alegre para falar com o presidente, António Lourenço. Venha daí, porque há muito para contar...

A parceria da fábrica com o futebol

A fábrica, fundada em 1824 por José Ferreira Pinto Basto, registou-se como clube federado apenas em 1952. Inicialmente um bairro operário autossuficiente, para além de condições de habitação, dotou o mesmo com equipamentos sociais, culturais, creche, teatro ou bombeiros. Atualmente, é um clube de empresa, como Bayer Leverkusen ou Wolfsburg. Foi na família Pinto Basto que surgiu a introdução do futebol em Portugal, quando os bisnetos do fundador da fábrica da Vista Alegre - Guilherme, Eduardo e Frederico - introduziram a prática do desporto no país.

Fábrica da Vista Alegre ©Getty / Horacio Villalobos

«Era política dos fundadores da empresa promover a atividade cultural e desportiva. Da parte cultural, tinha o teatro, que já é do tempo da fundação, assim como o coro, uma banda, creche, uma série de atividades que existia tudo dentro da empresa. Quando o Vista Alegre decide passar a competir federado, registou-se o estatuto do clube a 1 de março de 1952. A ligação à empresa é absoluta, ou seja, as principais funções dentro da direção [Presidente, Vice-Presidente e Tesoureiro] têm que ser funcionários da empresa», assinalou.

Ambições a curto e médio prazo

Esta época, que marca o regresso à primeira divisão distrital após o décimo sexto lugar que causou a despromoção do campeonato elite na temporada passada, os talé competem pelo título e o jogo frente ao Fermentelos pode ser crucial na conquista do mesmo. Com apenas três pontos de desvantagem, a vitória garante a passagem para primeiro devido à diferença de golos sofridos e marcados. Posto isto, o presidente quer que os jogadores entrem em campo com mentalidade de vitória.

«Foi um choque para mim, que vim do mundo do basquetebol [enquanto atleta] e não estava por dentro do mundo do futebol. Os valores que transmite chocam-me muitas vezes quando comparo com os valores que me foram transmitidos no desporto. O futebol é um mundo diferente, não é ético», revelou.

Fermentelos no horizonte... e o futuro

Esta temporada, o Vista Alegre é o melhor ataque do campeonato (57 golos marcados) e, a par com o SC Fermentelos, é a melhor defesa também, com apenas 14 golos sofridos. Este domingo, a equipa orientada por Rui Valente entra em campo frente ao líder da divisão I. Com uma desvantagem de apenas três pontos, o Vista Alegre tem a oportunidade de subir à primeira posição case ganhe aos pimpões da pateira. Quando questionado sobre a força defensiva e ofensiva do plantel esta época, António Lourenço destaca que «a equipa foi construída numa base de manutenção no campeonato de elite e é um objetivo claro a subida de divisão. Temos uma forte aposta na formação, não existe séniores sem formação nem formação sem séniores

Presidente do Vista Alegre no campo do clube ©Tiago Bebiano

«O projecto é estabilizar na divisão de elite e mantermos-nos lá. A curto/médio prazo não há outra ambição superior porque obriga a outros voos que nós claramente não estamos aptos. É impossível sustentar um clube todo na formação, mas a espinha dorsal está lá, é preciso alimentar mais isso. O nível competitivo na divisão elite é muito elevado, embora tenha baixado um bocadinho esta época, no ano passado era muito elevado. A formação dos  treinadores começa a ser outra e o futebol começa a ser profissional cada vez mais cedo», finalizou.